Psicóloga discute relação entre aumento nos casos de violência nas escolas e a carência de tratamentos psicológicos disponíveis
Por Beatriz Mezavila Palmeira e Julia Moura
O recente caso do menino de treze anos, que atacou com uma faca quatro pessoas e causou a morte de sua professora, no dia 27 de março, na escola estadual Thomazia Montoro, levantou discussões sobre os atuais casos de violência nas escolas no Brasil. O estudante já havia apresentado indícios de agressão em sua antiga escola, porém, ao ser transferido, essas informações não foram notificadas aos funcionários, que desconheciam a necessidade de suporte psicológico do garoto.
Tal como no caso citado, muitos episódios de violência em escolas são resultados de uma sequência de acontecimentos anteriores, como traumas ou agressões em casa, cenários esses que poderiam ser tratados, por exemplo, com o acompanhamento psicológico desses indivíduos.
Para a psicóloga e professora de Psicologia Escolar da Unesp/Bauru, Flávia da Silva Ferreira Asbahr, a violência é um fenômeno multideterminado. “É sempre importante quando for falar de violência escolar [lembrar] que não é um fenômeno especificamente escolar, mas que vai ser, de alguma maneira, atingido por uma violência que é social”, afirmou. De acordo com a psicóloga, determinantes individuais, como o cenário cotidiano da criança, podem contribuir para a violência, porém, o acolhimento escolar pode agravar ou suavizar as consequências disso.
Flávia também destacou a importância da lei 13.935, do final de 2019, que prevê a contratação de psicólogos e assistentes sociais para as escolas públicas, a qual não foi executada em decorrência da pandemia nos anos seguintes. No entanto, tanto ela, quanto a Associação Brasileira de Psicologia Escolar Educacional (ABRAPEE), não defendem a presença de psicólogos nas escolas para o atendimento individual.
“Valeria muito mais a pena o psicólogo estar inserido numa equipe multidisciplinar na escola, com a diretora, com o coordenador pedagógico, [com os estudantes], trabalhando com a formação de professores, para problematizar várias questões,” disse. “Eu tenho apostado muito mais nesses processos coletivos nas escolas, sem desmerecer os cuidados individuais, mas pensando que o atendimento em psicologia escolar é um atendimento à educação, aos fenômenos educacionais”, concluiu.
A psicóloga ainda reconhece a importância dos atendimentos individuais para os alunos que necessitam, mas ressalta que a carência em tratamentos psicológicos enfrentada nas escolas deveria ser solucionada com propostas mais amplas.

Figura 1: Psicóloga e professora da Unesp/Bauru Flávia da Silva Ferreira Asbahr
