Cineasta reflete a trajetória do cinema nacional e os desafios enfrentados na área

Por Sophia Picchi

Cena de Baía de Guanabara, 1898, considerado o primeiro filme brasileiro (Foto: Youtube).

Nesta última segunda-feira (19), foi comemorado o Dia do Cinema Brasileiro, data estabelecida pela Agência Nacional de Cinema (Ancine). Ela homenageia a gravação do primeiro filme no país, em 1898, pelo italiano Affonso Segretto enquanto desembarcava na Baía do Guanabara, no Rio de Janeiro. Trazendo equipamentos filmográficos da Europa, o empresário pretendia produzir e exibir seus próprios curtas em solo tupiniquim.

Em seus 125 anos de existência, o cinema nacional apresenta uma trajetória complexa, desenvolvendo uma vastidão de gêneros, linguagens e estéticas. Suas obras e autores viveram em meio a intensas transformações políticas, culturais e sociais e isso se reflete nas dinâmicas que a sétima arte tem entre si própria e a sociedade a qual emana.

“Dos primeiros filmes feitos no Brasil como Baía de Guanabara, 1898, Chegada do Trem em Petrópolis, de 1897, e o clássico Limite, 1931, de Mário Peixoto, até hoje na era Ancine/FSA e os filmes originais dos streamings, nosso cinema passou por momentos de crises e bafejos”, diz o diretor, roteirista e produtor de cinema Edu Felistoque

Ele considera que o movimento de alcance de uma identidade nacional ainda é presente, mas os profissionais do audiovisual brasileiro não devem se espelhar nos caminhos tomados por outros países. “Não acho que seguir cartilhas de outros cinemas é a solução para o nosso cinema”, comenta.

Edu Felistoque é autor de longas-metragens ficcionais, séries e documentários (Foto: Academia Brasileira de Cinema).

Mesmo com uma história repleta de transformações, “os problemas e os desafios [do cinema brasileiro] são os mesmos: financiamento e distribuição”, declara o cineasta. O pensamento cinematográfico no Brasil tem de ir além da obra como essência artística e comunicativa, e deve se atentar às estratégias de divulgação e posicionamento, a fim de garantir a própria valorização.

“Um ‘produto cultural’ deve ser tratado como se trata um outro produto ‘industrial’ qualquer, deve-se pensar na produção e na divulgação desse produto, caso contrário morre na prateleira do supermercado como se fosse uma lata de tomate sem propaganda e de um fabricante desconhecido”, explica. 

Embora as dificuldades que ainda perduram na realização da sétima arte no Brasil, o cenário atual é mais acessível que tempos passados. As iniciativas públicas e privadas de incentivo e a popularização de tecnologias contribuem na pluralização da atividade cinematográfica.

“Antes, a realização de cinema não era para todos, existia uma elite que estava à frente das realizações. Hoje eu vibro com essa democratização do cinema, esse acesso abre fronteiras não somente para o cinema de entretenimento como também para o cinema ideológico”, fala. 

A relação do povo brasileiro com o seu cinema é oscilante e depende do nicho das obras. “Alguns gêneros de filmes nasciam divorciados do grande público, gerando assim um afastamento da população”, conta. Há tendência em segregar os filmes em classes de sofisticação mas, para o diretor, isso só contribui para a competição entre popular e erudito. “Sempre acreditei que existe espaço para todos os movimentos cinematográficos, uns mais comerciais e outros nem tanto”, defende.

Edu é esperançoso sobre futuros do audiovisual nacional. Ele acredita que a interminável procura pela realização artística é um poderoso estímulo criativo. “Ainda enfrentaremos muitos momentos difíceis e muitos momentos de glória, e depois disso, mais ainda, outros momentos difíceis e outra vez momentos de glória, e assim será sucessivamente. O Bom, o produtivo é a busca do caminho, dessa viagem chamada cinema brasileiro”, finaliza. 

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