E. C. Taubaté está há 39 anos sem subir para a primeira divisão do Campeonato Paulista. O que tem dado errado?

Elenco do EC Taubaté que disputou a série A2 na última temporada (Foto: Caíque Toledo)

João Rodrigues

Com o fim da série A2 do Campeonato Paulista de 2023, onde o EC Taubaté terminou ocupando a 13ª posição, completou-se 39 anos que o clube não sobe para elite do campeonato. Desde que caiu da primeira divisão, em 1984, o clube já esteve na série A3 algumas vezes e passou vários anos na série A2, mas ainda não voltou para a série A1.

Nos últimos dois anos, o EC Taubaté recebeu forte investimento para constituição de suas equipes e contratou nomes conhecidos, como o goleiro Felipe, os meias Marcos Aurélio e Guilherme Garré e o artilheiro Bambam, na temporada de 2022. Para o ano seguinte, vieram o goleiro William Menezes, o meia Marcelinho e os atacantes Raphael Macena e Romarinho.

Mesmo com todo esse investimento, o clube nem mesmo chegou a passar pra segunda fase da competição nas últimas duas temporadas.

Essas campanhas têm frustrado os torcedores do burro da central, que, com todo investimento realizado, esperavam brigar por coisas maiores.

Clube, fundado em 1914, aguarda há 39 anos retorno à elite paulista (Foto: Victor Cônsoli)

Em entrevista com Caíque Toledo, diretor de comunicação do Taubaté, ele disse que o problema vai muito além das quatro linhas. ”Acho que a principal raiz do problema, não só do Taubaté, mas como de 99% dos times do interior é essa busca por investimento. A gente depende de uma verba que muitas vezes não vem. A Federação disponibiliza uma verba no começo da temporada, mas ela serve mais pra logística, não pra pagar o salário dos jogadores”, disse Caíque.

“No futebol, dificilmente a bola entra por acaso. Não adianta você montar um baita time e não ter uma boa estrutura. Mas é muito difícil conseguir manter uma boa estrutura nos times do interior. A série A2 é muito disputada e difícil de jogar. Nesse ano, a Ponte Preta e o Novorizontino disputavam contra a gente, mas esses clubes têm a estrutura de uma série B do Campeonato Brasileiro. É muito difícil bater de frente”, conclui.

Além de Caíque, Victor Cônsoli, jornalista e fotógrafo do Taubaté, também citou a falta de estruturação como algo que tem prejudicado o clube. “Acho que não tem dado certo em campo porque falta algo fora. Precisamos de mais organização. Não falo nem só da gestão atual, porque, se são 40 anos sem subir pra A1, é um problema que se estende há muito tempo. A gente tem que arrumar a casa, literalmente. Precisamos cuidar do nosso estádio. Temos que arrumar o gramado e, principalmente, ter um centro de treinamento. Isso facilita até o investimento na base, que precisa de uma estrutura e já mostrou que traz muito resultado pro clube”.

Para saber com mais detalhes sobre o que acontecia dentro do clube, Gilsinho Rezende, ídolo e ex-presidente do EC Taubaté foi consultado. Ele disse que a pandemia tornou as coisas ainda mais difíceis para o Taubaté.

“Voltar depois da pandemia foi muito difícil. Depois da parada, foi muito complicado convencer os jogadores e patrocinadores a continuarem com a gente com uma verba menor. Montamos elencos competitivos, mas trabalhamos com 40% da receita, por conta de algumas dívidas. Em 2022, mesmo com mais investimento e montando um elenco muito forte, acabou não dando certo. Mas mesmo com toda dificuldade, nunca faltou estrutura aos jogadores. Fizemos o melhor possível, quitamos muitas dívidas e deixamos a situação melhor do que encontramos”.

Gilsinho também ressaltou a falta de investimento e de um calendário forte para o clube. “Acho que falta incentivo de empresários da região. Precisa desse investimento pra que o Taubaté consiga sempre estar montando times competitivos e brigando lá em cima. O problema também é que falta calendário. É difícil de seduzir empresas com um campeonato que dura 1 ou 2 meses. É pouco tempo de exposição. E também, é preciso tempo de trabalho. Os jogos acontecem num período muito rápido. Muitos jogadores chegam aqui sem entender muito como funciona a engrenagem. Não dá tempo de sentir o que é a cidade, entender a história do Taubaté. Um calendário mais forte e competitivo e, talvez um espaçamento maior entre os jogos, daria tempo pro treinador preparar a equipe e traria uma maior harmonia entre jogadores, cidade e torcida”, finalizou.

Na foto, o ex-presidente do Taubaté, Gilsinho Rezende (Foto: Arquivo Pessoal)

O Taubaté optou por não se inscrever para disputar a Copa Paulista 2023 no meio do ano, e volta aos gramados profissionalmente apenas em 2024, dando esperança aos torcedores de encerrar essa sequência que, com a não conquista do acesso, completaria 40 anos.

Deixe um comentário