Entenda os esquemas de manipulação de jogos que abalou o futebol brasileiro e levou jogadores a julgamento e até ao banimento do futebol

Por Gustavo Bastos

A operação “Penalidade Máxima”, investigação conduzida pelo Ministério Público de Goiás, investiga o possível envolvimento de jogadores em esquemas de apostas e manipulação de resultados dos jogos. Até o momento, jogadores das séries A e B são os principais alvos.

A investigação está centralizada em Goiás já que, no Campeonato Brasileirão da Série B de 2022, o volante Romário, do Vila Nova-GO, aceitou uma oferta de 150 mil reais para cometer um pênalti na partida contra o Criciúma. Porém, ele não foi escalado e tentou aliciar outros jogadores, mas não conseguiu. Essa promessa de pagamento foi descoberta pelo presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, que denunciou o caso para o MP de de Goiás.

Os esquemas funcionam da seguinte forma: quadrilhas de apostadores abordam os atletas e propõem que os jogadores tomem cartão amarelo ou vermelho ou até façam pênalti, para depois poderem apostar nesses acontecimentos e lucrar. Os atletas recebem uma quantia de sinal e depois de cumprirem o acordo recebem o restante.

Ao aceitar participar de esquemas de apostas os jogadores põem em jogo não só a sua reputação mas também a emoção dos torcedores, que levam na alma e muitas vezes na pele o amor pela sua equipe do coração. Um dos principais envolvidos é Eduardo Bauermann, zagueiro do Santos, que foi condenado a doze jogos de suspensão.

“A sensação foi a pior possível, afinal nem como torcedor, nem como jornalistas, queremos acreditar que o esporte que cobrimos passa por situações como essa”, disse, Felipe Noronha, jornalista da TV Cultura.

Além de Bauermann, Paulo Miranda, atualmente sem clube, Ygor Cárius, do Sport, Moraes, do Aparecidense-GO, Matheus, sem clube, Gabriel Tota, do Juventude e Kevin Lomónaco, do Red Bull Bragantino, foram a julgamento na última quinta-feira (1).

Mas o caso de Eduardo Bauermann foi o que mais chamou a atenção desde o início das denúncias, já que ele estava em ascensão no Santos.

Foto:Arquivo pessoal

Gabriel Tota, Matheus e Paulo Miranda tiveram as penas mais pesadas: Miranda foi banido por 1.000 dias, e Tota e M atheus foram banidos definitivamente do futebol. No entendimento dos auditores, os atletas tiveram envolvimento na manipulação e ainda aliciaram outros jogadores.

Na ultima terça-feira (6), foram julgados mais cinco jogadores: Ygor Catatau, hoje no Irã, Allan Godói, Paulo Sérgio, André Queixo e Matheusinho, todos eles que atuavam pelo São Luís. Catatau teve a maior pena: o atleta foi banido e terá que pagar uma multa no valor de R$ 70 mil, já que para os auditores ele articulou manipulações e aliciou um grupo de atletas do Sampaio Corrêa, clube que atuou no último ano. Os julgamentos foram conduzidos, respectivamente, pela 4ª e 5ª Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

Se olharmos pelo lado financeiro, é intrigante pensar como atletas de alto nível no cenário nacional possam ter envolvimento em esquemas de manipulação, já que o lucro com as apostas era menor do que os seus salários, principalmente os da Série A.

“Não é possível citar motivos, afinal a justiça não declarou ninguém culpado, mas podemos apenas cogitar algumas situações que envolvem problemas típicos da sociedade, como muito dinheiro rápido, facilidade, enfim, nas mãos de pessoas que passaram dificuldades na vida anteriormente”, comentou Felipe Noronha.

Esse esquema de manipulação acabou sendo facilitado por conta da chegada ao Brasil das chamadas “bets”, como são conhecidas as casas de aposta.

A forte presença dessas casas de apostas começou a ser sentida já na última edição do Brasileirão, quando os 20 times tinham patrocínio com alguma casa de apostas e, dessas equipes, sete tinham as casas com patrocinador master.

Na edição deste ano do Campeonato Brasileiro, as casas de apostas patrocinam a própria organização do torneio. Noronha explica que as “bets” são as maiores vítimas desses esquemas, já que as quadrilhas se aproveitam das casas para lucrar em cima das suas odds, que são as chances de algo acontecer.

A manipulação dos jogos é um problema de complicada solução, que pode afetar o futuro das casas de apostas no Brasil. “O primeiro passo é termos leis mais fortes sobre isso (casas de apostas). Nada é regulamentado nesta questão no país ainda. O outro ponto é cultural. E, ainda, podemos cogitar que punições exemplares abram o olho de outros que possam cogitar participar de esquemas”, completa Noronha.

Veja as sentenças:

Moraes (Aparecidense-GO): 760 dias de suspensão e multa de R$ 55 mil.

Gabriel Tota (Ypiranga-RS): banimento e multa de R$ 30 mil.

Paulo Miranda (sem clube): 1.000 dias de suspensão e multa de R$ 70 mil.

Eduardo Bauermann (Santos): suspensão por 12 jogos.

Igor Cariús (Sport): absolvido;

Fernando Neto (São Bernardo): 380 dias de suspensão e multa de R$ 15 mil.

Matheus Gomes (sem clube): banimento e multa de R$ 10 mil.

Kevin Lomónaco (Bragantino): 380 dias de suspensão e multa de R$ 25 mil.

Allan Godói – atualmente no Operário (PR): absolvido.

André Queixo – atualmente no Nam Dinh (Iraque): multa de R$ 50 mil.

Mateusinho – atualmente no Cuiabá (MT): 720 dias de suspensão e multa de R$ 50 mil.

Paulo Sérgio – atualmente no Operário (PR): 720 dias de suspensão e multa de R$ 70 mil

Ygor Catatau – atualmente no Sepahan (Irã): banimento e multa de R$ 70 mil.

Deixe um comentário