MAURO SOUZA VENTURA, jornalista, Livre-docente em Jornalismo pela Unesp e professor orientador do Contexto.

Deixei em definitivo de viver de Jornalismo (em parte por vontade própria,  mas também por circunstâncias desfavoráveis à época) no final da década de 1990. Estava concluindo o doutorado e decidi então”virar” professor. Foi uma decisão difícil, que provocou uma crise existencial. 

A principal causa desta crise era a falta que eu sentia do ambiente das Redações, daquele contato com colegas de diferentes perfis, vocações e gostos. Numa Redação, a riqueza da experiência vinha daquela multiplicidade de personalidades jornalísticas e pessoais que compunha o ambiente. E era fascinante pertencer a uma Redação. Por alguns anos, esse ambiente fez uma falta enorme na minha vida. Acho que até hoje ainda faz…

Essa lembrança me ocorreu após a leitura do artigo de Maureen Dowd, do New York Times (FSP, 14/05/2023). A jornalista fala do crescente esvaziamento das Redações e sua substituição pelo home office, sintetizado no desabafo de um colega: “As Redações eram um núcleo instigante de fofocas, piadas, ansiedade e figuras hilárias e excêntricas. Hoje em dia ficamos sentados em casa, sozinhos, olhando para nossos computadores. Que tédio”.

O que perdemos com essas mudanças? Não conheço nenhuma outra categoria profissional que precise tanto de interação com os colegas quanto o jornalista. Uma parte significativa daquilo que chamo de “saber jornalístico” vem justamente desse contato, da troca de ideias que ocorre naquele ambiente muitas vezes caótico das Redações.  

Há relatos de que o home office, recurso extremo usado durante a pandemia, veio para ficar. E as empresas jornalísticas, aquelas que ainda tem uma sede física, adotam como rotina a presença na Redação apenas uma ou duas vezes por semana.

Sim, não podemos esquecer que o jornalismo passa por uma crise do seu modelo de negócios, mas é preciso lembrar que aquele ambiente de companheirismo e de inveja, de troca de ideias e de competição é parte fundamental da cultura profissional. 

“Receio que o glamour, a alquimia, tenham desaparecido. A partir do momento em que as pessoas se deram conta do fato espantoso de que podiam produzir um grande jornal trabalhando em casa, decidiram: por que não?”, lamenta a jornalista Maureen Dowd.

O jornalismo é uma taquigrafia da história e as Redações eram o local em que se podia ver essa taquigrafia em ação. Se isso se perder, temo que o sentimento de pertencimento do jornalista também possa desaparecer. Torço para que isso não aconteça.

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