Equipes masculina e feminina do Corínthians vivem momentos antagônicos: enquanto elas colecionam vitórias, eles amargam derrotas e lutam para escapar do rebaixamento no brasileirão.

Por Higino Diego Carvalho

A atual disparidade entre as equipes feminina e masculina do Corinthians é mais um dos sinais dos problemas administrativos enfrentados pelo time e mais uma das amostras de como o futebol feminino é pouco valorizado no Brasil.

Desde o começo do ano, o time masculino do Corinthians enfrenta um período de incertezas, tendo uma série de oscilações que vão desde atuações ruins, que já renderam alguns episódios como a eliminação dentro da própria Neo Química Arena diante o Ituano pelo Paulistão 2023 e a atual briga para fugir da zona de rebaixamento no campeonato brasileiro. Há, é claro, alguns desempenhos bons, como as duas classificações heróicas na Copa do Brasil contra Remo e Atlético Mineiro.

Em contrapartida, as Brabas (apelido da equipe feminina) são as atuais líderes do Campeonato Brasileiro e já até levantaram uma taça no ano, a da Supercopa do Brasil Feminina sobre o time do Flamengo em fevereiro deste ano. Vale ainda mencionar a avalanche de bons resultados, e desempenhos, que elas vêm demonstrando dentro de campo, que as colocaram como as adversárias a serem batidas no âmbito nacional e continental no atual momento.

G1, Foto: Marcos Ribolli

Todo esse cenário deixa a torcida corinthiana em uma posição no mínimo contraditória, já que alguns torcedores ficam satisfeitos, e até orgulhosos, pelo o que as meninas já fizeram, e vêm fazendo, mas ainda continuam preocupados para onde caminha o futebol dos rapazes.

“Como torcedora, é triste ver a fase do Corinthians masculino, pois nenhum torcedor gosta de ver seu time perdendo, mas acho que o masculino poderia valorizar mais o feminino e se inspirar nelas para conseguir almejar títulos e com isso fortalecer ainda mais a instituição Corinthians que é o time que tanto amamos”, comentou Vitória Liri, torcedora Corintiana e estudante de Educação Física pela Unesp Bauru.

É importante ressaltar que essa diferença entre o momento dos dois elencos não é algo de hoje, mas sim um cenário que vem se desenvolvendo já há um tempo. Isso pode ser dito quando vemos que o último título do masculino foi o Campeonato Paulista de 2019 sobre o rival São Paulo. Desde lá, obteve no máximo algumas bolas na trave como os vices no Campeonato Paulista 2020 e Copa do Brasil 2022, para Palmeiras e Flamengo respectivamente.

CBN, Foto: Jhony Inacio/Agencia Enquadrar/Agencia O Globo

Em contrapartida, as meninas não poderiam ter um aproveitamento melhor se contarmos apenas os últimos quatro anos: nesse período, foram 11 taças conquistadas e alguns títulos de expressão, como Campeonato Brasileiro, Paulista e Libertadores da América.

Ainda que os dois times façam parte da mesma instituição, ambos estão seguindo caminhos diferentes em seus métodos de trabalho e gestão esportiva, o que claramente acaba refletindo dentro de campo.

“Acho que o Corinthians masculino tem muito a aprender com o feminino em decorrência dessa situação. No feminino o time foi uma construção de muitos anos, mantendo a comissão técnica, acreditando e incentivando as categorias de base e tendo gente competente na diretoria que acreditou e investiu no time, o que não acontece no masculino”, diz Vitória.

Ela explica também que, “por ser um mercado muito rentável e imediatista, os jogadores são vendidos e trocados constantemente e cada ano tem um técnico novo não dando a liberdade para ele conseguir construir o que ele acredita como sendo o melhor para a equipe. Isso me faz desacreditar um pouco no esporte masculino, pois me parece que valorizam muito mais o dinheiro do que o esporte em si”.

Sobre esse ponto, é importante ressaltar que o técnico Arthur Elias, comandante do time feminino do Corinthians, se encontra no cargo desde 2016, ainda dos tempos de Corinthians/Audax (parceria entre os dois times que se encerrou em 2017). No mesmo intervalo de tempo, o masculino teve 14 trocas de técnicos, o que se torna mais uma amostra de como os momentos dos times são diferentes, sendo que enquanto uma equipe já possui uma metodologia de trabalho consolidado que já rendeu frutos, a outra tenta iniciar um trabalho que tem como principal objetivo sobreviver tempo o suficiente para começar a desenvolver alguma ideia de futebol para que possa apresentar a torcida.

Fora todas as diferenças que as equipes vivem, é impossível não mencionar o abismo financeiro que as duas modalidades possuem. Um exemplo é a diferença salarial entre os atletas, já que segundo informações do jornalista Jorge Nicola no seu blog no Yahoo, o “custo” que as meninas deram ao Corinthians no ano de 2020 foi de aproximadamente 5 milhões de reais em toda a temporada (doze meses de salário mais décimo terceiro), enquanto os salários dos rapazes rodeava as casas dos 14 milhões de reais em apenas um mês de trabalho.

Mas há ainda as diferenças entre as premiações que os times recebem pelas suas colocações no campeonato. Uma pequena amostra dessa gigantesca diferença é a premiação recebida pelas Brabas na conquista pelo título do Campeonato Brasileiro Feminino 2022, algo em torno de um milhão de reais, enquanto no mesmo ano, o time masculino recebeu 38,2 milhões de reais pela singela colocação de quarto lugar.

Vitória comentou sobre falando como o investimento é essencial para a modalidade, pois ele é um esporte praticado no país, mas pouco valorizada e o quão bem esse reconhecimento traria para a causa: “essa valorização trás para as jogadoras mais segurança financeira, melhores condições de treino, melhores lugares para treinamento, melhor equipe técnica para que elas possam apenas focar no futebol e melhorar ainda mais sua performance no individual e no coletivo”, comentou a estudante.

Por último, também é importante falar sobre a distância no relacionamento entre os dois grupos que foi constatado por alguns veículos, como GE e o Meu Timão, nas últimas semanas em decorrência da passagem do técnico Cuca pelo time masculino. Isso ocorreu por causa de um texto que foi postado nas redes sociais das atletas do time feminino em forma de protesto pela contratação do técnico, que conta com uma condenação de estupro na carreira.

Pelo que foi ventilado nos bastidores, os integrantes que fazem parte do time feminino, como atletas, diretoria e comissão técnica, andam sofrendo internamente por causa desse manifesto, já que algumas pessoas de dentro da instituição viram o posicionamento como uma traição contra a atual direção do clube, que foi uma das mais incentivadoras da modalidade.

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