Nutricionista especializada em transtornos alimentares, Thayane Fraga comenta sobre o uso de Ozempic e as influências das redes sociais

Foto: MARIO TAMA / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP
Por Luísa Tabchoury
A busca pela perda de peso de forma rápida é um objetivo desejado por grande parte das pessoas que estão insatisfeitas com o próprio corpo. Nessa jornada, Fernanda Guimarães Pimenta, uma publicitária de 29 anos, decidiu fazer o uso do Ozempic sem indicação médica e acabou sendo internada na UTI.
A publicitária confessou em entrevista à BBC Brasil que começou a usar o medicamento por conta da influência nas redes sociais. “O algoritmo começou a me apresentar diversos vídeos falando sobre o uso do Ozempic e seus resultados positivos. Então, eu coloquei na minha cabeça que se eu tomasse iria dar super certo também”, conta.
Em junho de 2022, quando Fernanda iniciou a medicação, ela alegou sentir os efeitos colaterais da droga como ânsia, dor de cabeça, vômito, dor no estômago e enjoo. O caso acabou ficando mais grave e ela teve que ser internada.
O Ozempic, uma caneta injetável que contém o princípio ativo da semaglutida, tem como principal função “imitar” a ação de um hormônio fabricado no intestino (GLP-1), que regula os sinais de fome e o metabolismo do paciente. Ou seja, este medicamento reduz a ingestão de comida durante as refeições pela rápida liberação de insulina que retarda o esvaziamento do estômago.
A nutricionista Thayane Fraga aborda os prejuízos da automedicação. Com o efeito da droga, ela afirma que a maioria das pessoas que já possuem uma dificuldade na regulação dos sinais de fome e saciedade, acabam sendo mais prejudicadas no momento que a caneta “atrapalha ainda mais na percepção desses sinais”.
Por outro lado, a especialista diz que a medicação, com a devida indicação médica e acompanhamento, pode ser um benefício. “A caneta pode adequar melhor a quantidade de alimento e assim a pessoa teria menos ansiedade em relação à comida para conseguir seguir uma estrutura alimentar”, afirma.
Thayane acompanha alguns pacientes que usam esta medicação, tanto aqueles que têm orientação médica, quanto outros que aplicam por conta própria. Para os não orientados, ela aponta as cautelas que devem ter ao utilizá-la: “por um imediatismo, as pessoas já optam pelo uso de um medicamento. Mas, existem poucos estudos que mostram os efeitos ao longo prazo dessas canetas. É tudo muito novo ainda e precisamos ter cuidado em relação a isso”.

(Foto: Thayane Fraga/Arquivo Pessoal)
A “cultura da dieta” e o estilo de vida produtivo divulgados na internet implicam no debate sobre as razões para o desejo da perda de peso. A nutricionista relata que a busca pelo emagrecimento pode se iniciar por uma questão de saúde, mas, ao longo do tempo, muitas pessoas acabam se influenciando com essa pressão das redes sociais. “A gente vê na mídia influenciadoras que têm um corpo não natural e que precisa de muito esforço”, complementa.
Para o desenvolvimento do autoconhecimento, Fraga recomenda para os usuários um pensamento mais crítico diante destes conteúdos. “A gente precisa ver esses corpos e ter o discernimento de pensar os custos para tentar alcançar este padrão”, comenta.
Thayane alerta que o consumo exagerado das mídias pode acarretar comportamentos disfuncionais em relação à comida. “As redes sociais mostram que tudo precisa ser compensado e muito controlado. Isso influencia o comportamento das pessoas e como elas se sentem em relação ao próprio corpo e a alimentação”, narra a questão. No final, a nutricionista arremata o conjunto do excesso de exposição, comparação e auto cobrança nas mídias. “Então você vive de forma muito frustrada e culpada”, explica.
Especializada em transtornos alimentares, Thayane comenta que sempre há uma predisposição para uma pessoa desenvolver tal transtorno psiquiátrico, mas também diz que “as redes sociais e a pressão estética podem ser um gatilho para se desenvolver um transtorno alimentar”.
Para os que já possuem tal distúrbio, a nutricionista recomenda o controle do uso das redes sociais para preservar a saúde mental. Dado o fato dessas pessoas serem mais sensíveis e vulneráveis a esse tipo de conteúdo, necessitam de uma maior atenção para que não “apareçam pensamentos automáticos sobre comportamentos disfuncionais em relação ao exercício e ao controle do peso”, complementa Thayane.
Fraga relata a busca constante do emagrecimento em seus pacientes. “Eu diria que 100% das pessoas que me procuram querem emagrecer”, relata. A nutricionista fala do emagrecimento adequado, sendo “um processo que dura um tempo e com mudança no estilo de vida: com exercício físico e uma alimentação adequada”.
Porém, na maioria das vezes, os indivíduos querem um resultado rápido e “acabam buscando essas canetas e medicações ou até mesmo uma bariátrica, sem tentar mudar o estilo de vida antes”, relata.
Para as pessoas que buscam perder peso, Thayane traz uma reflexão: “Precisamos nos perguntar sobre o custo disso. As custas da sua saúde social, física e emocional? Se é assim, então a gente não está falando em saúde e sim de estética”. Feito de forma inadequada, essa perda de peso desregulado pode levar a uma vida disfuncional. “Essa busca pela magreza a qualquer custo compromete saúde, qualidade de vida e bem-estar”, complementa Fraga.
