É possível seguir carreira como árbitro de voleibol e chegar à elite da profissão, trabalhando em jogos olímpicos ou campeonatos mundiais. Para isso, são necessários anos de estudo, dedicação e muito investimento.
Por Augusto Angeli

No vôlei, muito se fala sobre os jogadores, as seleções nacionais, as competições e até mesmo os ginásios em que os jogos acontecem. Porém, os telespectadores muitas vezes se esquecem das pessoas que são responsáveis por mediar e controlar os jogos: os árbitros.
Para Gustavo Rodolfo Costa, árbitro Internacional FIVB, o juiz, no vôlei, não passa de um mediador. “Um árbitro não é nada mais nada menos que um mediador. Esse é o nosso trabalho, o que nós fazemos é mediar”, afirma.
Gustavo é argentino e mora no Brasil há 25 anos. Ele explica que atualmente, para ser árbitro profissional no Brasil, o processo é bem mais demorado e tem muito mais exigências do que no passado. “Para você ser árbitro, leva todo um processo de carreira na qual você deve investir e estudar muito, é necessário estar sempre antenado, sempre fazendo cursos. Além disso, chega um momento na sua carreira que você vai ter que ter certo respaldo acadêmico, ou seja, um curso universitário”, explica.
Nos cursos que os árbitros fazem, eles passam por provas teóricas, escritas, orais e práticas. Esses cursos são lecionados por instrutores, que também são árbitros. Gustavo é um dos instrutores e conta o que leva em consideração na avaliação. “Eu sou árbitro instrutor, eu dou curso para outros árbitros. Faço essas avaliações presenciais e a distância, nelas eu avalio não só as questões normativas, mas também como o árbitro se comporta perante o jogo”, explica.
Além de se exigir muito estudo e muita dedicação, existe uma hierarquia dentro da profissão que é seguida à risca. Os árbitros são nivelados de acordo com seus cursos, experiência, idade e até grau de escolaridade.
Gustavo apresenta cada degrau da profissão e fala em qual nível está. “Você começa como aspirante a árbitro, que foi o que eu fiz com 18 anos. A próxima categoria é árbitro local, de árbitro local você passa para árbitro estadual B, árbitro estadual A, árbitro candidato a nacional, árbitro nacional, árbitro candidato a continental, árbitro continental, árbitro internacional e por fim, árbitro Internacional FIVB, que é o meu nível, não tem mais nada acima disso”, aponta.
Um árbitro internacional FIVB até pode trabalhar em jogos dos campeonatos estaduais ou de divisões inferiores, mas Gustavo explica que não é só uma questão de se respeitar a hierarquia, mas também de dar oportunidade a quem quer crescer dentro da profissão.
“No campeonato estadual, por exemplo, eu já não vou mais como árbitro, eu vou como coordenador, eu coordeno os árbitros. Em uma Superliga B ou C eu até posso ser chamado para apitar uma final ou semifinal, mas temos outros árbitros dessa categoria. Isso não quer dizer que eles são melhores ou piores e sim que é um processo de crescimento. Porque se eu apito uma Superliga B ou C, eu estou tirando o trabalho de outro que está precisando desse jogo para crescer’, comenta.

O que vai definir se um árbitro é capacitado para determinado nível não é o conhecimento das regras do vôlei em si, e sim o seu preparo psicológico, sua postura dentro de quadra e de que maneira ele lida com as pressões que serão impostas sobre ele durante os jogos. “A questão psicológica é a que define se um árbitro vai servir ou não para a tarefa. Essa pessoa tem condição psicológica? Essa pessoa consegue manter a postura quando for enfrentada pelo atleta? Ou pela torcida? Ou pressionada pela televisão?”, conta Gustavo.
No âmbito financeiro, Gustavo conta que os árbitros recebem por jogo trabalhado ou por curso lecionado e que a taxa aumenta conforme se ascende na profissão. “Nós recebemos por jogo, por curso. A diferença é o nível em que você está na profissão. À medida que você vai melhorando, vai escalando dentro da hierarquia, você vai receber mais”, disse.
A partir do nível de árbitro nacional, o profissional já começa a ser escalado para apitar jogos fora de seu estado de origem e, diferente do que muitos pensam, os árbitros não arcam com nenhum custo gerado por essas viagens. “Temos tudo pago. Se eu vou apitar em outro estado, tem que me pagar o avião, a comida e o hotel, que não pode ser qualquer um, por causa da minha categoria. Além disso, pagam 30% a mais da minha taxa por conta do deslocamento”, conta.
Gustavo afirma que a partir de um certo nível, é possível se sustentar apenas como árbitro de voleibol, porém isso depende de cada um. “A questão é o que você pretende para a sua vida. Por exemplo, essa semana vou apitar dois jogos, para mim, isso já seria o suficiente para viver, porém, ainda me restam 5 dias na semana, porque não fazer outra coisa? Claro que também depende da categoria do árbitro, os que estão no começo da carreira não conseguem, mas na minha categoria, se eu quisesse, eu poderia”, completou.
Sendo árbitro Internacional FIVB há quase 20 anos, Gustavo já teve oportunidade de apitar grandes jogos, mas para ele, o que importa é estar apitando voleibol. “Eu já apitei jogos muito bons. O jogo mais duro, digamos, que eu apitei, foi na Itália, um Rússia X Polônia, um clássico. Um jogo muito, muito duro. Mas eu gosto de apitar vôlei, o que você me colocar para apitar de vôlei, eu gosto”, concluiu.
