
Vida urbana na capital chinesa, Xangai, contrastando os subúrbios e os modernos arranha-céus (Foto: Unsplash)
Texto Alternativo: Imagem de uma rua suburbana chinesa. Há transeuntes nas calçadas e pessoas atravessando a rua. Ao fundo, é possível ver um grande e moderno arranha-céu.
Pela primeira vez em quase 80 anos, a China se vê como apenas a segunda nação mais populosa do mundo. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), a Índia se tornou, no final do mês de abril de 2023, a nação com o maior número de habitantes – com cerca de 1,428 bilhão de pessoas. A China, por sua vez, conta com 1,425 bilhão de habitantes, 3 milhões a menos que a nação indiana.
A evolução da população chinesa não foi uniforme ao longo do último século, e as perspectivas para o século XXI apresentam à China uma série de desafios, mas também oportunidades. Embora o país tenha conseguido conter o crescimento populacional através de políticas governamentais, o passar das décadas mostrou que o grande contingente populacional não está livre de desafios a serem enfrentados.
Estima-se que a população da China chegue, em 2050, a 1.3 bilhão de habitantes, quase 100 milhões de pessoas a menos que os números atuais. Ainda assim, esse cenário só se agravará, uma vez que no ano de 2100, segundo a ONU, a população chinesa deve chegar a apenas metade do que representa hoje: por volta de 760 milhões de habitantes.
Essa situação nem sempre foi assim, porém. Segundo o professor e geógrafo Leandro Campos de Oliveira, “a China até a década de 70 era um país subdesenvolvido. Entretanto, foram implantadas reformas econômicas, e a China começou a se desenvolver rapidamente. Quando um país passa por uma evolução em termos socioeconômicos, como na saúde, a taxa de mortalidade cai e há um aumento no crescimento vegetativo: a população cresce de forma acelerada”.
É por essa razão que, desde 1970, a população chinesa cresceu 600 milhões de habitantes. Esse crescimento concentrado, porém, vem diminuindo nas últimas décadas, e a China do século XXI se depara diante de outra realidade. O professor explica que “o governo chinês começou a notar que a população estava aumentando muito rápido e em 1980 criou, então, a política do filho único, em que as pessoas nas áreas urbanas podiam ter apenas um filho e nas áreas rurais podiam ter dois. A população começou a crescer num ritmo menos acelerado”.
Além disso, a urbanização também contribuiu para a atual situação demográfica chinesa. “A tendência é que haja uma redução da taxa de natalidade. O acesso à educação leva a outras prioridades além dos filhos, como a estabilidade financeira. O custo de vida é mais caro, e o que os pais podem oferecer aos seus filhos é menos financeiramente acessível nos grandes centros urbanos”, complementa Leandro.

Ambulância em movimento no centro de Macau, China (Foto: Unsplash)
O professor adiciona que a China enfrentará consequências frente a esse envelhecimento populacional. “O país tem um número de idosos muito grande, e eles estão inseridos no sistema previdenciário. O governo deve se preocupar com o déficit na previdência, em que a população ativa, os trabalhadores, são insuficientes para contribuir econômica e tributariamente com todos os idosos que recebem essa aposentadoria”, explica.
Ele cita, além disso, possíveis lacunas nas garantias de bem-estar e acessibilidade. “Há maior demanda por medicamentos, tratamentos especiais, consultas médicas. Em termos de convivência, o governo tem que pensar na questão do transporte e em proporcionar aos idosos uma qualidade de vida melhor: parques, praças, espaços públicos, e na mobilidade urbana. Acomodar essa população idosa, portanto, tem um custo mais elevado”, afirma.
O professor reconhece, ainda, que a China pode ser abalada numa visão internacional quanto à redução de sua população. “A China sempre foi caracterizada pela atração econômica por conta da abundante mão de obra”.
Ele finaliza dizendo, porém, que esse aspecto está em transformação: “A evolução tecnológica está predominando. Hoje, muitas fábricas não precisam mais de tanta mão de obra quanto precisavam. A China investe em equipamentos e máquinas, e uma grande parcela dos trabalhadores é altamente qualificada, o que rompe com esse ‘paraíso da mão de obra barata’”, completa.
