Ícone cultural, a cantora desafiou as normas e deixou um legado de estilo imortalizado no país.

Por Carolyna Bazanini

É inegável o impacto que Rita Lee deixou na indústria musical. Dos Mutantes à carreira solo, a cantora revolucionou a história do rock nacional e se tornou um grande ícone. Para além da música, ela também foi uma grande referência de estilo, sendo esse um exemplo concreto de sua autenticidade, expressividade e liberdade. 

Desde a época dos Mutantes, era ela quem participava da escolha dos figurinos, da capa dos discos até as apresentações, se utilizando de acervos dos programas de TV que participavam. Durante esses anos a cantora teve várias peças marcantes, como o icônico vestido de noiva que usou em 1969 que pegou emprestado da atriz Leila Diniz, que à época gravava a novela da Globo “O Sheik de Agadir”. 

Sobre esse figurino, a professora e pesquisadora da UNESP Ana Beatriz Andrade conta que na verdade a cantora o teria roubado. “Rita pediu o vestido emprestado para a atriz após se apaixonar vendo ela usá-lo na gravação da cena. Ela usou ele em uma apresentação do Festival Internacional da Canção e na capa do segundo disco deles, mas nunca chegou a devolvê-lo”, pontua.

Esse, porém, não foi o único “crime” cometido pela roqueira. Outro item importante do guarda-roupa de Rita e que teria sido furtado durante a década de 60 são as botas prateadas da marca inglesa Biba.

Conforme ressalta Ana, Rita conta em sua autobiografia que depois de provar elas, disse à vendedora que estavam pequenas e quando ficou sozinha na loja saiu correndo sem pagar. Relembra ainda que depois a marca chegou a fazer todo o figurino da turnê de Babilônia.

Rita sempre se utilizou da moda na contramão do convencional. Porém, foi ao se introduzir na carreira solo que passou a desenvolver o estilo que ficou guardado no ideário popular, se descolou do loiro para o ruivo, cortou sua franja e aderiu aos óculos redondos, conjunto que marcou sua imagem aos olhos do público. 

Sobre os óculos, a professora ressalta que na verdade Rita sofria de fotofobia, sendo esse o motivo de utilizá-los. “Ela começou a usar eles por não conseguir ficar em lugares com muita luz sem [os óculos] e isso acabou sendo um marco em seu estilo, se tornando uma associação instantânea hoje em dia, tanto que até chegou a produzir uma coleção em conjunto com a Chilli Beans no ano passado”.

Durante toda a sua carreira, Rita se utilizou da moda como forma de posicionamento, representando, como poucos, a coragem de moldar sua imagem para defender seus ideais. De acordo com a professora Carol Siq, graduada em Moda pela UEL, “em um Brasil dos anos 60 à 80, com forte repressão social, Rita foi símbolo de força e resistência, sua roupa dizia muito sobre si”.

Em uma época na qual rock in roll era visto como uma coisa de menino, ela se transformou em um modelo da liberdade de expressão. “Sua imagem na TV, nas revistas e jornais era como um outdoor dos valores de empoeiramento feminino que acreditava”, diz Carol.

Ela não tinha medo de desafiar as autoridades e não se incomodava em seguir as normas sociais. Rita era o tipo de mulher que falava muito mesmo calada, como no dia em que, após ser presa em meio ao regime de ditadura militar por suposto tráfico de drogas, se vestiu de presidiária no primeiro show em liberdade.

Seu estilo mostrava a personalidade explosiva que habitava em seu interior e refletia sua irreverência pela vida. Foi uma artista que, em meio às referências a David Bowie e Mick Jagger, transitou entre a estética hippie e glam rock, desconstruindo os padrões femininos da época mostrando-se ao mundo exatamente como era: uma bagunça.

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