Estranha forma de vida‘ estreia nesta sexta (26) nos cinemas espanhóis 

O casal de caubóis do diretor espanhol (Foto: Reprodução)

Por Davi Marcelgo

Nesta sexta-feira (26), “A estranha forma de vida”, novo curta-metragem do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, estreia nos cinemas da Espanha. Ainda sem previsão para chegar no Brasil, o filme foi exibido na semana passada (17) no Festival de Cannes, retomando a discussão das novas histórias de faroeste.

A trama do lançamento narra a história de dois homens ex-amantes, que anos mais tarde se reencontram após um crime cruzar suas vidas. Por décadas, o gênero de faroeste (western nos EUA) foi protagonizado majoritariamente por homens brancos-cis-héteros, porém desde a década de 90, alguns cineastas arriscaram visões e protagonismo feminino e homossexual num solo inexplorado.

Para o professor e especialista em cinema Fábio Rockenbach, a conquista dos novos personagens é “muito mais emblemática porque temos esses personagens colocando o pé num espaço culturalmente, simbolicamente marcado por restrições de qualquer coisa que não fosse representado pelo homem, pelo machismo, pelo conservadorismo”.

Longas-metragens como Rápida e Mortal (1995), O segredo de Brokeback Mountain (2005) e O ataque dos cães (2021) são exemplos da nova era de western que duelam contra “a presença masculina como gênero. Não só fisicamente, [como também] pela função dos personagens na história”. Fábio completa dizendo que “a mulher sempre foi um acessório pra essa narrativa”. Para ele, o impacto no gênero é representativo, pois invade um espaço limitado para mulheres e outras minorias.

Durante as décadas de 50 e 60, com os ideais da família americana, os faroestes dominaram Hollywood, mas sem criar ícones para além de rostos como o de John Wayne. A época não era aberta a inclusão de todos os tipos de pessoas e isso não ficou de fora da indústria cinematográfica, que preferia escalar e maquiar atores brancos para interpretar personagens de outras etnias.

Em retrospectiva, para Fábio, a ficção e o terror tiveram protagonismo feminino, que inclusive ajudam a identificar atores e personagens, mas isso não atingiu o western. Existem raras exceções que “vão dar protagonismo para uma mulher agindo como uma mulher, vestida como uma mulher”. 

Sigourney Weaver protagonizou a franquia ‘Aliens‘ (Foto: Reprodução)

Agora, após a emancipação de pautas e movimentos sociais, o mercado e a arte precisaram reparar dívidas históricas. Com as fronteiras abertas, o professor de cinema diz que “hoje não existem espaços restritos no cinema, na arte em geral para pensamento retrógado”.

Enquanto a indústria e autores estão interessados em contar histórias do velho oeste com uma nova ótica, uma parte do público é relutante com a presença de pessoas não normativas nas telonas. A atriz Brie Larson enfrentou fortes críticas dos nerds de carteirinha que promoveram boicote do filme Capitã Marvel em 2019. Até hoje alguns não aceitaram a Pequena Sereia negra de Halle Bailey. E para um nicho tão específico de histórias criadas por homens para homens essa missão pode ser ainda mais complicada.

A Capitã Marvel foi a primeira heroína da Marvel a ganhar filme solo (Foto: Reprodução)

Os contrapontos para os clássicos de bang-bang vieram para ficar, mesmo com os desafios. “As pessoas podem não parar pra pensar nisso, mas quando elas começam a ver faroestes protagonizados por personagens femininos ou no caso de O segredo de Brokeback Mountain deu muita repercussão na época, e ela é boa. Ainda que a pessoa [as preconceituosas e relutantes com os novos tempos] não assista aquele filme, esse impacto fica na cultura popular, e acho que isso é o mais importante”.

Ele explica ainda que ter um cineasta como Pedro Almodóvar e atores [Pedro Pascal e Ethan Hawke] que eram marcados por uma representação habitualmente heterossexual é extremamente significativo. “É difícil você não ver matérias que vão falar que é um western dirigido pelo Almodóvar e protagonizado por atores que interpretam um casal gay. Isso marca porque a história do gênero é diferente e independente da pessoa querer assistir ou não, no caso da preconceituosa, essa marca fica, gostem elas ou não”, conclui.

O filme estrelado por Pedro Pascal e Ethan Hawke chegará ao Brasil através da plataforma de streaming Mubi, mas ainda sem data definida. 

Conheça os novos faroestes 

Rápida e Mortal (1995)

Ellen (Sharon Stone) volta ao vilarejo de sua infância para vingar a morte do seu pai. O longa dirigido por Sam Raimi propõe reflexões acerca da velha regra “Isso é coisa de homem” e aborda temas como estupro de vulnerável.

(Foto: Reprodução)

O segredo de Brokeback Mountain (2005) 

Os peões Jack (Jake Gyllenhaal) e Ennis (Heath Jedger) se apaixonam e vivem um relacionamento conturbado. Um deles está preso a um passado brutal.

(Foto: Reprodução)

Django Livre (2012)

Neste longa de Tarantino, o ex-escravo Django (Jamie Foxx) realiza uma caçada contra um fazendeiro escravocrata.

Domando o destino (2017)

A diretora vencedora do Oscar, Chloé Zhao, conta uma triste história de perda e adaptação.

(Foto: Reprodução)

O ataque dos cães (2021)

O mais recente da lista, vencedor de Oscar, narra a história de Phill (Benedict Cumberbatch), um fazendeiro indomável que guarda secretamente uma paixão do passado.

(Foto: Reprodução)

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