Por Lucas Amaral e Victoria Villa

Manifestação na última terça-feira (2) em lembrança às vítimas dos ataques em escolas, Brasília – DF (Reprodução UOL/redes sociais)
Em outubro de 2019, o então presidente Jair Bolsonaro vetou integralmente uma lei que tornaria obrigatório a presença de um psicólogo ou assistente social em escolas públicas. Apesar do descaso do ex-mandatário, diversas pesquisas e especialistas constatam que o papel de um profissional para auxiliar a saúde mental dos alunos é fundamental para tornar a escola um ambiente acolhedor, ainda mais no contexto atual de extrema alerta a violência nas escolas.
Pesquisa realizada pela professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Marília Etienne Arreguy, aborda dados muito úteis para o entendimento do tema. Há um tabu em relação à presença de psicólogos nas escolas. Quando há o reconhecimento da importância desses profissionais, se esbarra em diversos problemas, tais como baixo índice de encaminhamento para atendimento e questões financeiras dos responsáveis pelo aluno. Ela explica que “quando existem projetos psicológicos temporários nas escolas, há um enfoque em diagnósticos de transtornos”, de forma estigmatizante.
A psicóloga Stela Maria Borges Cristoni, que atua há seis anos na área da psicologia escolar, e nos últimos dois anos junto CTI, o Colégio Técnico Industrial integrado à Unesp de Bauru, explica que o olhar mais efetivo de um especialista é útil para trazer o aluno para dentro da comunidade escolar, pois muitas vezes, ele não se reconhece como parte da instituição.
“Têm toda uma dificuldade de adaptação, de inserção no meio, são muitas coisas de uma vez só, são muitas matérias. Assim eles vão desenvolvendo a sensação de pertencimento’’, afirma a profissional.
“O papel do psicólogo escolar é fazer essa observação e identificar essas questões enquanto elas acontecem ali, no dia a dia. O psicólogo escolar não vai fazer o atendimento clínico desses alunos, ele vai encaminhar para outras pessoas. O acompanhamento dele é institucional’’, explica Stela.
Quando questionada sobre se sua formação a preparou para lidar com temas delicados como a tão recente ameaça de massacres nas escolas, ela respondeu acreditar que as discussões estão muito mais aprofundadas atualmente, já que na época de seus estudos, temas como esse eram sempre tratados com certo distanciamento, pois aconteciam majoritariamente nos Estados Unidos e que agora é preciso trazer esse debate para o âmbito nacional. “O que pode estar motivando isso aqui no Brasil?’’, indaga.
A psicóloga explica também não acreditar na efetividade das soluções propostas pelo governo do estado. “Na minha opinião, essas medidas não são a solução. Precisamos encontrar soluções para essas questões em lugares muito mais profundos. Todas essas medidas são paliativas, desde erguer muros ate a implantação de policiais nas escolas. A escola é um lugar de expressão. Está sendo levado para as escolas esse sentimento de medo’’.
Ela conclui questionando também o atendimento que está sendo ofertado a esses adolescentes que instigaram ou efetuaram atos de violências nas escolas. “Tem se desenvolvido a inteligência emocional deles? Adolescente que comete um massacre precisa ser olhado no jardim de infância. Ali já se pode identificar questões. Não é possível impedir algo que já aconteceu, mas é totalmente possível impedir coisas que ainda não aconteceram. Mas que coisas estão sendo feitas para impedir isso no futuro?”, questiona Stela.
