Onde começa e onde pode terminar a febre das adaptações para a vida real? Um olhar externo para a nova moda das longas-metragens.

Por Giovanna Pasquetto

X-men, Scooby-Doo, Os Flintstones, Malévola, Cinderela, A Bela e a Fera, Rei Leão, Alice no País das Maravilhas, Barbie, A pequena sereia, Mogli – O menino lobo… A lista das adaptações dos desenhos animados cresce cada vez mais e, com ela, o surgimento da dúvida: “Onde foram parar as outras ideias?”. Os famigerados Live-actions caíram no gosto hollywoodiano há alguns anos e, desde então, as telonas nunca mais ficaram sem esse estilo de filmagem. Porém, engana-se quem acredita que essa prática tenha surgido em 2015 com a Cinderela de Lily James e seu vestido cintilante que fez tanto sucesso.

Na realidade, conseguimos ir longe na história das adaptações, o filme “Você já foi à Bahia?”, uma propaganda política gravada pelos estúdios Disney na década de 40 foi o que podemos nos arriscar a apontar como um dos “anciões” nesse ramo de não ser um longa apenas com desenhos.

Temos também um dos nossos vislumbres mais conhecidos, que é de 1964 com a adaptação de Mary Poppins para as telonas de cinema, o filme deixou os críticos tão admirados, que entregou a Julie Andrews o Globo de Ouro daquele ano. A aclamação do longa foi tão grande que em 2013 foi adicionado ao National Film Registry, uma seleção de filmes escolhidos para preservação na biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Sentiu o impacto?

Podemos ir mais longe ainda e citar até a mistura dos dois mundos, desenhos e vida real, como por exemplo: 101 dálmatas em 1996 ou Space Jam, também de 96. As filmagens nessa época, não tinham o propósito apenas de entretenimento, muitas vezes elas vinham acompanhadas de alguma causa, seja desde propaganda política até fusão entre dois estúdios.

“Tivemos esse estopim com o live action de “Cinderella” dos anos 90 que trouxe aquela transformação, o início daquilo que veriamos hoje. Era uma coisa para chamar o público para aquela porta de entrada”, afirma Asi Barbosa, podcaster da RUV e estudante de meteorologia da UNESP Bauru.

“Mas acho que as maiores portas de entrada foram com “Encantada” em 2008 com atores renomados e aquela influência da Disney com algo novo e logo após, em 2010, “Alice no País das maravilhas” com essa nova passagem de atores famosos, diretor famoso e o mundo que poderia ser explorado no universo Tim Burton. Acredito que tenha sido aqui o “Boom” das adaptações”, explica.

Porém, a partir de certo ponto, os percursos mudaram de figura e adaptações mais criativas ou até novas ideias começaram a se perder no pote de ouro que Hollywood havia descoberto.

A moda dos live-actions vem junto de duas coisas que pesam bastante na hora que de consumir: A memória afetiva que aquilo pode trazer e o quanto as empresas podem lucrar com isso, ao regravar grandes clássicos, você atrai o público que já tinha interesse na obra para vê-la mais uma vez e a partir disso, vender diversos novos produtos que certamente serão consumidos. Pode-se observar essa tática em filmes que mal lançaram, como Moana, por exemplo. “Os estúdios perceberam que por mais que não se venda o filme em si, existem muitas outras coisas que vão ser vendidas no lugar, como agora em Pequena Sereia, quantos brinquedos não vão ser vendidos? Merchandising de McDonalds, propagandas de produtos externos que serão vendidos, fora a busca por aquilo que já tinha”, comenta Asi.

Toda essa busca e valorização por aquilo que pode ser consumido influencia diretamente na quantidade de tempo que a prática permanece em alta, sufocando as outras ideias que possam tentar surgir em catálogo. “A tendência é ter mais filmes desse tipo porque as outras empresas perceberam isso, perceberam que vende. Por exemplo, a Sony anunciando o live de homem-aranha que apesar de ser uma boa animação, com os sucessos da Disney com as adaptações, o ímpeto é fazer o mesmo”.

Apesar de brincadeiras que digam “Deus está triste com a quantidade de live-actions”, sinalizando um possível tédio relacionado à ideia, ainda sim não é possível escapar dos live-actions. Você pode até não consumir o filme no cinema, mas pode ter um grande nome na produção que vai manter aquele título em alta, uma música na trilha sonora que conseguiu furar a bolha e dominar as rádios, alguma trend em uma rede-social que esteja relacionada ao filme, os estúdios podem lucrar ainda mais com apenas um título regravado.

Se você juntar toda a equação, desde as memórias e os gostos que um live-action pode atingir até todo o fim lucrativo que os estúdios ganham com isso, o aperfeiçoamento de inteligências artificiais e equipamentos que auxiliam na produção desses filmes, fica fácil perceber que o possível declínio dessa moda tão atemporal ainda esteja distante.

“Os live-actions só vão parar de ter esse charme quando os estúdios perceberem que você não pode copiar de si mesmo para sempre, está complicado ter uma hollywood criativa e é uma coisa que interfere muito”, finaliza Asi.

Hollywood apostou no conforto, aquela história do “nada se cria, tudo se copia” é escancarada para o público, os estúdios estão reciclando suas próprias ideias que já deram certo com várias continuações e reboots e torcendo para que a roda não seque tão cedo.

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