A opinião do público sobre as polêmicas envolvendo os casais que fogem da heteronormatividade na novela das 19h da Globo

Por Letícia Rosa

Apesar do sucesso notório, a novela “Vai na fé”, de Rosane Svartman, exibida na TV Globo, vem gerando debates e protestos entre seus espectadores ao esconder, por diversas vezes, demonstrações de afeto entre as personagens LGBTQIAPN+ da trama. Em resumos do roteiro original divulgados pelo próprio portal de notícias da Rede Globo, Gshow, o casal formado por Clara (Regiane Alves) e Helena (Priscila Sztejnman) deveria ter tido seu primeiro beijo exibido muito antes do que realmente aconteceu.

Na expectativa da cena romântica entre o casal apelidado de “Clarena”, os usuários do Twitter que acompanham a novela ficaram decepcionados e demonstraram sua revolta levando a tag “QUEREMOS BEIJO CLARENA” aos assuntos do momento na rede social, chamando inclusive a emissora de homofóbica e a acusando de censura.

“Eu tenho certeza que foi censura. Qual a necessidade de tirar a cena de beijo sendo que todo casal beija? Vai incomodar quem? Será que vai incomodar os homofóbicos? Problema dos homofóbicos!”, disse uma entrevistada fã da novela.

Vale lembrar que Clara e Helena não foram as únicas personagens de Vai na fé a terem cenas como essa cortadas. O casal formado por Yuri (Jean Paulo Campos) e Vini (Guthierry Sotero) também teve cenas de afeto vetadas pela edição da novela.

Outra entrevistada, que se identifica como lésbica, comentou sobre a relevância de ver pessoas como ela nas telas. “A importância em estar representada nesse espaço é porque a normalidade e o acesso muitas vezes a uma sociedade mais igualitária vem a partir da construção de um pensamento popular e uma TV aberta é um lugar que alcança a população”. A mesma ainda afirma que esperava que houvesse um avanço quanto ao espaço da comunidade no entretenimento, mas que assim como em outros aspectos do país, desde 2018 o que se viu acontecendo foi um retrocesso.

Algo que também foi observado por quem acompanha a novela é que o tempo de tela e a maneira como os personagens LGBTQIAPN+ são retratados é diferente se comparado aos personagens héteros de mesma relevância. Muitas vezes essas pessoas somem da trama por um tempo, chegando a nem aparecer em muitos capítulos.

“Apesar do avanço no sentido dos casais de ‘Vai Na Fé’ não serem tão estereotipados em relação a outras novelas, infelizmente eles são deixados muito de escanteio e não tem a mesma química dos casais heterossexuais que tem cenas muito mais ‘quentes’ e românticas de verdade, às vezes os casais parecem mais amigos que casais”, diz outro espectador, que afirma fazer parte da comunidade LGBTQIAPN+.

No dia 21 de junho, finalmente, a tão esperada cena do beijo de “Clarena” foi ao ar, levando novamente a novela a ser um dos assuntos mais comentados nas redes sociais e alegrando os fãs conquistados pelo casal.

Além dos fãs, as atrizes presentes na cena, que já haviam inclusive alfinetado os vetos da emissora com posts irônicos, também manifestaram a sua felicidade com a cena celebrando o acontecimento via twitter.

No entanto, entre tantas as comemorações, a opinião mais constante é que apesar da felicidade de finalmente se identificar com o que vê na tela, é triste que o espectador queer tenha que se contentar com tão pouca representação na mídia.

Ter casais que fogem do padrão estabelecido pela sociedade em uma novela das 19h pode parecer um grande passo, e em certa perspectiva realmente é, principalmente se levarmos em conta que o roteiro foge de estereótipos e clichês que aterrorizam a comunidade. Mas isso ainda não é suficiente, quem se encaixa na sigla LGBTQIAPN+ pede por uma representatividade verdadeira e pelo tratamento de igualdade que é tão discutido no mês do orgulho, mas parece sumir das pautas da grande mídia durante o resto do ano.

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