Oito meses depois de Maxident, o Stray Kids volta aos trending topics com o lançamento de seu terceiro full album: o 5-STAR
Por Julia Ferreira
O álbum, que conta com 10 músicas inéditas e duas já lançadas anteriormente, traz a imagem de um grupo que trabalha de acordo com sua própria verdade, sem dar importância às críticas. No vídeo introdutório do álbum, Bangchan, líder do grupo, compartilhou que sentiu “certa pressão” devido ao peso que o nome 5-STAR carrega. Já Lee Know comentou que se sente mais confiante, uma vez que não são os mesmos garotos perdidos que costumavam ser no início da carreira.
Stray Kids, ou simplesmente SKZ, é um grupo do fenômeno K-pop gerenciado pela JYP Ent. e surgiu em 2017, com um reality de gênero “survival” que tinha como objetivo a estréia de uma nova boy-band. Primeiro álbum oficial lançado em 2018, o ‘I am NOT’ traz a essência de jovens que enfrentam barreiras na própria identificação e seguem um caminho desconhecido. Na introdução do mesmo, HAN afirma que “se olhar no espelho era como estar num labirinto”, e as músicas expõem as aflições da juventude e o medo de não se encontrar em meio a tantas possibilidades e imposições.
Fosse pela entrada recente na indústria ou pelo fim da adolescência, os jovens davam sentido ao nome “crianças perdidas” durante as eras ‘I AM’, quando cantavam “preso em minha confusão pois não me conheço bem”, e não tinham medo de admitir que não sabiam ao certo onde gostariam de chegar. As músicas, diferentemente do atual, carregavam um tom angustiante e sem esperança, além da estética visual ser tomada por preto e outros tons escuros. “Eu acho que a mudança que eu mais percebi desde 2018 é a estética, no geral. Acho que Hellevator e District 9 tem uma estética mais gótica; tem muito preto, uma vibe depressiva e meio desesperançosa. E eu sinto que hoje em dia não, tem uma coisa até ostensiva. Eles reconhecem o poder deles,” comenta Julia Moura, membro do fandom STAY desde 2018.
O grupo fez sua estreia no auge dos 19 anos e os assuntos abordados giravam em torno de dúvidas e das frustrações na transição entre a adolescência e a vida adulta, além do descontentamento com o comportamento dos mais velhos em relação aos problemas de sua geração. Em School Life, eles cantam: “Você já teve nossa idade, por que agir como se não entendesse?”. Os fãs acreditam que a essência do grupo permanece a mesma, mas que “o estilo e a imagem deles estão mais adequados aos seus gostos e idades. Acho que a personalidade deles se tornou mais convicta e marcada em cada conceito,” diz Carina Gonçalves, que também é fã do grupo desde o início da carreira.

[Foto: capa do álbum I am NOT]
Nos dias atuais, o Stray Kids trabalha com uma imagem um tanto quanto distinta da inicial. Com letras que almejam o sucesso do grupo e a “dominação mundial”, como os mesmos dizem, músicas como God’s Menu e S-Class conquistam o coração dos fãs e um espaço no cenário internacional, uma vez que os jovens seguem quebrando recordes em plataformas como o Spotify e Youtube. Dominando os charts do meio musical, o álbum 5-STAR estreou em #1 no top 200 da Billboard de acordo com dados do próprio site, sendo o terceiro álbum dos artistas a conseguir este feito, depois de Oddinary e Maxident em 2022.
A mudança e o amadurecimento do Stray Kids não se prendem somente à estética. Eles são responsáveis quase que 100% pela parte musical de seu trabalho, e um dos motivos para tanto carinho dos fãs é a diversidade de estilos musicais e a ousadia de brincar com ritmos que podem não agradar a todos e gerar revolta nos internautas.
“Isso só demonstra que o Stray Kids não tem medo. Eles não tem medo de hate, não têm medo de comentários maldosos e jamais se moldariam pra agradar essas pessoas. Eles são únicos e não mudariam porque alguém disse que a música é ruim. Musicalidade é relativa, você pode gostar ou não, e eles deixam sua opinião aberta a isso,” afirma Kiki, fã desde a estreia.
