Cursinhos populares, plataformas de apoio ao ensino e auxílios estudantis são alguns dos recursos que os estudantes dispõem para entrar e se manter no tão sonhado ensino superior

Por Amanda Silva Lima

As inscrições para o Enem encerraram na última sexta-feira, 16, e o prazo para pagar a taxa de inscrição terminou na quarta-feira, 21. Nesta edição, mais de 4,6 milhões de estudantes vão tentar o ingresso no Ensino Superior, superando o número de 3,4 milhões de candidatos que se inscreveram para realizar o exame em 2022. Nos anos anteriores, o número de inscritos diminuía ou variava pouco a cada edição, apontando que a universidade é uma realidade cada vez mais distante para os jovens brasileiros.

A estudante de Engenharia de Materiais da USP, Beatriz dos Reis Ramos, relatou suas dificuldades para encontrar informações sobre como usar sua nota. “A maior dificuldade foi conseguir informações sobre todo o processo. Demorei para achar explicações sobre como usar a nota do Enem em processos seletivos internos, como o que consegui minha aprovação. O que me ajudou muito foi a minha rede de contatos, amigos que estavam passando pelo mesmo”, contou.

Menina com o os braços e rosto pintados de vermelho, com o nome da universidade e do seu curso.
Beatriz no dia da sua aprovação no vestibular. (Reprodução: arquivo pessoal)

Além disso, Beatriz compartilhou os desafios que enfrenta em razão das diferenças sociais, tanto para a aprendizagem quanto para a integração. “Senti que estava atrasada em relação aos outros. Enquanto eles focavam no que era dado, eu tentava recuperar o que perdi. E logo que passei, vieram as preocupações financeiras e de logísticas, como meus pais iriam me manter, onde morar, como poderia voltar aos finais de semana, o que não é uma preocupação para os outros”, relatou.

O que muitos estudantes não sabem é que, para conseguir se manter, a faculdade oferece meios de apoiar os alunos. Beatriz conta com auxílios financeiros de permanência e atendimento psicológico, que possibilitam que ela continue seus estudos. “Há diversos meios de ajuda, muitas oportunidades e serviços. Há disposição em te manter na faculdade”, contou.

O relato de Beatriz se assemelha à história de Vinícius de Andrade, fundador do Salvaguarda, uma ação social na área da educação. Ele contou que as vivências e diferenças encontradas na faculdade foram o que o motivou na criação de um projeto que auxiliasse os estudantes com conteúdo e informação e os incentivasse a entrar na faculdade dos sonhos.

Homem segurando um microfone em um palco. Há cadeiras brancas no fundo e um telão com desenhos coloridos.
Vinícius de Andrade apresentando o Salvaguarda no palco principal de um festival no museu do amanhã, no RJ. (Reprodução: Instagram)

“Eu sou de um bairro de Periferia e tenho três irmãos por parte de pai e três por parte de mãe. Na minha família, ninguém tinha ido para a universidade. Quando eu entrei na USP, eu passei a viver nesses dois mundos, de um bairro de periferia e uma família sem informação, enquanto na universidade é um universo de possibilidades, além da estrutura física que me encantou bastante. Eu queria entender porque minhas irmãs e meus vizinhos também não estavam ali”, contou.

O movimento nasceu após uma pesquisa que ele realizou com os estudantes de ensino médio da sua cidade, Ribeirão Preto, SP. Vinícius constatou que eles tinham poucas informações sobre os vestibulares e começou a procurar formas de possibilitar esse conhecimento aos estudantes até chegar ao que o projeto é hoje.

Composto por uma frente de monitorias das disciplinas, de tutorias para auxílio organizacional e informacional, de correção de redação e apoio psicológico, além de um site com conteúdos de todas as disciplinas e dados sobre as universidades, mais de mil alunos já foram aprovados por meio dessa ação.

Três pessoas em um palco com uma mesa e uma cadeira ao lado. No fundo, várias pessoas sentadas.
Imagem de um aulão realizado no início do projeto de Vinícius (Reprodução: Instagram)

Ao longo do processo, Vinícius se deparou com algumas dificuldades e ainda lida com problemas na estruturação do programa, mas tem planos e sonhos para a educação no Brasil.

“Eu tenho muito interesse em conseguir contribuir ativamente para a educação brasileira, via MEC [Ministério da Educação]. Quero conseguir trazer esse recorte do quanto faltam políticas que vão somar com os colégios sobretudo em relação à informação. Sonho muito que as oportunidades cheguem para todos, que todos tenham as mesmas informações, o mesmo suporte e as mesmas motivações. Todos passam pelas escolas ou quase todos, então acho que lá realmente tem que ser o centro das transformações”, compartilhou.

Cursinhos populares, plataformas de apoio completas, como o Salvaguarda, e os auxílios estudantis surgem como resposta aos estudantes que sonham com o ensino superior. Apesar das notas para admissão no Enem e demais Vestibulares serem cada vez mais altas e competitivas, existem meios de tornar esse desejo real e que facilitam a democratização do acesso à educação.

Deixe um comentário