Funcionária que trabalhou na portaria de escola particular relata que não há treinamento adequado para proteção efetiva contra invasões
Por BEATRIZ APOLARI e SOPHIA PICCHI

Rigidez no controle na entrada e saída de alunos torna-se urgência nas escolas brasileiras (Foto: Marcel Rizzo/Folhapress) Texto Alternativo: Imagem de fachada escolar. Portão aberto de grades brancas, coberto por toldo semicircular azul. Em frente, duas motos estacionadas, sinalizador de trânsito amarelo ao centro.
Em São Paulo, na manhã do dia 27 de março de 2023, um aluno de 13 anos entra na escola na qual estava matriculado armado de uma faca, mata uma professora e fere três educadoras e um estudante. No dia 5 de abril, um homem de 25 anos pula o muro de uma creche em Blumenau com um machado e ataca os alunos, mata quatro crianças e deixa outras quatro feridas. Em ambos os casos, os agressores não tiveram qualquer dificuldade para entrar nos prédios armados e consumar os crimes.
O recente histórico de ataques nas escolas brasileiras preocupa milhares de famílias, estudantes e profissionais atuantes na área de educação acerca da real segurança que as instituições de ensino oferecem. Aumenta a demanda pela contratação e treinamento de profissionais especializados para o controle de circulação de pessoas nesses espaços, a instalação de dispositivos de segurança, como câmeras, cercas elétricas e detectores de metais e a presença de policiamento pelos edifícios escolares e vias públicas que os contornam.
Elindinete Conceição dos Santos, de 53 anos, trabalhou na função de secretária em uma escola particular em Jundiaí (SP), sendo a principal responsável pela portaria do colégio. Ela afirma que, no geral, as escolas não estão preparadas para oferecer uma segurança eficiente em caso de invasões. “Tudo que acontecia dentro da escola era responsabilidade sua, mas eu não recebi orientação de como fazer isso”, relata.
O assunto é abordado e discutido nas esferas sociais e políticas do país – municipais, estaduais e federais – nas quais procura-se estabelecer protocolos sólidos de segurança a serem seguidos pelas instituições de ensino com objetivo de impedir outros casos de invasão e violência. Nos colégios, o cenário é de insegurança e incerteza, cabendo aos funcionários desenvolverem novos mecanismos de vigilância dentro das orientações dadas pelos seus chefes e superiores.
Elindinete conta que a responsabilidade pela segurança é dada aos funcionários do colégio, mas as instruções acerca dessa função e o que deveria ser feito ao lidar com alunos e pessoas desconhecidas acessando as instalações são vagas e imprecisas. “Eles não faziam treinamento relacionado à segurança na escola, era tudo muito jogado. Você tinha que deduzir e sair perguntando para as pessoas, por que eles próprios não tinham nada muito organizado”, explica.

Elindinete comenta sobre a carência de políticas de controle no cotidiano escolar (Foto: autoria própria)
Texto Alternativo: Selfie de mulher adulta, de cabelos pretos e lisos e cachecol azul. Veste regata preta. Ao fundo, parede branca e um quadro em tons amarelos da Torre Eiffel.
Para ela, a iniciativa em se atentar ao comportamento, humor e movimentação estranhos dos discentes vinha de preocupações pessoais da própria equipe da portaria, já que a direção do colégio tinha um olhar mais burocrático sobre o trabalho. “Eles esquecem que ali tem pessoas de várias situações, é uma individualidade muito grande, exigem resultados dos alunos, mas quando surge algum problema não há um cuidado”. A secretária acrescenta que os funcionários têm “um olhar muito mais humano que a própria instituição em si”.
A profissional menciona que os funcionários não possuem autorização para revistar pertences de alunos em busca de itens proibidos pelo colégio, objetos cortantes e que possam causar danos físicos e, caso surja uma desconfiança, deve ser comunicada à coordenação, que abordará o aluno posteriormente. “Essa questão do que eles carregam dentro da mochila, nós não temos nenhum tipo de controle”, acentua.
Por fim, ela reflete sobre a necessidade da adoção de mais recursos de vigilância nas escolas como prioridade administrativa e financeira, pontuando o desenvolvimento de um projeto não somente para a melhoria da proteção física do local, mas um compromisso às famílias e à comunidade escolar. “Eu não acredito que o salário de um vigilante vai fazer diferença no orçamento da escola, eles teriam que ter esse investimento. Os pais pagam uma mensalidade, colocam seus filhos numa escola, pois acreditam que lá eles estão seguros”, conclui.
