Passagem relâmpago de Cuca pelo Corinthians cria incômodo dentro da Fiel e prejudica ainda mais a relação já complicada de parte da torcida com a atual gestão.

Por Higino Diego Carvalho

O profissional deixou a equipe apenas seis dias após o início dos trabalhos com o time masculino. Cuca alegou que tomou a decisão a pedido dos familiares, que vinham sofrendo ameaças na Internet por parte dos torcedores mais insatisfeitos. O mesmo foi capaz de colecionar uma derrota diante o Goiás pelo Campeonato Brasileiro e uma classificação heroica na Copa do Brasil sobre o Remo, antes deixar o presidente Duílio Monteiro Alves com problemas tanto quanto dentro e fora de campo.

“Acontece que, a atual gestão é omissa e não se preocupa realmente com a história do Corinthians, parecem só se preocupar com dinheiro e status, coisas que não têm sido positivas nos últimos anos”, comenta Vitória Duarte, 23, torcedora fanática que faz questão se fazer presente na Neo Química Arena sobre que possível.

“A gestão de Duílio é a gestão que faz questão de manchar a imagem do Corinthians e dessa vez não foi diferente. Só o fato de terem cogitado a contratação do Cuca já foi uma facada no torcedor que entende e vive a ideologia do time, ter efetivado a contratação foi expor o time ao ridículo”, ela completa.

Duílio se encontra no momento mais delicado em seu mandato como presidente do Corinthians. Tendo um início de trabalho considerando promissor nos primeiros meses de 2021, cortando gastos e procurando aumentar as receitas, o mesmo, junto à sua diretoria, vem tomando decisões questionáveis nos últimos dois anos segundo uma parcela dos torcedores. Agora, após o furacão que foi a passagem do treinador pelo time, evidência ainda mais o momento conturbado em que os mesmos se encontram.

Antes de oficializar a contratação de Alexi Stival, o Cuca, para assumir o banco de reservas da equipe, já era possível ver o descontentamento crescer nas redes. O motivo? A condenação por estupro coletivo de uma menor de 13 anos em Berna, na Suíça, ainda nos seus tempos de jogador do Grêmio em 1989. O mesmo negou o caso e se declarou inocente no dia da sua apresentação oficial no Corinthians.

Algumas partes, como jornalistas e torcedores, apontam que a alta cúpula corintiana quis apostar no retorno esportivo que o técnico tinha a oferecer, já que ele é posto como um dos melhores técnicos brasileiros na atualidade, possuindo alguns títulos de relevância no currículo, como Campeonato Brasileiro e uma Taça Libertadores da América.

“Ter o Cuca como técnico parecia uma boa ideia para quem somente se importa com resultados, somente se importa com o time fazendo gols e conquistando títulos, isso poderia funcionar em times que não tem o peso do Corinthians, como aconteceu em outros de São Paulo, já que o Cuca passou por todos eles, mas no Corinthians é diferente, a #RespeitaAsMinas é real e validada, impulsionada pela torcida”, explica.

Para Vitória, “o Corinthians é o time que mais investe no futebol feminino no Brasil e é notória a qualidade e o peso do time, que já conquistou todos os títulos possíveis disputados. Mas a diretoria do clube colocou tudo isso em xeque”.

Após questionado sobre arrependimento na contratação, ainda na área mista após o jogo contra o Remo e o anúncio da saída do técnico, Duílio afirmou ao site G1 que não se arrependia da escolha e que estava chateado com a saída dele. “Ele é e seria um profissional que nos ajudaria bastante com sua experiência. O pouco que ele fez nesses dias de trabalho, mesmo com tudo que ele vinha sofrendo, a gente conversou para ele ficar, mas infelizmente, pela forma que ele está, ele achou melhor sair para resolver essa situação e um dia poder voltar com tranquilidade”.

G1, Foto: Marcos Ribolli

Cuca não teve um dia de paz desde que o chegou para ocupar o cargo no Corinthians, já que mesmo no espaço de uma semana, ele foi capaz de ver vários protestos contra a sua presença no clube, e em sua totalidade puxados pelas mulheres, que somam mais de 50% do total dos adeptos do clube segundo algumas pesquisas.

Quando questionada sobre a admissão do técnico com uma condenação por estupro na carreira, Vitória comentou o que sentia: “eu me senti ofendida, me senti decepcionada, eu chorei muito, principalmente por já ter sido vítima de uma tentativa de estupro. O Corinthians é o meu refúgio, meu alicerce, é pra onde eu fujo quando quero apoio, quando quero ficar bem, então como conseguiria isso com uma mancha tão grande? É um sentimento de luto, é como uma traição, faltam adjetivos pra explicar o tamanho do descontentamento”.

A torcedora explica que recusou-se a ir nos jogos enquanto ele fosse treinador. “Fui absurdamente criticada, xingada (sempre por homens), mas segurei a barra e resisti. Hoje, mesmo depois da saída dele, me sinto como se estivesse voltando a namorar com um cara que já me traiu no passado e promete ter mudado, ou seja, continuo amando, mas com um pé, atrás”, completou Vitória.

Deixe um comentário