No dia 31 de maio a Câmara dos Vereadores da Cidade de São Paulo aprovou a revisão do Plano Diretor Estratégico (PDE) da cidade em primeiro turno. Em uma votação circundada de debastes feitas por urbanistas e representantes de movimentos sociais que advocam a não aprovação da revisão foi realizada com uma vitória de 42 votos favoráveis em oposição a 12 contrários. O debate e a revisão giram em torno da verticalização, da construção ao redor de metrôs e do derretimento das moradias populares, e desta forma, contribuindo para a gentrificação.
Gentrificação e segregação espacial
Por Pedro Santos
A gentrificação é um termo originário do inglês gentrification. Palavra introduzida por Ruth Glass em 1964 para descrever o processo de substituição de uma população mais pobre de uma região por uma mais rica. O que acarreta em mudanças estéticas e em uma elitização do espaço. Todavia, é importante ressaltar que esse processo é apenas um elemento da segregação socioespacial. Segundo o arquiteto e urbanista, Alex Sartori, pela utilização errônea e a definição vaga do termo, o processo não é uma boa métrica, todavia, é um indicativo das dinâmicas espaciais da cidade.
Essa questão é desenvolvida por autores como Neil Smith e David Harvey, que relacionam o processo de gentrificação com as dinâmicas sociais no geral. Ou seja, caso a sociedade se organize de forma excludente, o espaço se construirá assim.
Nas palavras do urbanista e urbanista e sociólogo Robert Parks, citadas pelo sociólogo David Harvey em matéria da Revista Piauí, a cidade é “a tentativa mais bem-sucedida do homem de refazer o mundo em que vive mais de acordo com os desejos do seu coração. Mas, se a cidade é o mundo que o homem criou, é também o mundo onde ele está condenado a viver daqui por diante. Assim, indiretamente, e sem ter nenhuma noção clara da natureza da sua tarefa, ao fazer a cidade o homem refez a si mesmo”.
No caso, a sociedade brasileira ainda se mostra patriarcal, racista, lgbtfóbica e capacitista dentre outras coisas. Então, assim, o meio urbano se configura. Não sendo inclusivo, e, além disso, segregando as elites em suas regiões de privilégio, ou seja, se isolando com recursos em seu meio enquanto expulsam as pessoas de menor renda às regiões com uma menor qualidade de vida, assim de menor interesse e menor valor, locais em que o acesso à infraestrutura é escasso, como as favelas e loteamentos irregulares espalhados pelas periferias.
Um exemplo ilustrativo pode ser observado na região ao redor da Avenida Paulista, onde as elites migraram devido a mudanças nos seus interesses, desejos que determinam os rumos de construção da cidade visto que as elites econômicas têm capital e influência suficientes para moldar a cidade à seu gosto.
Existia, antes da época de sua criação da Paulista, um interesse das elites no Centro, pois possibilita o acesso à malha ferroviária e a uma região gourmetizada com lojas de luxo e outras comodidades. Uma vez que o acesso popular ao centro cresceu e a busca pelos trens cessou, o glamour caiu e o Centro foi abandonado. Desta forma, a Paulista foi construída, uma região elitizada com custos de vida altos e repleta de aparelhos culturais, características que se mantém até hoje.
O processo de construção das cidades, como visto no exemplo, é ditado pelas classes dominantes para formar as cidades em torno dos seus interesses e necessidades. Isto também pode ser visto através da distribuição dos aparelhos de cultura ou com a construção das linhas de transporte, estes que se concentram nas regiões mais brancas e ricas da cidade.


É mister ressaltar que, com isso, populações que vivem nas periferias das cidades levam mais tempo para se locomover até as áreas com maior concentração de emprego ou, por exemplo, mais infraestrutura hospitalar. Assim tendo sua qualidade de vida diminuída com a negação do seu acesso à cidade.
Ainda, há de ser dito que existe um acúmulo de infraestrutura urbana que se concentra na região sudoeste da cidade, divisão criada pelo professor Flávio Villaça, importante nome para o urbanismo no Brasil. Também, essa área do sudoeste composta por bairros como Vila Mariana, Pinheiros e Moema que apresentam populações mais brancas e ricas.

Ao mesmo tempo, as regiões periféricas apresentam maior vulnerabilidade social, menos acesso à infraestrutura e à cidade pelas dificuldades com transporte. Distritos como o Grajaú, Jardim Ângela e o Capão Redondo. Sendo que suas populações são majoritariamente negras e pobres. Também, são nessas áreas que se vê a maior concentração de loteamentos irregulares, favelas e moradias em terrenos considerados de risco geológico.



