Reforma educacional com o objetivo de modernizar e aprimorar o currículo e a estrutura do ensino médio tem recebido muitas críticas de professores e alunos. Consulta Pública para repensar mudanças ao projeto segue até 05 de julho
Por Lucas Bersi
O MEC (Ministério da Educação), em 2021, começou a implementar o Novo Ensino Médio no país. Em seu site, o MEC afirma que o objetivo é atender às necessidades e às expectativas dos jovens, “fortalecendo o protagonismo juvenil na medida em que possibilita aos estudantes escolher o itinerário formativo no qual desejam aprofundar seus conhecimentos e melhor se preparar para o mercado de trabalho”. Porém, a mudança teve grande desaprovação dos estudantes do ensino médio e causou muita incerteza sobre o futuro da educação do Brasil.
Uma das principais mudanças trazidas pelo novo ensino médio é a flexibilização do currículo. Anteriormente, os estudantes tinham uma grade curricular fixa, com disciplinas obrigatórias em todas as áreas do conhecimento. Agora, com a reforma, os alunos podem escolher parte das disciplinas que desejam estudar, de acordo com seus interesses e projetos de vida.
O novo ensino médio também prevê a implementação de itinerários formativos, que são conjuntos de disciplinas e atividades que os estudantes podem escolher para aprofundar seus estudos em áreas específicas. Esses itinerários podem abranger temas como linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias, ciências humanas e sociais aplicadas, além de formação técnica e profissional.

A reforma busca aproximar a escola da realidade dos estudantes e do mercado de trabalho, incentivando a integração entre teoria e prática. Para isso, prevê a possibilidade de inserção de atividades práticas, estágios, projetos de pesquisa e outras experiências que contribuam para a formação integral dos alunos. Mas será que na prática, é assim mesmo?
Professor de Filosofia e Sociologia para o ensino médio, em escola pública, Wellington Sversut, diz que apesar do novo ensino médio possuir metodologias ativas, incentivando o protagonismo estudantil, o que seria um benefício para o aluno, a escola pública não tem as devidas condições para proporcionar essa experiência ao aluno, como internet de boa qualidade e materiais didáticos com conteúdos profundos, as propostas “acabam não saindo do papel”. Isso faz com que, o professor, tenha que voltar à lousa, não conseguindo aplicar essas metodologias ativas como deveria.
“Isso se torna uma contra-produção e um contra-senso ao próprio ensino médio. O que era pra ser uma coisa inovadora e que atraia o estudante para a escola, se torna algo totalmente contrário”, comenta.
Wellington também comenta sobre a pobreza e a falta de profundidade dos materiais proporcionados pelo governo do estado. “Eu fiz uma comparação com materiais de matérias do currículo antigo com o do novo ensino médio, e ao observar os dois, é possível ver, claramente, que houve uma drástica redução de conteúdos e páginas. Além dos assuntos, que também, foram reduzidos. Pois como o novo ensino médio tenta focar em um só assunto, chamado de aprofundamento, há uma redução na oferta de temas e conteúdos, que fará falta para o aluno em aulas e necessidades futuras, havendo o não aprofundamento”.

Além da ausência de condições e material raso, Dayana Fernandes, professora de Língua Portuguesa para o ensino médio, em escola pública, fala que os profissionais da educação não recebem devido preparo para dar os novos métodos didáticos e que professores efetivos são designados a lecionar itinerários, nos quais, não são de sua área da educação e que não tem domínio. No que ocasiona em frustração e insegurança no professor, e consequentemente, no aluno.
Professora de Biologia, e atualmente coordenadora da escola estadual Joaquim Rodrigues Madureira, Isabela Beraldo diz que é frustrante para os estudantes que irão prestar o vestibular, pois muitos componentes curriculares acabam não sendo estudados ao longo desses três anos do ensino médio, componentes estes, que muitas vezes, aparecem no edital das provas. Sendo que já foi confirmado que nem o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), e nem os outros vestibulares mudarão seus editais para se adaptar ao novo ensino médio, segundo MEC.
“Pela escola particular ter mais infraestrutura, capacitação de professores, melhores materiais, entre outras coisas essenciais para o ensino, em relação à escola pública. Há uma imensa diferença que proporciona um grande abismo de oportunidades, tanto em vestibulares quanto em empregos, aumentando ainda mais a desigualdade social”, afirma Wellington.

Consulta pública
O novo ensino médio é uma reforma educacional que busca modernizar e aprimorar o currículo e a estrutura do ensino médio, proporcionando uma formação mais completa e adequada às necessidades dos estudantes. Essa reforma foi estabelecida pela Lei nº 13.415/2017, no Brasil, e tem como objetivo principal promover uma educação mais flexível, voltada para o desenvolvimento de competências e habilidades dos alunos. Mas pode passar por mudanças.
Para isto, o Ministério da Educação anunciou a abertura de uma Consulta Pública para Avaliação e Reestruturação da Política Nacional de Ensino Médio. Esta consulta foi aberta como resposta às demandas de estudantes e professores pela revogação da Reforma do Ensino Médio, que vem recebendo críticas por retirar disciplinas básicas do currículo e não garantir a liberdade de escolha para os estudantes.
No último dia 06 de Junho, o Ministério da Educação prorrogou a Consulta Pública do Novo Ensino Médio por mais 30 dias. O prazo foi ampliado a pedido de entidades educacionais, para garantir maior participação de alunos e professores no debate sobre o novo ensino médio. Agora, a consulta segue até o dia 5 de julho.

Lucas Bersi é fera demais! Matéria top, parabéns.
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