Num cenário marcado pela superprodução e pelo individualismo, o ambiente de trabalho se mostra cada vez mais um lugar nocivo à saúde

Por Maria Cecília Gradin Itokagi

Foto: Maria do Carmo de Sá Borges

O apresentador Yudi Tamashiro, de 30 anos, hospitalizado às pressas no dia 23 de maio, foi diagnosticado com Síndrome de Burnout. Excesso de competitividade nas atividades laborais e a positividade tóxica ligada a uma falsa ideia de liberdade fazem com que com o conceito de alcançar objetivos demande o intenso desempenho de si mesmo e a constante autocobrança.

Dessa forma, pessoas se submetem a uma rotina exaustiva composta por multitarefas e longas horas de trabalho e, quando não supridas as altas expectativas, há uma sensação de frustração e impotência, podendo desencadear a doença.

Síndrome de Burnout, também conhecida como esgotamento profissional, é um distúrbio psíquico reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença ocupacional. Ela é caracterizada pelo esgotamento físico e/ou psíquico decorrente das condições desgastantes de trabalho subsequente de um estresse intenso e crônico.

De acordo com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), a doença atinge cerca de trinta por cento dos trabalhadores brasileiros.

Para Maria do Carmo de Sá Borges, psicóloga clínica junguiana formada pela Unesp Bauru, as principais causas da doença mental são “quando o indivíduo atua em ambientes que requerem muita responsabilidade ou em que ocorre excesso de competitividade”.

“Perde suas forças físicas e emocionais por conta de uma rotina de trabalho que esgota sua energia, reduz a realização pessoal na área de atuação, despersonaliza sua capacidade profissional e o faz viver em constante pressão”, disse.

É indubitável o fato de que o aumento de casos de Síndrome de Burnout está intimamente ligado ao cenário contemporâneo, contribuindo para o surgimento da doença. Segundo a psicóloga, em um ambiente global cada vez mais virtual, em que nas redes sociais há uma ilusão de realidade e de perfeição, os indivíduos são vítimas, muitas vezes fatais, de um sistema marcado pela cobrança de desempenho. “Eles pensam ser polivalentes, hábeis em antecipar problemas e mudanças, o seu grau de exigência é grande e faz com que aumente ansiedade e sintomas físicos”, complementa.

Os sintomas da doença podem se manifestar física e psicologicamente. De acordo com a especialista, os principais sinais psíquicos são irritabilidade, desânimo, tristeza, angústia, ansiedade, insônia, alteração de apetite, pensamentos suicidas, esgotamento mental, sensação de incapacidade ou inferioridade, autoestima rebaixada, entre outros. Já os físicos incluem palpitações, transpiração constante, enxaqueca, problemas gastrointestinais, pressão alta, dores musculares, queda da imunidade, desencadeando facilmente gripes, faltas de ar, alergias e quedas de cabelo.

Após o aparecimento dos sintomas, é necessário que o indivíduo busque o quanto antes ajuda médica para a confirmação do diagnóstico. Maria do Carmo ainda alerta que “não significa que apenas um fator não possa desencadear consequências físicas e emocionais graves, uma vez que a intensidade pode fazer com que a mente reaja às adversidades de maneira prejudicial”.

Para a psicóloga, o tratamento ideal é constituído por psicoterapias, medicação para a redução dos sintomas, podendo ser tanto antidepressivos como ansiolíticos, meditação, atividade física, boas noites de sono juntamente com uma alimentação adequada e saudável. Dessa forma, o paciente alcançará o bem-estar físico e mental.

E caso o indivíduo diagnosticado com a síndrome negligencie sua condição ou não seja tratada corretamente, o mesmo pode desencadear outras doenças. “Pode-se desenvolver doenças psicossomáticas, podendo evoluir para uma depressão crônica, síndrome do pânico, colites, doenças de pele, entre outros”, afirma Borges.

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