Professora do Instituto Federal conta sua experiência com casos de agressão e analisa medidas de auxílio da escola
Por Isabela Dalaqua e Pedro Henrique Vogt
Nos últimos anos, o Brasil viveu uma série de episódios violentos em escolas e creches. Em 2017, um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostrou que 12,5% dos professores brasileiros ouvidos afirmaram sofrer agressões verbais e intimidações de alunos semanalmente, sendo que a média internacional dessas agressões é de 3,4%. Esses dados revelam a necessidade de auxílio aos funcionários da rede educacional, no que se trata da segurança no ambiente de trabalho.
A professora Ticiana Roquejani, da área de Geografia no Instituto Federal do estado de SP, explica que nunca se sentiu segura na escola. “Desde quando me tornei professora em 2008, eu nunca me senti totalmente segura dentro da escola, até porque nós encontramos uma diversidade imensa de pessoas; pensamentos e ideologias; e os conflitos sempre existiram”, explica.
Tendo passado pelas esferas municipais e estaduais, a professora relata que já sofreu agressões verbais em ambas, e foi vítima de furto dentro da sala de aula. “Os alunos abriram minha bolsa e retiraram dinheiro que estava dentro da minha carteira, eu tive que fazer boletim de ocorrência; prestar depoimento na Delegacia da polícia civil”, conta Ticiana.
Apesar dos acontecimentos terem se tornado quase inexistentes durante seu período no Instituto Federal, ela relembra um caso de agressão verbal ocorrido durante a pandemia em que uma aluna a atacou com ameaças e xingamentos via Whatsapp. “Por conta de problemas que ela (a aluna) teve dentro do campus, e também por não estar em tratamento psiquiátrico, sendo acompanhada pela saúde da forma que deveria, ela acabou agredindo não só eu, mas vários servidores”, recorda. O caso culminou no cancelamento da matrícula da estudante.
O suporte sóciopedagógico no Instituto Federal conta com psicólogos, assistentes sociais e pedagogos para dar apoio em situações delicadas. Além disso, há reuniões semanais para discutir problemas que ocorreram dentro da sala de aula. Mais recentemente, foram dadas orientações sobre como lidar com momentos de emergência, juntamente com a adição de mais seguranças da guarda municipal dentro do campus.

Já no ambiente das salas de aula, Ticiana afirma sempre tentar dialogar com os alunos e criar áreas de discussão sobre temas importantes da sociedade. “O bullying, a violência doméstica, a criminalidade, a desigualdade, e o racismo são temas que eu procuro sempre trazer em sala de aula, para tentar ajudar também a encontrar caminhos e avançar, criando um ambiente cada vez melhor dentro da escola”, diz a docente.
Finalizando, a professora faz uma crítica construtiva: “ainda precisamos de mais orientações claras e mais ações para que consigamos trabalhar cada vez melhor, porque o sentimento de medo e de ansiedade dos alunos e professores é visível todos os dias”. Ticiana explica ainda que, “por mais que tenha suporte e conversa em grupo nesse sentido, a gente precisa de mais ações práticas, que ainda não estão acontecendo em grande quantidade, estão sendo aos poucos”.
