Em contexto de manifestações contra a tecnologia, decisão foi feita enquanto acontece greve de roteiristas em Hollywood

Depois de se afastar por anos, Nick Fury retorna à Terra (Foto: Marvel Studios)

Por Davi Marcelgo

Na semana passada, quarta-feira (21), estreou o primeiro episódio de ‘Invasão Secreta’, nova série da Marvel. Surpreendendo o público, que nas redes sociais recepcionou de forma mista, a produção revelou sua abertura feita através de Inteligência Artificial (IA). Em meio da explosão acerca da nova tecnologia, a repercussão vai além da introdução de um show de tv.

A chegada da série embarca num período de discussões presentes não só no cinema, mas também no jornalismo, fotografia, sites e todos meios de comunicação com mão de obra criativa. No entanto, para a Marvel Studios, o uso da ferramenta tem justificativa.

O diretor Ali Selim declarou que o uso da tecnologia foi inspirado no mundo dos Skrulls e na mudança de forma da raça. “Quem fez isto? Quem ele é?”, disse em entrevista. No universo Marvel, os alienígenas Skrull é uma espécie metamorfa, ou seja, eles conseguem assumir a identidade de qualquer pessoa apenas trocando de pele. O conceito da abertura seria o de causar esse efeito de dúvida sobre o que é real e o que está se passando por verdadeiro.

Fury e Talos se reencontram (Foto: Marvel Studios)

Para Bruno Ferrante, designer gráfico e ilustrador no estúdio Black Madre, a afirmação é rasa. “Nenhum dos elementos estranhos e desconfortáveis que você vê na abertura da série são intencionais de fato, pois são todos produto de um programa em desenvolvimento: a IA. O que vemos na abertura de Invasão Secreta não é uma representação artística de medo, insegurança e desconfiança que emula o sentimento dos personagens na série, e sim a visão artificial de uma máquina sobre uma sequência de palavras jogadas em um programa”.

A Method Studios, empresa de VFX (efeitos visuais), declarou ao The Hollywood Reporter que “a IA é apenas uma ferramenta entre a variedade de conjuntos de ferramentas que nossos artistas usaram. Nenhum trabalho de artista foi substituído pela incorporação dessas novas ferramentas; em vez disso, elas complementaram e ajudaram nossas equipes criativas”. A companhia já havia trabalhado com a Marvel em outros projetos, como ‘Thor: Amor e Trovão’ (2022) e ‘Shang-Chi e a lenda dos dez anéis’ (2021) e também em outras séries para o Disney+.

“Eles não discriminam quais programas de IA foram usados, eles não explicam o processo que estes artistas tiveram, nem de forma superficial; pelo contrário, eles apenas dizem que ‘envolveu diversos artistas e diretores de arte talentosos’, fala Ferrante sobre a declaração da Method.

A polêmica envolvendo a decisão do estúdio ganha força com a greve dos roteiristas que está acontecendo desde 2 de maio de 2023 em Hollywood. A WGA (Sindicato de roteiristas da América) luta por aumento de salários enquanto tenta negociar um acordo para os trabalhadores receberem parte dos lucros gerados pelas transmissões de streaming, assim como nas reprises das produções e pedem por regulamentação do uso de IA.

O desenhista complementa que a IA “tem sido vendida como um facilitador para o artista, quando na verdade é um facilitador apenas para a empresa que a usa” e que utilizar ela para fazer roteiros “resulta em salários menores para uma profissão (roteirista) que já não é exatamente recompensada de forma justa ou devidamente reconhecida.” De acordo com ele, a tecnologia está num estado atual incapaz de escrever um texto completo e coerente, precisando de um roteirista para refinar a base gerada pelo programa e não mais para redigir uma obra.

Ele finaliza apoiando a greve que ocorre nos EUA. “Acredito que o caminho seja permanecer sendo vocal sobre a insatisfação com a forma que a IA está sendo desenvolvida, recorrendo a greves e manifestações se necessário for”. E acrescenta: “durante toda essa situação, um argumento recorrente que escuto é sobre como ‘é inevitável, aceite e adapte-se ou fique para trás’. Esse argumento é conformista ao extremo e parte do pressuposto de que a tecnologia está fora do nosso controle, sendo que nós a criamos. Não é um furacão, um terremoto, algo natural. Temos o controle para corrigir isso, e por mais que a I.A. não vá embora tão cedo, temos a chance de fazer com que ela opere de forma ética e consciente dentro das diferentes áreas”.

Gravik é o líder dos Skrulls (Foto: Marvel Studios)

Na trama, Nick Fury (Samuel L. Jackson) descobre uma invasão de Skrulls na Terra. Se infiltrando na sociedade e nos principais órgãos governamentais, os vilões têm um plano de dominar o planeta. Para salvar a humanidade, o velho diretor da Shield precisa reencontrar velhos companheiros antes que seja tarde demais.

Além de Samuel L. Jackson, o elenco é formado por Olivia Colman, Emilia Clarke, Kingsley Ben-Adir e Ben Mendelsohn. Com episódio novo às quartas-feiras, a série está disponível no Disney+.

Deixe um comentário