O espaço, a mente e a informação são os principais comprometidos durante a onda de ataques às escolas
Por Letícia Heloísa

No último dia 11, os alunos das principais universidades do estado de São Paulo foram surpreendidos por ameaças virtuais de supostos ataques. No campus da Unesp de Bauru, os danos se deram com o cancelamento de aulas e o pânico por parte dos alunos.
No entanto, as ameaças não passaram disso: ameaças. A partir disso, a situação passou a ser observada de uma perspectiva mais idônea e objetiva para os reais problemas do próprio campus e para a disseminação da desinformação.
O Conselho Estudantil da Unesp Bauru (CEUB) registrou dois casos que evidenciaram as falhas da segurança no campus. No primeiro caso, em frente à biblioteca, um aluno da Moradia Estudantil teve sua bicicleta roubada. No segundo caso, uma aluna foi assediada enquanto esperava o ônibus no ponto da Faculdade de Ciências. “A Unesp Bauru é o maior campus do estado e possui estrutura com seguranças e câmeras. No entanto, casos como esse continuam a se repetir!” declarou o Conselho Estudantil pelas redes sociais.
Quanto à disseminação de desinformação, o CEUB, em carta aberta, apresentou um caso de crise psicótica de um aluno que foi relacionado a um suposto ataque ao campus. O aluno recebeu atendimento médico dentro da Unesp e a polícia acompanhou a abordagem. O caso, porém, espalhou-se de forma que o estudante, em vulnerabilidade psicológica, foi visto como uma ameaça e se tornou alvo direto das falsas notícias espalhadas pelas redes sociais, sendo acusado de tentar praticar atos violentos.
Esses eventos ocorreram na semana do dia 11, em que a onda de ataques e a reprodução de notícias falsas era intensa. A intensidade foi para a mente dos alunos e causou a disseminação do pânico, o cancelamento de aulas e o sentimento de alerta para quem se arriscou a ir para a sala de aula naquele dia.
No dia 13 de abril, houve uma reunião no auditório da Sede do Batalhão da Polícia Militar com representantes da Secretaria Municipal da Educação, da Polícia Civil, da Organização dos Advogados do Brasil (OAB) e da própria Polícia Militar. O intuito era discutir medidas para melhorar a segurança nas escolas e para enfrentar as fake news. O secretário da educação de Bauru, Nilson Ghirardello, quando questionado se na reunião sobre medidas de segurança as universidades de Bauru estavam inclusas, a resposta foi negativa. Ele explicou que, na parte da manhã, participaram as escolas da rede estadual e, na parte da tarde, as da rede municipal. Ghirardello, que é ex-professor da Unesp no curso de Arquitetura e Urbanismo, afirmou que o convite e organização do evento foram por conta da polícia militar e deixou claro que existe a possibilidade de haver uma posterior discussão sobre os ambientes universitários.
Quanto à saúde mental e uma possível parceria entre a Secretaria Municipal da Educação e a Secretaria Municipal da Saúde, o ex-professor disse que pretendem contratar “de início, 10 psicólogos e 10 assistentes sociais para que pudessem, junto com os supervisores das escolas, atender a nossa rede”.
Ghirardello disse, também, que as fake news se tornam preocupantes e endossam a violência a partir do momento que uma movimentação coletiva – e muitas vezes perigosa – é adotada na intenção de se proteger. “A polícia militar também apontou que tinham jovens levando algum tipo de arma branca em suas mochilas. Não no sentido de atacar os seus colegas, mas sim, na cabeça de muitos desses jovens, era para se defenderem caso alguém os atacasse na escola. Então, as coisas chegam em um limite bem absurdo” relatou Nilson.

O secretário não acha que prédios ligados à educação devem passar a ser presídios. “É claro que a gente tem que se preocupar com essas situações, com essas ameaças, que parecem virar epidemia em alguns momentos, mas a gente também não pode viver acuado”, afirma o ex-professor. Ele relata a dificuldade da segurança no campus em relação às escolas municipais, por exemplo, que são mais fechadas, diferente da Unesp que possui vários espaços abertos e que não deviam e não podem ser tratados como prisões.

Uma das soluções práticas para melhorar a segurança, principalmente na Unesp que é afastada da cidade, seria o aumento dos horários de ônibus, a fim de evitar o longo tempo de espera dos estudantes, em especial do noturno. Ao ser perguntado se existia a possiblidade disso ocorrer, o vereador Miltinho Sardin, que atua na fiscalização e busca de recursos para a cidade, disse que a ampliação pode ser sugerida e disse que não tinha conhecimento do espaçamento de horários e “nem da quantidade de usuários da linha, em especial a noturna”.
É hora de se perguntar: qual o papel da educação quando ela é a ameaçada? Porque a resposta para quem é o verdadeiro inimigo nós já possuímos. Quando há a junção da precariedade da segurança, da saúde mental e da circulação da informação, há a queda na qualidade e na importância dada à educação. Sem segurança física e midiática, não há saúde e sem saúde não existe paz interior e muito menos exterior. É um ciclo, é um paradoxo e o verdadeiro inimigo é aquele que quer exatamente isso: o colapso do sistema educacional.
