Com o surgimento da sociedade em rede, emerge também um mantra que define as relações desse novo mundo, onde tudo é mais rápido e prático. Mas até que ponto essa promessa de rapidez é benéfica para a sociedade?
Por Isabela Sanches

Com a virada do milênio e com o avanço da Internet, novas plataformas começaram a surgir. Desde o lançamento do ‘Friendster’, em 2002 – a primeira plataforma intitulada como rede social – até a consolidação do ‘Tik Tok’, em 2020, a premissa das redes sociais se manteve a mesma: quebrar as barreiras da comunicação e deixar tudo mais prático.
Junto com o ‘Facebook’, outras plataformas fizeram sucesso e conseguiram se estabelecer na indústria tecnológica. As principais são o ‘Twitter’, o ‘Instagram’ e o ‘Whatsapp’. No entanto, um aplicativo mais recente no mercado tem mudado este cenário, ultrapassando barreiras antes intocáveis.
Com o início da pandemia, o ‘Tik Tok’, uma plataforma de vídeos rápidos, viralizou na Internet – especialmente entre o público mais jovem. Usado como uma forma de distração durante o período de isolamento, seus áudios divertidos e vídeos curtos atraíram milhares de pessoas para o aplicativo. Porém, as consequências dessa adesão em massa para a convivência em sociedade não são tão positivas quanto se imagina.
O consumo excessivo de telas e informações, tanto no ‘Tik Tok’ quanto em outras ferramentas, vêm alterando os sentidos e sensações de toda uma geração.
Em um curto período de tempo surgem no feed diversos vídeos sobre os mais variados assuntos: de um animal fofinho, uma história triste sobre câncer, acontecimentos importantes na política etc. Após um dado momento, os sentimentos começam a se misturar: você pode até sofrer pelo vídeo triste sobre câncer, ou se importar sobre o acontecimento político, mas no minuto em que o vídeo some e outro chega, o sentimento e as histórias são esquecidos, descartados como se fossem irrelevantes.
Tudo se torna efêmero e a empatia, momentânea. A busca por um novo vídeo e por uma nova distração é uma das causas para a inquietação que preocupa o mundo virtual e permeia o mundo real.
Para o professor de Filosofia da FAAC/Unesp, Eli Vagner Rodrigues, sua área de atuação já vem sofrendo com as consequências desse novo fenômeno. “Essas plataformas que condicionam a acuidade humana a uma instantaneidade, já estão provocando algumas mudanças no universo da educação. Eu acho que cada vez mais vai ser mais difícil a transmissão do conhecimento abstrato, complexo e científico”, diz.

Com a volta às aulas presenciais, se tem notado uma dificuldade dos alunos em manter a atenção por um longo período de tempo, pois a distração vem rapidamente quando o conteúdo da aula é mais lento ou complexo. Essa ansiedade é uma das características presentes nesse novo tempo, em que tudo é transitório.
Além disso, a instantaneidade deste mundo em rede traz consigo uma premissa de que a informação é facilmente disseminada e propagada. Porém, em uma sociedade em que tudo ocupa tudo, as publicações competem umas com as outras pela atenção dos usuários, e se são dignas de serem vistas, recebem uma olhada rápida, no máximo um compartilhamento no ‘Instagram’.
Segundo Eli, essa tendência possui um aspecto massificante, uma vez que há “muito consumo da informação, muita rapidez e muita instantaneidade. Isso nos afasta de um ambiente reflexivo e, de alguma forma, acaba descaracterizando o trabalho da Filosofia e da própria ciência”.
É inegável que houve uma melhora na comunicação com as redes sociais. Porém, em um mundo onde tudo é efêmero e rápido, cabe a nós voltarmos para um lugar de contemplação, em que possamos refletir os impactos das novas tecnologias e pensar em soluções reais para esse fenômeno.
