Por João Pedro Ferreira e Kauê Nunes
Um homem de 25 anos invadiu e atacou crianças com uma machadinha na manhã de uma quarta-feira (5) na creche Cantinho Bom Pastor, no Vale do Itajaí, em Blumenau. O ataque deu início a uma onda recente de massacres no país, especialmente em ambientes escolares. Para discutir esse crescente movimento de atentados no Brasil, o jornalista Rodrigo Ratier (Uol) concedeu ao Jornal Contexto a entrevista a seguir.
Jornal Contexto: Quais estratégias são consideradas invasivas e antiéticas para noticiar assuntos delicados (massacres, atentados)?
Rodrigo Ratier: O código de ética dos jornalistas brasileiros vai sempre advogar pelo respeito à pessoa humana. Nesse sentido, ele é um código humanista, qualquer coisa que exponha detalhes específicos das vítimas e que a constranja, sobretudo, é considerado bastante invasivo. Existem algumas coisas que são consideradas ilegais, por exemplo, tudo aquilo que infringe o Estatuto da Criança e do Adolescente. Então, você divulgar nome completo de crianças em situação de vulnerabilidade, como em casos de menores de idade, divulgar imagens de crianças nessa mesma situação, tudo isso é ilegal.
Jornal Contexto: Como as notícias podem estimular uma maior ocorrência de ataques?
Rodrigo Ratier: Também é importante dizer que nós estamos falando aqui no caso de massacres em escolas, aquilo que se convencionou chamar de efeito contágio. Então, na literatura que estuda o assunto já existem evidências de que você noticiar esse tipo de crime com detalhe, ou seja, dando nome de quem perpetrou o massacre, como isso foi realizado e assim por diante, pode fazer com que outras pessoas se inspirem, imitem e passem a idolatrar essas pessoas que realizaram os massacres. Obviamente, como é um assunto com grande grau de interesse público de noticiabilidade, é impossível você não noticiar, por exemplo, a onda de casos de sequestros que perduraram durante um tempo no Brasil. Apesar disso, esses tipos de notícias devem ser dadas de uma forma sóbria, sem identificar quem perpetua o massacre, sem dar muitos detalhes também de como isso ocorreu. Tudo isso é bastante importante para evitar o chamado efeito contágio.

Rodrigo Ratier comenta sobre as estratégias apropriadas à cobertura midiática de massacres (Foto: arquivo pessoal)
Jornal Contexto: Que avanços tem ocorrido na cobertura da mídia sobre os massacres?
Rodrigo Ratier: Pela primeira vez houve um posicionamento de grandes veículos de mídia, como o grupo Globo, O Estado de São Paulo e algumas outras mídias regionais acerca dessas condições relatadas anteriormente sobre fazer um relato sem identificação, sobretudo do perpetrador do massacre.
Jornal Contexto: É possível conter o avanço dos massacres com essas estratégias? Elas são eficientes?
Rodrigo Ratier: Sobre a questão da mídia, parece haver realmente um consenso de que você não pode dar um detalhamento excessivo. Também parece haver um consenso de que policial dentro da escola armado não apenas não resolve, como piora a situação, porque o policial passa a se achar uma autoridade ali dentro da escola e que pode fazer a mediação de conflitos escolares sem ter o treinamento pra isso e ainda por cima estando armado.
