Comportamento de Abel Ferreira segue sendo o principal tema de matérias esportivas
Por Beatriz Mezavila
Em novembro de 2020, Abel Fernando Moreira Ferreira chegou ao Brasil para comandar o Palmeiras. Por ser um técnico novo, pois havia dirigido apenas dois clubes anteriormente, e sem títulos, não tinha muita credibilidade. Após dois anos e sete meses no Palmeiras, Abel conquistou 8 títulos e já deixou a sua marca no clube. Contudo, segundo a imprensa, o seu polêmico comportamento à beira dos gramados deixa a desejar, e esse vem sendo o principal tema das mídias esportivas e dos torcedores.
Hugo Cazeri, mais conhecido como Hugo Corintiano, youtuber e comentarista de futebol com mais de 75 mil inscritos no YouTube e mais de 16 mil seguidores no Instagram, não acredita que o comportamento de Abel Ferreira possa afetar o desenvolvimento dos atletas do Palmeiras. “Eu acho que o Abel joga junto com o time do Palmeiras, ele vive o jogo muito mais que outros treinadores aí no Brasil. O comportamento do Abel na beira do campo não é nocivo ao time do Palmeiras, é nocivo a partir do momento que ele leva muitos amarelos e acaba consequentemente desfalcando o Palmeiras em alguns jogos. Mas dentro de campo é assim que um treinador deve se portar, deve jogar a partida junto com a equipe, não deve ficar calado jamais e esse é o comportamento dele, é a essência dele, não tem como muda”, afirma.
Para o entrevistado, o técnico entra em campo marcado pela arbitragem, assim como outros jogadores brasileiros. Sendo assim, qualquer comportamento fora das normalidades ele será advertido de alguma maneira. “O que acontece é que o Abel já entra com um alvo nas costas dentro de campo, e isso não é nem eu que estou dizendo, isso aí foram árbitros de futebol que disserem durante uma resenha e alguns podcasts, que o Abel já entra marcado”.
Ele explica ainda que “assim como um jogador igual ao Felipe Melo, que tem um comportamento mais agressivo dentro da partida e fala muito com a arbitragem, também já entra marcado. É a mesma coisa o Abel Ferreira, então qualquer comportamento que vá a parte do que a arbitragem considera normal eles estão punindo o Abel. Ontem (25 de junho) o técnico do Botafogo chutou as garrafas d’água e ninguém falou nada hoje, mas se fosse o Abel Ferreira a câmera já teria filmado, já teria um burburinho da imprensa em cima do comportamento do Abel. Ele hoje é evidência, porque é o maior treinador da América do Sul e um dos melhores do mundo, por isso tem essa pressão”.
Hugo considera que isso é um sintoma da xenofobia enraizada em parte dos brasileiros. “Além de não ser brasileiro, também existe toda essa questão do preconceito. Eu acho que é um pouco de exagero em cima do Abel Ferreira”. Ele completa: “por uma pequena parte da imprensa, tem sim um sintoma de xenofobia. Pessoas que não aceitam, por exemplo, times grandes de futebol estarem entregando seus cargos à portugueses, argentinos, pessoas que não nasceram no Brasil. O próprio caso da seleção brasileira que está prestes a entregar o cargo para um italiano, o que nunca aconteceu na seleção brasileira. Então tem sim, uma parte de xenofobia, de preconceito, pela questão dele não ser brasileiro, por uma pequena parte, mas tem sim”, diz.
Hugo acredita que se o português comandasse algum outro clube brasileiro ou até mesmo europeu, não receberia tantas críticas a partir da mídia quanto vem recebendo no clube alviverde. “O problema é o que ele conquistou e o que ele vem conquistando pelo Palmeiras, essa é a relevância do Abel Ferreira. Ele treinava o time da Grécia, treinou uma equipe em Portugal e depois veio para o Palmeiras. Conquistou oito títulos pelo Palmeiras, é muita coisa e isso incomoda parte da mídia e a CBF, incomoda muita gente. Porque tem os queridinhos da imprensa e da CBF, e o Palmeiras não é um deles. Um exemplo, é se o Abel estivesse no Flamengo ou até mesmo no Corinthians, o tratamento seria diferente, pode ter certeza”, afirma.
Cazeri diz enxergar um tratamento diferenciado a partir da arbitragem brasileira com outros treinadores. “Ele é uma evidência, tem um alvo nas costas. Mas se você pega o Mano Menezes, o Fernando Diniz, ontem (26) o Luís Castro, você também pode voltar lá atrás com Emerson Leão, Vanderlei Luxemburgo, então tem toda essa questão do Palmeiras estar conquistando tudo e as outras equipes não. Se torna mais evidente, portanto, o ciúme da mídia de tudo o que envolve futebol e caí tudo nas costas de Abel Ferreira”.
O corintiano conclui dizendo que deve haver uma separação do pessoal para o profissional e que o seu comportamento não entra em contradição às exigências, feitas por Abel, em relação ao calendário brasileiro e a mídia brasileira.
“Eu acho que o comportamento dentro de campo não tem relação com comportamento fora de campo. O Abel Ferreira treinador do Palmeiras dentro de campo é uma pessoa, o Abel Ferreira pessoa física, fora do Palmeiras é uma outra pessoa. Eu acho que quando ele critica o futebol brasileiro ele não está errado, o futebol brasileiro precisa rever seu calendário, precisa mudar muita coisa”.
O comentarista diz que é preciso relativizar o comportamento do técnico. “Não pode querer pegar o comportamento dele dentro de campo, porque se coloca na pele do cara, você dentro do estádio, 40 mil pessoas, pressão por resultados, números e títulos, como que aquela pessoa vai ficar calada no banco de reservas. Cada ser humano reage de um jeito e a essência dele é ser assim, não porque ele é assim que ele é uma má pessoa, mal-educado ou arrogante como passa a imprensa, é o jeito da pessoa”.
Cazeri explica que os treinadores são assim: “tem treinadores tipo o Abel Ferreira, Mano Menezes, Fernando Diniz mais explosivos, e tem treinadores que são mais quietos como o Fernando Lázaro, que não abre a boca para falar nada. Eu prefiro um Abel Ferreira desse jeito a um Fernando Lázaro, não comparando a capacidade de cada um, mas em termos de comportamento, você faz o time jogar e joga com o time. Tem o risco do cartão? Claro que tem, mas eu sou muito mais o Abel Ferreira sendo assim. Então, eu não acho que ele cai em contradição”, finaliza Hugo.
Jornal Contexto 