A pedagogia alemã é obrigada a passar por mudanças para atender à nova política educacional implementada em 2022
Por: Carlos Martins
No ano passado, o novo modelo se tornou vigente para todos os primeiros anos de ensino médio nas escolas do país. Na previsão da lei, os alunos terão as grades curriculares adaptadas gradualmente até 2024. Além de uma carga horária estendida, a mudança também passa pela oferta de disciplinas optativas e, segundo o MEC, um itinerário que se adeque à área de interesse dos estudantes.
Isso significa mais aulas de uma área do conhecimento para aqueles que pretendem se aprofundar nela e conteúdos reduzidos em outras disciplinas não englobadas pelo itinerário escolhido.
Dentre os objetivos, “dar mais protagonismo ao aluno” e “ diminuir a evasão escolar” são citados.
Apesar de recente, o plano educacional já tem a sua efetividade questionada. São relatados casos de falta de professores ou até mesmo estrutura insuficiente nas escolas, na maioria públicas, prejudicando assim os estudantes que adentram o novo Ensino Médio. A reformulação (ou até revogação) é discutida entre políticos e pensadores da área.
Para além das dificuldades de infraestrutura ou de falta de corpo docente encontradas nas outras instituições de ensino, o conflito das escolas Waldorfs ao atender às novas exigências está na essência do que se acredita como modelo de educação.
Escolas Waldorf têm sua pedagogia baseada na Antroposofia: linha filosófica criada pelo educador, escritor e filósofo alemão Rudolf Steiner em 1912. Assim, a forma de aprendizado oferecido nas escolas Waldorfs é diferente da encontrada nas “escolas tradicionais”.

“A pedagogia sempre pensa no que está acontecendo na vida da criança/jovem naquele momento e como eu (professor) posso, com o conteúdo apresentado, tocar esse ponto que esse indivíduo está vivenciando”, explica Lucas Moreira, 31 anos, professor de Física em uma escola Waldorf e entusiasta da Antroposofia.
Ele diz, também, que o objetivo da pedagogia é “educar o ser humano como um todo”, desenvolver o pensamento crítico e oferecer o amadurecimento não só da parte intelectual, mas também dos sentimentos e ações “independente do conteúdo ou da matéria ensinada, seja Inglês, Geografia, Matemática, Física…” afirma.
A Viver Escola Waldorf é a única na cidade de Bauru com um ensino médio que segue a pedagogia

Patrícia Giraldi, de 47 anos, leciona na Viver há quase três décadas. Ela explica como esse conflito entre novo ensino médio e a pedagogia Waldorf é notado na prática. “O nosso ideal é que o jovem tenha um maior leque de vivências dentro do ensino médio, e o que essa proposta do novo ensino médio especializado sugere é totalmente o oposto”, alerta. “Então, nosso desafio é não ‘ficar tão especialista’, por que isso vai contra tudo que a gente prega como pedagogia Waldorf”, complementa.
É importante ressaltar que atualmente a escola cumpre tudo o que é preconizado pelo MEC, seguindo a Base Nacional Comum Curricular e oferecendo dois itinerários distintos para a escolha dos alunos.
O novo ensino médio da Viver está em seu segundo ano de implementação. Lucas e Patrícia comentam que o modelo passou por alterações em 2022 e novamente precisará de ajustes para o ano seguinte, visando buscar um equilíbrio entre as normas implementadas e o que a pedagogia acredita.
Refletindo sobre a forma que o novo ensino médio funciona na Viver, Patrícia afirma: “acho que conseguimos fazer o melhor possível dentro do que é exigido na lei. O ideal seria o currículo Waldorf, e nós não estamos com ele pleno”.
Ela argumenta também que os itinerários obrigam os alunos a fazer escolhas. Isso “deixa de lado algumas matérias e conteúdos que nós vemos que são essenciais para a vivência do ser humano. Mas, dentro daquilo que é possível fazer, exigido por lei, eu acho que a gente conseguiu uma boa adequação”.
