Por Letícia Rosa
Desde 2019 o mundo vive a febre do TikTok, rede social chinesa que ficou conhecida pelos vídeos rápidos de dança e se tornou muito popular entre os jovens da geração Z. Mas muito além de fazer com que pessoas e dancinhas se tornem famosas, o aplicativo passou a criar tendências e influenciar na escolha de vestuário dos seus usuários ativos, que desde 2021 são mais de 1 bilhão por mês.
Se no passado costumávamos acompanhar as tendências através de revistas que retratavam o que as celebridades e ícones fashion estavam usando, hoje essa informação chega com muito mais velocidade para as mãos do consumidor através dos vídeos rápidos que podem ser feitos por qualquer pessoa com um celular, criando “microtendências” que vêm e vão em questão de semanas.
A estudante de moda e modelo Malu Musa, de 18 anos, conta que utiliza a rede social para aprender um pouco mais sobre as tendências e inspirar seu próprio estilo. “Hoje temos uma facilidade maior de acessar conteúdos sobre estilo e como usar certas peças, o que facilita muito na hora de comprar algo e também de saber com o que eu mais me identifico. Inclusive há pessoas que têm um conteúdo majoritariamente de inspirações para looks”.
Com toda certeza, o estilo de vídeo mais popular atualmente no universo virtual da moda é o chamado “Get Ready With Me”, o “Arrume-se Comigo” em português, é o momento em que os criadores digitais mostram o processo de composição de seus visuais, fazendo com que seus seguidores se sintam no quarto se preparando junto com o protagonista do vídeo.
Malu que se diz uma consumidora assídua desse tipo de conteúdo diz que o que captura sua atenção nesse formato, além da abordagem divertida e da construção do próprio visual, é justamente a sensação de identificação e proximidade que os vídeos passam e a possibilidade de incluir pessoas com os mais variados estilos. “Qualquer pessoa pode fazer um vídeo assim em qualquer momento, em qualquer ocasião”.
As mídias tradicionais continuam tendo sua importância para o mundo fashion, porém não há como negar que para essa nova geração o impacto que vídeos como esses nas redes sociais é muito mais visível.
Mas os jovens não estão limitados apenas a assistir, a influenciadora conhecida como Nath Carvalhor conquistou mais de 320 mil seguidores na rede com seus conteúdos sobre moda que mostram desde sua rotina na faculdade até recriações de looks de personagens icônicos.
Na opinião dela, a plataforma serve como uma forma de democratização da informação de moda. “O TikTok começou a entregar conteúdos de moda para pessoas fora da bolha, então conseguiu expandir muito mais esse conhecimento. Além disso, com a variedade de criadores é muito mais fácil encontrar um que vai explicar sobre o assunto que você quer”, diz a comunicadora.
Por outro lado, é preciso tomar cuidado com toda a aceleração das trends já que elas podem incentivar o consumidor que é influenciado pelos vídeos a comprar cada vez mais.
“Tudo tem seus prós e contras. Ao mesmo tempo que é bom para democratizar o conhecimento de moda, muito não é falado e exposto na internet, assim como as marcas utilizam das plataformas para criar cada vez mais desejo nas pessoas, contribuindo para o consumismo”, cita a estudante Malu, que ainda menciona o perigo de dar audiência para conteúdos que romantizam de produtos, opiniões e tendências elitistas.
Apesar da problemática, Nath Carvalhor conta com uma visão mais positiva do aplicativo. “Antes do TikTok e do aumento da criação de conteúdo em outras redes sociais, a moda estava muito ligada a uma visão elitista e de pouco acesso. Muitas pessoas não sabiam de fato como a moda influencia as escolhas delas e achavam que era algo fútil ou ligado apenas às passarelas. Com a criação de conteúdos mais leves, as pessoas conseguiram expandir a visão de moda para áreas como estilo pessoal, styling, consultoria. Elas começaram a ter mais consciência do que vestem e viram que a moda também é uma forma de expressão”.
Ambas as jovens enxergam as redes sociais no futuro de suas profissões; Nath que quando entrou na faculdade em 2020 nem pensava na possibilidade de gravar vídeos para a internet, hoje enxerga a ferramenta como algo essencial para impulsionar seu sonho de criar uma marca. Já Malu pretende usar o app como forma criar uma rede maior de alcance onde possa se promover e ao mesmo tempo expressar suas visões e ideias pautando a sustentabilidade no meio da moda.
Ao serem questionadas sobre o futuro da plataforma, as respostas exploram caminhos diferentes: Nath comenta que os impactos da rede na moda não só devem como já estão se tornando maiores.
“Acredito que a influência tende a aumentar e que se torne (se já não se tornou) o novo ‘blog’. Cada vez mais influenciadores, it girls e blogueiras “antigas” estão entrando para a plataforma, adaptando o conteúdo delas e se tornando mais pessoais, então a influência delas está migrando para o TikTok também, como se estivessem se “atualizando”.
E junto delas, surge cada vez mais micro influenciadores e criadores de conteúdos que mostram seu estilo pessoal com vídeos do dia a dia ou vídeos fora do nicho de moda, gerando um surgimento de alguma tendência “acidentalmente” (como Charli D’Amelio, por exemplo, que influenciou bastante o estilo do público pré-adolescente, mesmo fazendo apenas danças)”.
Enquanto isso, Malu ressalta que para continuar “em alta” os criadores, independentemente do formato de vídeo, devem dar atenção ao conteúdo.
“É uma coisa muito variável, a internet sempre tem esses altos e baixos e só fica mesmo quem sabe muito bem o que faz, sabe realmente criar conteúdo útil e de valor para as pessoas. Podem aparecer tendências ou tipos de vídeo específicos que se tornem virais, porém acho que só dura mesmo quem realmente sabe fazer um bom conteúdo porque (graças a Deus) o público está cada vez mais crítico”.
A questão é que, não obstante seu futuro incerto, o TikTok já deixou a sua marca permanente na geração atual e moldou personalidades e estilos que ainda influenciarão muito na moda através da nova leva de profissionais que podem ter começado a se apaixonar pela área em um simples rolar de tela.
Jornal Contexto 