
Iris Figueiredo, autora de “Céu sem estrelas” e “Um passo de cada vez”, dois livros que abordam saúde mental (Foto: Mauro Figa)
Por Lara Fagundes
Durante a pandemia do Covid-19, os hábitos de consumo literário mudaram. Com maior utilização de e-books e audiobooks, cada vez mais jovens entraram para o mundo dos livros. Segundo a pesquisa coordenada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), o faturamento das editoras com a venda de livros digitais aumentou em 36% em 2020.
Um dos motivos para esse acontecimento foi o avanço do Tik Tok, que se tornou uma das redes sociais mais populares mundialmente, influenciando milhões de pessoas com o chamado “BookTok”. Esse nicho voltado para livros trouxe para a internet um ambiente de recomendações de leituras cada vez mais diversas, permitindo que todo tipo de pessoa pudesse encontrar o conteúdo literário de que gostava.
Os assuntos vão desde romances até terror, fantasia e, um tema mais comentado recentemente, livros sobre vida e cotidiano. Com influenciadoras como Liv Resenhas e Dora Weigand, os livros que falam sobre experiências de vida vêm sendo cada vez mais recomendados e, com eles, vieram discussões sobre ansiedade e problemas frequentemente abordados nesse estilo de literatura que lida com a saúde mental humana.
“A leitura sempre foi uma válvula de escape e de compreensão. É na leitura que eu me encontro, onde sinto que os meus medos e anseios mais profundos são abraçados.”, disse Iris Figueiredo para o Jornal Contexto.
Os livros podem servir como um local de refúgio ao gerar conforto, identificação e até mesmo estimular a empatia e a compreensão. Iris Figueiredo, autora de “Céu sem estrelas” e “Um passo de cada vez”, dois livros que abordam saúde mental, diz que a literatura “é uma ferramenta que nos ajuda a perceber mundos diferentes do nosso”. Dessa forma, o hábito de leitura permite entender realidades e questões que muitas vezes não são tão comentadas no dia a dia.
“Ler é um exercício que nos coloca no lugar do outro – quando mergulhamos em uma história, mergulhamos num mundo que não é nosso, alguns que sequer existem, mas que muitas vezes nos ajudam a compreender melhor nossa realidade ou a realidade do próximo”, continua a autora.
Para os escritores, a responsabilidade de abordar assuntos delicados nos livros é muito grande, sendo essencial o uso da empatia. “Eu, como escritora, tento ter muita responsabilidade quando vou retratar esses temas, porque sei que estou dialogando com jovens e adolescentes que muitas vezes vão ter contato com aqueles temas pela primeira vez”, relatou Iris, que diz gostar de criar um espaço de diálogo com o leitor, mas também uma “ponte de compreensão” sobre temas frequentemente negligenciados. A escritora também contou que quando começou a abordar esses assuntos, o propósito era só colocar no papel alguns de seus sentimentos, mas logo seus livros se transformaram em um “caminho para que muitas pessoas entendessem e buscassem por ajuda”.
Os livros podem ser uma boa companhia em momentos de solidão e estresse, quando é necessário se sentir acolhido. Figueiredo apontou que a leitura foi um ponto muito importante para entender sua própria mente. Muitas obras podem ajudar pessoas a se encontrarem nos livros, principalmente ao se identificarem com algum personagem. Alguns livros nesse estilo indicados pela autora são “A redoma de vidro” de Sylvia Plath, que foi até mesmo citado em “Céu sem estrelas”, “Fale”, de Laurie Halse Anderson, e “Só escute”, de Sarah Dessen. “Sem eles, talvez (eu) sequer estivesse aqui hoje.”, contou Iris.
Outros livros que abordam temas do tipo frequentemente citados no “BookTok” são “Gente Ansiosa” de Fredrik Backman, “A vida invisível de Addie La Rue” de V.E. Schwab, “Tudo que eu sei sobre o amor” de Dolly Alderton e “Flores para Algernon” de Daniel Keyes.
Ter a literatura fazendo parte da vida e do cotidiano pode influenciar muito na saúde mental, por isso é sempre importante manter hábitos de leitura, tanto para ter sempre um lugar seguro, quanto para criar relações com pessoas que gostam do mesmo tipo de conteúdo. Como Iris Figueiredo disse “tenho certeza absoluta de que ninguém termina uma leitura igual a como começou. A gente sempre carrega dentro de nós um pouco de cada livro que lemos.”
