Na correria frenética da vida moderna, muitas vezes nos pegamos imersos em uma profunda saudade daquilo que perdemos

Por Lucas Amaral

Casal contempla seu passado ao olhar por um calendário. (Reprodução Ingram Pinn/ Financial Times)

A nostalgia é um sentimento poderoso que nos transporta para um tempo distante, revivendo memórias e emoções que já não fazem parte do presente. É como se uma janela para o passado se abrisse diante de nós, e somos tomados por uma mistura de melancolia e carinho pelas lembranças que povoam nossas mentes.

Os gregos tratavam esse sentimento, nostalgia, como o estado característico daqueles que realizavam longas viagens e se viam tomados pela lembrança do que estava distante, que deixaram para trás. Anos atrás li sobre a ironia de querer que algo fique para sempre, quando nós mesmos nascemos de um parto, fomos então, involuntariamente programados a lidar com perdas, mas não parecemos nos conformar com elas. Quando confrontados, não olhar para o passado com saudade do que se vive é uma tarefa impossível? E quando esse sentimento se torna um problema?

A nostalgia pode se tornar uma armadilha quando nos prendemos em um ciclo vicioso de idealização do passado, impedindo nosso crescimento e desenvolvimento pessoal. Ao nos apegarmos excessivamente àquilo que já se foi, corremos o risco de deixar de viver plenamente o presente e de nos afastar das oportunidades que a vida nos reserva.

Viver constantemente no passado pode nos aprisionar em uma idealização que muitas vezes não corresponde à realidade. É importante lembrar que a nostalgia, por mais agradável que seja, é uma representação seletiva do passado. Ela tende a destacar os momentos positivos e esquecer as dificuldades e desafios que também fizeram parte daquele período. Dessa forma, podemos distorcer nossa visão da realidade e deixar de apreciar as oportunidades e os aprendizados que o presente nos oferece.

A cultura atual, por sua vez, tem explorado a nostalgia como uma forma de entretenimento e consumo. Remakes de filmes e séries, reedições de álbuns musicais e relançamentos de produtos retrô são exemplos de como a indústria se aproveita desse sentimento para atrair o público.

Para Lea Secchi, estudante de jornalismo de dezenove anos, a nostalgia vai além das simples lembranças, está ligada às sensações e emoções que vivenciamos no passado. Muitas vezes, é possível ser transportado imediatamente para aquele momento através de estímulos como cheiros e gostos específicos.

Ela compartilha uma experiência pessoal relacionada à comida de infância, “Quando eu penso em comida de infância, lembro de um sorvete que era vendido no SESC na minha cidade e até hoje nunca comi nada igual, quando penso em infância sou sempre transportada a essa memória”.

No entanto, a estudante também expressa que, para ela, embora sinta a saudade do passado, ela tem uma visão otimista em relação ao futuro e não se deixa limitar pelo sentimento. “Eu acredito que o dia mais feliz da nossa vida é o amanhã”.

Apesar de gerações completamente diferentes, Magnólia Donizetti, de 68 anos, compartilha de uma relação muito semelhante com esse tema. Quando questionada sobre a memória específica que a leva direto pro passado, ela também recorre a infância. “Quando eu era mais jovem costumava viajar o Brasil a fora, pegava minha mochila nas costas e ia viajar adentrando esse país, até mesmo sem meus pais saberem, coisas que hoje não posso fazer mais”, lembra ela, que hoje não apenas possui mais responsabilidade, mas porque os “tempos são outros”.

Assim como Léa, para a avó de sete netos, a nostalgia não a limita, pelo contrário, revisitar o passado lhe dá gás para construir o presente: “Eu ainda tenho sonhos, eles não morreram em mim. Tenho perspectivas positivas sobre o futuro, claro, estou viva ainda. Não costumo pensar no negativo, coisas boas virão para mim e acredito que ainda há tempo, enquanto temos sonhos, temos vontade de viver’’.

Portanto, ao olhar para trás e reviver momentos nostálgicos, podemos encontrar um equilíbrio saudável entre a lembrança e a vivência do presente. Afinal, é no agora que escrevemos nossa história, e é nele que podemos construir um futuro repleto de novas memórias e realizações.

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