Criar hábitos saudáveis enquanto criança gera desenvolvimento físico, cognitivo e social, além de formar adultos mais felizes.
Por Amanda Silva Lima

Jovens nascidos num contexto tecnológico, com desenvolvimento biológico e social diante da era digital, e com acesso rápido a informações, foram chamados, por Marc Prensky, de nativos digitais. Ao mesmo tempo em que cresceram com uma rotina facilitada pela tecnologia, convivem com as consequências de uma vida sedentária em frente às telas. Os problemas podem variar desde dificuldades para dormir até o desenvolvimento de doenças graves.
A educadora física, psicopedagoga e terapeuta, Alessandra Muniz, atua no ramo da educação há 29 anos e comentou sobre suas percepções em relação ao desenvolvimento da criança acompanhado pela prática de exercícios físicos. “Acredito que, por estar há tantos anos na área, sempre vi que o esporte é fundamental na vida do ser humano e ainda mais na vida de uma criança. Quando ela pega o gosto pelo esporte e pela atividade física é transformador, principalmente na parte do desenvolvimento cognitivo”, relatou.
Ela e mais dois colegas de profissão, movidos pelo desejo de levar mais saúde às crianças, criaram uma academia infanto juvenil, localizada em Poços de Caldas, Minas Gerais, que trabalha, de forma lúdica, o desenvolvimento físico e cognitivo. O empreendimento recebe o nome de “Getup” que, traduzido do inglês para o português, significa “levante-se”. A ideia é transmitir a urgência em sair do computador e viver uma infância plena e saudável, levando-se em conta os anos de pandemia que limitaram as atividades realizadas na primeira fase da vida.
O exercício físico faz com que as crianças se tornem mais responsáveis e habilidosas, uma vez que trabalha o cumprimento de regras, bom convívio social e a coordenação motora.

Alessandra conta que a equipe recebeu muitos relatos surpreendentes de pais, que notaram melhora em todos os aspectos do comportamento dos filhos. “Recebemos vários feedbacks positivos, alegando que atingimos a qualidade do sono da criança, já que ela chega e dorme melhor e até melhora no desenvolvimento escolar não a nível pedagógico, mas a nível social. Tem mãe que nos relata que, [por causa do desenvolvimento motor], [a criança] melhorou também na escrita. Então foram vários benefícios que a gente não imaginava”, disse.
Crianças dentro do espectro de transtorno autista (TEA) também participam das atividades realizadas pela academia. Algumas recebem o laudo de não verbais, ou seja, não se expressam por meio da fala e, por meio do esporte, elas apresentam avanços nesse aspecto. No entanto, o diagnóstico não altera a realização das atividades. Pelo contrário, há um processo de adequação e cada criança é respeitada conforme suas demandas.
A educadora física alerta para a necessidade também de uma boa alimentação. O esporte é essencial para o bem-estar mas, se não for acompanhado de alimentos nutritivos, os resultados são muito menos satisfatórios.
“Toda comida que você consome vai ser distribuída para o seu organismo. Então, se você ingere vitaminas, você está mandando vitaminas para o seu organismo. Se você ingere um hambúrguer ou um pão, que são carboidratos, ele vira açúcar no seu corpo. O açúcar inflama as células. Então, se as crianças comem doce, inflamam as células e ainda não tomam água. Sem água e vitaminas para mandar ao corpo, elas vão ter insônia, agitação e problemas de concentração na escola. E é tudo uma somatória. É um corpo só, que tem que ser olhado de uma só forma”, destacou.
Os pais inserem as atividades físicas na rotina dos filhos apenas quando estes apresentam problemas mais sérios, como obesidade ou complicações cardíacas. Contudo, é importante que o esporte se torne um hábito prazeroso antes de ser uma necessidade fatal, não só na vida das crianças, como também das famílias.

Para a terapeuta, no entanto, o maior benefício é a felicidade gerada pelo esporte. “Eu acho que o maior benefício da atividade física é ser feliz. Porque se você hoje em dia é feliz, você consegue trabalhar e estudar. Então, se você se alimenta bem, se consegue fazer atividade física para que os hormônios estejam todos organizados, se consegue dormir bem, se você toma bastante água, é possível ser um adulto feliz”.
E em se tratando de crianças, Alessandra explica que o resultado é muito positivo. “Veja a criança, ela se transforma em uma quadra. Quando eu chego na academia e vejo os sorrisos e as crianças brincando, é muito gostoso. São 50 minutos de felicidade. Aquece meu coração, conseguir, na academia, proporcionar saúde e alegria para as crianças. Pra mim, o esporte é ser feliz”, concluiu.
