Estudo do Observatório de Futebol do CIES (Centro Internacional de Estudos Esportivos) publicado neste ano aponta que o Brasil é o maior exportador de atletas do mundo, com cerca de 1289 jogadores atuando no exterior.

Por Augusto Angeli

Frederico Conte em treinamento. Fonte: Reprodução/Redes Sociais.

Todos que sonham em ser um jogador profissional, independente do esporte, também almejam jogar e morar no exterior em algum momento da carreira. Exemplos de jogadores de futebol bem sucedidos são os que mais chamam atenção, como Neymar, Marquinhos, Vini Jr, Alison entre outros. Porém, esses exemplos são exceção quando se analisa o todo, a maioria dos atletas que atuam fora do Brasil jogam em ligas menores ou em categorias de base.

Frederico Conte, goleiro do time Sub23 do Real Valladolid, da Espanha, conta que tinha como meta atuar no exterior antes dos 20 anos. “Era algo que eu já almejava na minha vida, ir para a Europa antes de chegar aos 20. Graças a Deus consegui atingir meu objetivo e fui para fora com 18 anos”, disse.

O goleiro, atualmente com 20 anos, chegou na Espanha em 2022, contratado para integrar o Sub19 do Real Valladolid, time que o Ronaldo “Fenômeno” é dono. No Brasil, teve passagens pela base da Ponte Preta e do Athletico Paranaense.

Sair do Brasil para jogar em outro país é uma experiência única na vida profissional do atleta. Na maioria das situações, esses jogadores têm acesso a uma infraestrutura melhor em seus clubes do que teriam no Brasil, além de salários mais altos e experiências esportivas totalmente novas.

Fred explica que sair do país foi uma decisão importantíssima para a sua carreira. “A gente conhece outros estilos de jogo, passamos por grandes situações, boas, ruins e são situações necessárias. Sinto que foi muito importante para a minha carreira vir pra cá para conseguir vivenciar isso”, afirma.

Na vida pessoal do atleta, são inúmeras as experiências, tanto boas quanto ruins. Nos pontos positivos, Fred conta que o amadurecimento é um dos destaques. “Além de você estar aprendendo a falar outras línguas, você conhece novas culturas, conhece pessoas de todos os lugares do mundo e assim vai convivendo e amadurecendo junto com elas”, explica.

Algo que passa batido na maioria das vezes é a rotatividade desses jogadores por vários clubes durante esse período. Muitos têm dificuldades para se firmar e com isso acabam sendo emprestados para ganhar experiência, ou em outros casos, vendidos para times de outras ligas.

Após chegar na base do Valladolid, Fred foi emprestado ao CD El Ejido, da Espanha, por uma temporada, para jogar no time profissional e ganhar experiência. Para ele, essa oportunidade foi ótima para a sua carreira. “Foi uma experiência muito boa, porque eu pude vivenciar muitas coisas que eu ainda não tinha vivenciado e com toda certeza aprendi e amadureci muito mais do que se eu tivesse na base do Valladolid”, afirmou.

Porém, a vida do atleta que mora fora do Brasil está longe de ser um mar de rosas. Dificuldades com o idioma, adaptação com a cultura, saudades da família e preconceito são alguns dos pontos negativos que aparecem no caminho desses atletas. Fred afirma que enfrentou todos esses problemas quando chegou na Espanha.

“Além de sentir falta da família, você vai para um país no qual não conhece nada. Também senti muita dificuldade em me comunicar com meus companheiros, fora um leve preconceito por estar vindo de fora e estar ocupando uma vaga que poderia ser de um nativo do país”, contou.

Não conseguir se comunicar com os companheiros de time é só uma parcela do problema que o idioma apresenta, o goleiro afirma que esse foi o maior obstáculo que ele enfrentou morando na Europa. “A dificuldade de me comunicar não era só com meus companheiros, mas também com coisas básicas, como ir ao mercado e dizer o que eu queria. Acho que essa é a maior dificuldade que eu poderia apontar”, disse.

Reconhecendo que a língua é o maior problema para seus jogadores estrangeiros, o Real Valladolid oferece aulas de espanhol como solução. Fred teve alguns meses de aula que foram essenciais para melhorar sua comunicação. “Com toda certeza essas aulas me ajudaram a entender melhor o espanhol. Se não me engano tive 3 a 4 meses de aula”, conta.

Estar longe da família também é apontado com uma das maiores dificuldades quando o atleta atua no exterior. Para Fred, todo jogador em algum momento da carreira vai precisar abrir mão de estar perto da família. “É um pouco difícil por conta da saudade, mas é uma coisa que todo jogador tem que abrir mão. Nunca é uma coisa boa estar distante da família, mas acaba que é algo que a gente se acostuma”, confessa.

Ser atleta profissional não é fácil. É necessário cuidar do corpo, da alimentação, regular o sono, além de abrir mão de estar com a família e amigos em momentos importantes para participar das competições. Quando se está sozinho morando fora do Brasil, esses desafios são ainda maiores. Fred conta que apesar das dificuldades, essa experiência o ajudou a amadurecer muito não só como atleta, mas também como pessoa.

“Sinto que isso me mudou. Ainda bem que me mudou pra melhor. Hoje eu tenho outra cabeça, outra maturidade, uma outra visão de tudo na minha vida. Graças a isso, a passar por essas fases, essas dificuldades que nós passamos diariamente. Muita gente pensa que todo jogador é um Neymar, que vai ficar milionário, mas não é assim. A gente passa dificuldades todos os dias e eu sinto que por isso eu amadureci muito”, concluiu.

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