“As músicas ‘barulhentas’ são o que fazem eles serem únicos e terem sua marca. É o que os torna populares e eu gosto disso”, compartilha Manu, que também é STAY há alguns anos. A comprovação disso é o lançamento de NOEASY (2021), também lido como Noisy, que significa barulhento. Após tantos comentários maldosos, o grupo abraçou a ideia que recaiu sobre si e hoje se autodenomina como estrondoso.

[Foto: capa do álbum NOEASY]
Ainda assim, ao contrário do que alguns podem apontar, os fãs defendem que o grupo não possui apenas músicas barulhentas. “Eles estão sempre procurando se destacar e deixar [o estilo do grupo] cada vez mais único”, afirma Manu. “Eles exploram outros ritmos musicais como R&B, Hip Hop, Ballad, etc. A grande mudança deles, na verdade, vem dos produtores; 3Racha. Eles sempre procuraram inovar e é perceptível que todos os álbuns passeiam por vários tipos de ritmos musicais, mostrando a versatilidade do grupo”, afirma Kiki.
Uma preocupação que aflige grande parte dos ouvintes do k-pop, mas não tantos STAYs, é a americanização que o gênero sofre constantemente. “Querendo ou não, os EUA são uma superpotência com poder de influência absurdo, então sim, é uma possibilidade pra todo grupo no k-pop”, comenta Julia. “Mas, conforme vão crescendo, eles vão criando uma identidade própria, então não acho que eles cheguem a se perder de quem são. Thunderous (faixa principal do álbum NOEASY) tem muitas referências à cultura sul-coreana, tem um saudosismo” a jovem completa.
As opiniões divergem mas se encontram em certo ponto, uma vez que muitos acreditam que o boy-group continuará condizente com sua naturalidade. “O Stray Kids desde sempre mostra muito orgulho da sua origem, o próprio MV de Thunderous mostra isso, tendo diversas referências a cultura sul coreana, tanto na letra quanto no clipe. Mesmo sendo um grupo etnicamente diverso, eles sempre demonstraram muito orgulho da história que a Coréia do Sul carrega”, defende Kiki.
O Stray Kids carrega ainda o possível título de maior grupo da quarta geração do K-pop. Embora não exista uma premiação para tal, o histórico de recordes quebrados constantemente levanta a especulação de que a boyband possa superar os demais artistas da atual geração nesta indústria, como apontam os fãs.
“Eles tem um enorme potencial pra ser o maior grupo da quarta geração, por N motivos. Seja por terem três dos maiores produtores da indústria, por quebrarem recordes que não foram quebrados em décadas, ou por serem um grupo praticamente ‘self-made’, mesmo numa empresa gigantesca,” afirma Kiki.
Há ainda STAYs que reconhecem o potencial de outros grupos além do Stray Kids, como aponta Julia: “Acho que eles podem sim, mas talvez seja só uma perspectiva de fã. Considerando grupos masculinos, em termos de número e de fãs, acredito que eles sejam os maiores da quarta geração. Mas como um todo, entre grupos masculinos e femininos, eu já acho que não. Talvez o G-Idle seja o maior grupo”.
Após cinco anos de carreira e diversas barreiras enfrentadas, desde boicotes à saída de um membro do grupo, o Stray Kids vem se reerguendo e se reinventando a cada comeback. Assumindo que hoje são “irritantemente barulhentos e perdidos”, como disse I.N, os jovens trilham um caminho sem linha de chegada definida e dominam o coração de fãs ao redor de todo o mundo.
“É claro que poderíamos cair no papo que eles são personagens moldados e que nós não os conhecemos de verdade, mas os próprios impõem muitos limites que vários outros grupos não conseguem”, diz Kiki. Julia, enfim, diz que sempre fica curiosa em saber o que eles vão aprontar dessa vez. “A cada lançamento eles trazem uma coisa nova, então eu sempre penso ‘e agora?!’”.
