Em uma área difícil de se destacar, cantores e celebridades da internet conseguem um atalho, passando por cima de quem se preparou para isso a vida toda 

Por Mariana Capibaribe

Foi lançado no último domingo (25), o quarto episódio da nova série da HBO, “The Idol”. O streaming contou com o cantor The Weekend como personagem principal, levantando diversas críticas sobre sua atuação.

Houve opiniões polêmicas sobre alguns aspectos delicados que são tratados na narrativa, mas os posicionamentos que mais se destacaram foram sobre a atuação sem envolvimento do artista.

Não é raro ver celebridades estrelando as telinhas, e a discussão leva sempre ao mesmo lugar: tirar a oportunidade de quem dedica uma vida aos estudos de teatro e batalha por papéis.

Bruna Perreli é estudante de teatro na Escola de Atores Wolf Maya em São Paulo e comenta que “desanima muito ver celebridades que não tem preparo nenhum estarem recebendo papéis que pessoas que se desdobram para estudar, pesquisar e tentar viver disso estão ali batalhando e não conseguem”.

O mundo do cinema nunca foi fácil de percorrer, e desde sempre existiu certa resistência a aceitar que ser ator é uma carreira digna e séria como qualquer outra. Dessa forma, exige muita coragem seguir o sonho de atuar, pois além desse preconceito, o fato desse mercado ser movido pelo dinheiro também é uma barreira significativa.

Em busca de maior audiência, os diretores costumam contratar artistas já consolidados para os papéis principais. Entretanto, acaba-se perdendo a garantia da qualidade da atuação e da obra cinematográfica de modo geral. Acaba acontecendo uma troca de valores. “Colocar uma pessoa pela quantidade e não pela qualidade”, desabafa Bruna.

Sendo assim, nem sempre essa lógica é válida, tendo em vista que “as pessoas podem até assistir, mas não vão ter críticas boas”, comenta. A escolha por determinado elenco é arriscada, já que se a interpretação não for boa, dificilmente a obra será considerada de qualidade pela crítica.

Essa situação pode ter muito mais profundidade se for analisada a pouca relevância da arte produzida no Brasil. Bruna acredita que se houvesse uma escolha justa de atores, o cinema nacional teria muito mais reconhecimento e qualidade.

Certamente esse problema não se deve a falta de atores bem formados no país. Na realidade, o volume de atores que se formam aumenta a cada ano, o que não aumenta são as oportunidades.

Mesmo sendo contra a escolha de celebridades para estrelar filmes e séries, Bruna diz que arte é educação e cultura, e por isso todos devem ter a chance de fazer. “Entro em um paradoxo constantemente, porque mesmo acreditando nessa democratização, acho que é preciso ter certa preparação profissional”, declara.

É evidente que a prioridade com famosos nas telas é desanimador para quem sonha em trabalhar com isso e corre atrás. Entretanto, quem tem essa vontade não costuma desistir tão facilmente, a paixão quase sempre fala mais alto. “Ver o sorriso na cara de alguém quando você faz arte, isso salva. Não só quem está fazendo aquilo, mas todas as pessoas que estão em volta. É contagiante e a gente sente isso”, finaliza Bruna.

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