A passagem do atleta Guilherme Delgado pelo futebol italiano

Por Giovane Papa

Foto por Alberto Massari / Instagram

Atualmente, no Brasil, temos cerca de 2 milhões de jogadores de futebol incluindo ligas não profissionais. Não é de hoje que o esporte é uma das profissões mais difíceis de se conquistar o sucesso. Dados da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) dizem que apenas uma pequena porcentagem de jogadores ganha mais de 5 mil reais por mês.

Muitos tem o sonho de atuar na Europa, e os que conseguem tem de lidar com várias dificuldades, tais como a distância dos familiares, o choque de culturas e, infelizmente, o preconceito.

O lateral direito Guilherme Lara Delgado, de 20 anos, nasceu em Americana (interior paulista), e teve passagens pelos times União Barbarense, Rio claro, Rio Branco e Atlético Taquaritinga. Disputou o Campeonato Paulista de diversas categorias e a Copa São Paulo de futebol júnior, conhecida popularmente como “copinha”.

Após disputar o Campeonato Paulista sub-20 pelo Taquaritinga, recebeu sua primeira proposta para atuar no exterior. “Após o campeonato, surgiu a proposta de ir pra Itália, estava esperando apenas o okay do clube, porém ficou em uma incerteza. Na semana da decisão surgiu o Lavello, e acabei optando pela nova proposta”, diz.

U.S.D. Lavello é um clube de futebol italiano localizado na cidade de Lavello, região de Basilicata, que, na época em que Guilherme foi para a Itália, ocupava a quarta divisão.

Em agosto de 2022, Delgado embarcou rumo ao velho continente, para o que seria sua primeira experiência fora do Brasil no esporte. Antes de sua viagem, conta como foi o sentimento da família com a separação iminente. “Teve um pouco de medo da minha família, se jogar em um time aqui perto já tem dificuldade, imagina passar aperto na Itália”. Porém, ressaltou que estava confiante e com muita fé para o novo desafio. “Acredito muito em Deus, se ele está me levando àquele lugar, ele tem um propósito pra mim”.

Ao chegar ao seu destino, o atleta disse ter se sentido bem recebido. “Os diretores me receberam muito bem, o treinador e o pessoal do clube me trataram com muito carinho, sempre tentavam me ajudar.”

Assim como muitos jogadores sofrem com a mudança do idioma, com Guilherme não foi diferente. O lateral apontou algumas dificuldades da comunicação no novo ambiente: “eu não entendia nada do italiano, o treinador falava comigo eu não entendia, eu só sabia que precisava jogar”, disse, em tom de piada.

O jogador ressaltou também o tratamento recebido pelo clube para sua estadia, e apontou as diferenças das mesmas situações quando esteve no Brasil. “Me deixaram em um hotel na frente do estádio, um hotel muito bom, dividi quarto com um brasileiro. Íamos andando até o treino pois era bem perto e almoçávamos em um restaurante que ficava perto do hotel com toda a equipe. Nunca cheguei num lugar em que fui tão bem tratado, foi uma primeira impressão muito boa”.

Com relação aos treinos, Delgado passou por uma adaptação antes de realmente estrear pelo clube. “Quando cheguei me colocaram só pra treinar separado, muito treino físico, primeiro, para ficar bem fisicamente, só depois comecei a treinar com o elenco”, diz.

Guilherme fez sua estreia na segunda rodada do campeonato dentro de casa e, para delírio da torcida, já anotou sua primeira assistência. Citou também que o apoio da torcida foi crucial para sua adaptação ao país. “A torcida me recebeu muito bem, eu andava na rua e os torcedores sempre vinham falar comigo, foram bem acolhedores.”

Ao comparar o estilo de jogo do Brasil com o italiano, o lateral citou um ritmo intenso nos treinos e jogos: “eles treinam muito, quase todos os dias têm físico. Nos jogos, são poucos times que gostam de ficar com a bola, e com poucos dribles. É correria o jogo todo, sempre tentando atacar, diferentemente do Brasil, que tem equipes que gostam da posse de bola e jogadores muito habilidosos”.

Durante sua passagem, o lateral dividiu vestiário com alguns companheiros sul-americanos, e, apesar de afirmar não ter sofrido nenhum preconceito nos jogos, admitiu que, em certas ocasiões do dia a dia, percebia um “tratamento diferente”. “Você percebe quando tem algo errado. não era diretamente, mas dava pra perceber que é por conta de onde eu venho”.

O atleta ainda relembrou um episódio infeliz que presenciou em sua trajetória pelo país com dois companheiros colombianos: “lembro que estávamos esperando na rua para ir pro treino, e nós morávamos perto de uns bancos. Veio um policial e enquadrou a gente sem respeito nenhum, dando a entender que a gente era bandido, ficamos um tempão ali e só fomos liberados quando o diretor do clube foi ajudar a gente, porque não falávamos italiano, e isso é uma situação bem desanimadora.”

Durante os tempos de dificuldade, o jogador encontrou conforto em sua fé e conta como uma igreja perto de onde morava o ajudou a superar os obstáculos . “Teve uma igreja que me recebeu de forma maravilhosa, eu e o brasileiro que morava comigo frequentávamos ela, foi realmente um presente. nem tudo é só futebol, tem uma vida ali também”.

O lateral terminou o campeonato tendo atuado em 24 jogos como titular e somado 2 gols e 2 assistências, porém, o Lavello acabou sendo rebaixado ao final da competição. Mesmo assim, o brasileiro cita sua experiência como gratificante. “Se fosse pra resumir em uma palavra seria gratidão. mesmo com tudo que passei, foi o primeiro clube que abriu as portas pra mim fora do Brasil. Cresci muito, dentro e fora de campo, e só tenho a agradecer”.

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