Com a mudança no cenário do rap nacional, surge o debate acerca dos assuntos debatidos nas letras.

Por Livia Ruela

O recente lançamento de MC Daniel e Nog “O que tem tatuado no c* da Anitta?”, anunciado no dia 12 de abril, causou falatório entre os fãs de rap, levantando debates na internet sobre a possível elitização do estilo musical para agradar o novo público ou se isso corresponde a uma inovação do rap como estilo musical.

Inicialmente, o rap dispunha de um traço revolucionário para com a sociedade, de modo a criticar injustiças sofridas pela população, principalmente da periferia. Porém, atualmente os assuntos mais discutidos nas letras miram em uma realidade distante da maioria dos brasileiros, de ostentação e luxo, deixando um pouco de lado pautas políticas das favelas.

De fato, o rap tem ganhado cada vez mais popularidade entre os jovens brasileiros. Com 46% a mais de ouvintes nas plataformas digitais em relação à 2017, o consumo da música também torna necessário mais inovações no nicho, e, dessa forma, é comum que artistas de outros estilos musicais migrem eventualmente para o rap.

Contudo, a consolidação dessa “mistura” de elementos no meio musical não inovou apenas no artista, mas nas pautas debatidas no rap nacional. Segundo o rapper e youtuber Guilherme Trezze, mais conhecido como FalaTuZetre, existe uma modificação no público do rap, novas gerações de ouvintes aliadas a uma nova geração de artistas com propostas diferentes. Entretanto, não há um padrão.

Rapper e Youtuber FalaTuZetre

“Antes o ‘padrão’ era um rap mais protestante, mais ligado à realidade da favela, e hoje em dia é uma letra mais abrangente, que fala sobre tudo. Tem rap de festa, rap de drogas, não necessariamente com letras ligadas só a protestos”, explica o youtuber.

Desse modo, a popularidade do estilo musical não se funda apenas no conteúdo em si, mas na música como um todo.

O rapper acrescentou que “ainda existe o rap “padrão” mais de protesto, como, por exemplo o Eduardo Taddeo, ex membro do Facção Central. Ele continua no estilo crítico dele até hoje”.

É importante salientar que mudanças nas letras através dos anos ocorrem em praticamente todos os estilos musicais. No sertanejo, por exemplo, era mais comum o debate acerca da vivência rural, já nos dias de hoje, com o sertanejo universitário, os temas migraram para relacionamentos sociais de um modo geral.

A diferença real entre os estilos musicais e as críticas sofridas é a procedência. Enquanto o atual sertanejo vem, no geral, da elite rural, o rap, embora com mudança nas pautas e artistas, ainda vem da periferia.

Consequentemente, é possível notar como é aceito socialmente ver outros núcleos, que não a periferia, cantando sobre o que tem vontade, não apenas sobre as irregularidades a que são acometidos.

Quando o mesmo fenômeno ocorre com gêneros musicais provenientes de classes desfavorecidas, a crítica costuma classificar como “perda de essência” e “elitização”. “Tem gente que se atualiza e gosta de ouvir coisa nova, e tem gente que só curte o ‘rap das antigas’, varia de pessoa pra pessoa”, salienta ‘Zetre’.

De acordo com o youtuber, atualmente o público pede por músicas mais descontraídas, e assim, é interessante que artistas de diferentes ritmos sintam-se abertos à entrar no mundo do rap.

No sertanejo, por exemplo, era mais comum o debate acerca da vivência rural, já nos dias de hoje com o sertanejo universitário os temas migraram para relacionamentos sociais de um modo geral. 

“O rap com crítica social não está perdendo espaço, sempre vai existir e é a base do rap. Rap é uma ferramenta de protesto e sempre vai ser. Mas se inova e isso é normal, o rap é para todos”, finalizou Guilherme Trezze.

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