Seja por influência familiar ou sociocultural, como expectativa de carreira ou como hobby, é quase de modo unânime que os estudantes de jornalismo apresentam intenso interesse no esporte e no jornalismo esportivo.
Por Gustavo Oliveira

Que o futebol é a paixão nacional todos sabem, mas por qual motivo levá-lo para além do entretenimento e mais como um plano de carreira? Dentro do contexto universitário de comunicação, principalmente no curso de jornalismo, há um intenso interesse dos alunos no jornalismo esportivo. Na comunidade, uma representativa maioria se interessa por futebol e outros esportes, como basquete e automobilismo.
Os assuntos e debates, em suma maioria, são voltados para os placares, polêmicas e a competitividade entre as torcidas. Há também o interesse de expressar essa paixão pelos escudos dos clubes, seja nas camisas, blusas, capa de celular e até no bloqueio de tela do smartphone.
Mas só se expressar por brasões não basta, também é preciso trazer para o contexto acadêmico e profissional, foi assim que surgiu o Futeboso, projeto do estudante João Boso, aluno do terceiro ano de jornalismo.
“O projeto do canal Futeboso no Youtube surgiu ainda no meu primeiro ano (2021), durante o período remoto, queria desenvolver mais minhas habilidades de fala, roteirização, edição e aprender mais sobre o algoritmo da própria plataforma”, disse Boso.
Não muito diferente, a fim de aproximar sua paixão pelo esporte às suas habilidades de comunicação, João Pedro, estudante do segundo ano de jornalismo, criou o projeto 2 de Acréscimo. “Foi uma forma que encontrei de trazer notícias sobre esportes do meu jeito, vi também a oportunidade de expandir a aplicação da comunicação, levando para arte e pro design esportivo, mercado em crescimento”, disse.
Para aqueles que não buscam o jornalismo esportivo como principal opção, o esporte se mantém como pauta. Para Higino Diego, o jornalismo apresenta diversas oportunidades de conhecimento e áreas para se trabalhar.
“Eu estaria mentindo se dissesse que o jornalismo esportivo não desperta, e muito, o meu interesse. Mas quando eu optei por jornalismo, eu estava procurando um curso que tivesse muitas opções para trabalhar. Eu vim aberto para conhecer um pouco de cada coisa, mas eu tenho as minhas preferências, e além de cultura, esporte é realmente umas delas dentro do jornalismo”, expressou Higino, estudante do primeiro ano.
A relação de trabalho, estudo e lazer se difunde quando há a oportunidade de unir o que gosta e o ofício. “Crescemos em um ambiente e ficamos apegados a este, com o esporte não é diferente, as pessoas querem trabalhar com o que gostam e veem no jornalismo esportivo a oportunidade de fazer isso”, disse João Pedro. “Trabalhe com o que você ama e nunca mais precisará trabalhar na vida”, completou o estudante, com o ditado popular.
Entretanto, quando falamos de esporte e mercado de trabalho para mulheres, as oportunidades não são equivalentes. “Mesmo não sendo minha primeira opção, considero sim o jornalismo esportivo, no entanto é uma área muito difícil, principalmente pela questão de ser mulher e a área ser prevalentemente formada por homens”, disse Talita Mutti, estudante do primeiro ano de jornalismo.
O cenário esportivo se torna ainda mais complexo quando relacionamos com outros esportes além do futebol, como o basquete e o automobilismo. Para além do contexto de mercado de trabalho, a relação feminina com o público esportivo é extremamente desafiadora.
“Não basta só saber de tudo como jornalista, você tem que provar que sabe, apenas por ser mulher. Podemos citar o exemplo da jornalista Alana Ambrósio que, quando fazia cobertura do basquete, além de saber sobre o assunto, precisava expressar vários dados estatísticos para passar credibilidade. Ao contrário do que acontece com comentaristas homens, que recebem maior atenção, às vezes sem ter o conhecimento adequado”, relata Talita.
É importante ressaltar que o esporte não se apresenta apenas como ferramenta de entretenimento, mas também como uma forma de interação social, que se expande para relações políticas, econômicas e culturais.
Segundo o professor Celso Unzelte, o jornalismo esportivo e a informação andam de mãos dadas, muito além de entretenimento, o futebol também possui responsabilidades social: “Não sou contra o futebol como entretenimento, não há problema querer ter o esporte como entretenimento, mas é necessário buscar informações sociológicas, políticas e históricas”, disse o comentarista da ESPN, em palestra realizada na última sexta-feira (23) para os alunos do primeiro ano de jornalismo da UNESP.
Porém, de onde surgiu essa paixão pelo esporte e principalmente pelo futebol? Dentre os estudantes apresentados e os demais entrevistados, comumente, ser torcedor vem por influência familiar e, principalmente, pela cultura brasileira e sua relação com o futebol.
Para Gabriel Almeida, estudante do segundo ano, “a cultura brasileira também favorece muito isso [relação com o esporte], a gente tem muitos ídolos. Pelé, Sócrates, Marta, Ayrton Senna, César Cielo, Rayssa Leal, Guga, Falcão, Felipe Massa, etc. É um grande incentivo pra ficar por dentro do que acontece”, disse.
E para aqueles que não possuem interesse no futebol ou no esporte em geral, os estudantes dão algumas dicas:
“Tente acompanhar algum esporte, não precisa ser futebol, mas no meu ver esporte é um ótimo hobby, essa questão de torcer, conhecer como funciona as regras de uma competição, ficar maravilhado com uma jogada incrível, é uma das melhores coisas de se acompanhar um esporte.”, aconselhou Higino Diego.
“O futebol é um modo de inverter completamente o seu sentimento de uma hora para outra, por causa de um resultado adverso do seu time do coração, o dia perfeito termina em ruínas e vice-versa, e tudo de um jeito quase inexplicável. Desde o processo de virar torcedor de um time, se apegar a jogadores, estádios, torcidas, o futebol serve de um modo com de ter uma amostragem da sociedade também, o que facilita muito para criar simpatia com alguns clubes”, disse João Boso.
“Diria que a gente que é apaixonado por futebol gosta das rivalidades, das narrativas, do respeito, da garra, da vontade, dos lances bonitos e, principalmente, dos gols e da festa da torcida. Sei que pra quem está só assistindo, os jogos parecem todos iguais, são sempre onze contra onze correndo atrás de uma bola. E é aí que tá, é a simplicidade de um esporte e a complexidade que tem em volta desse esporte que torna tudo tão especial”, comentou Gabriel Almeida.
