Por Rebeca Elias

Quinta edição do Festival Sons da Rua, ocorrida em 2022. Foto: Rebeca Elias

Os mais importantes artistas da cena hip hop já têm um encontro marcado: é a sexta edição do Festival Sons da Rua, que acontecerá em outubro, no Memorial da América Latina, na Zona Oeste de São Paulo.

Entre os artistas confirmados para o evento estão cantores como MV Bill, Djonga, Tasha e Tracie, Borges, Mc Luanna, e tantos outras atrações. Todos com as suas particularidades mas, que carregam um mesmo discurso, por serem pretos e terem uma origem periférica.

O Festival, que acontece desde 2017, dedica-se em promover shows de rap e trap, que têm sido cada vez mais recorrentes nas grandes cidades, devido ao grande crescimento da cena do hip hop no Brasil.

“Esse ano o Festival traz vários artistas que o público tem interesse em ver como novidade, espaços para a cultura de rua acontecer de fato, áreas de batalha de rima, grafite, skate, e muito RAP”, infoma a agência InHaus, que organiza o evento.

Os jovens espectadores esperam arduamente as datas de lançamento dos ingressos e das tão famosas Lines Ups, o que garante os melhores acessos e os shows dos artistas mais aclamados pelo público consumidor.

Entende-se a importância do Festival Sons Rua na vida dos jovens de periferia na cidade de São Paulo. Ritmos como o rap carregam uma mensagem relevante que ajudam uma geração, temas que são ainda mais presentes no cotidiano de quem reside nas extremidades da cidade de pedra, como o abandono parental, a criminalidade, os sonhos e o acesso à educação.

Para os organizadores, “quando um jovem que não tem muitas expectativas na vida, vê alguém cantando para ele assuntos que tocam no seu íntimo, isso mostra que alguém está enxergando ele, é muito bom poder ser participante disso de forma direta”. 

Isso produz como consequência uma responsabilidade de politização desses assuntos, e a perpetuação da cultura de rua, para além de uma conversa direta de identificação com os jovens.

“Acho que um dos principais poderes do rap é fazer uma política de base, e conseguir acessar a mente desse público dando a eles uma linha de pensamento, e um olhar mais crítico perante a sociedade que vivemos”, disse a organização.

Sabendo que a sociedade se baseia em desigualdade, o ritmo consegue acessar pessoas que se encontram em maior vulnerabilidade socioeconômica, racial e também fazer política com um discurso de respeito, honestidade, família, trabalho e arte, trazendo valores da rua como pauta para esse público.

“É bom que existam lugares que contem histórias, pois preservar uma cultura é preservar a história de um povo, ainda mais quando existe um plano para que essas histórias não sejam contadas”, concluiu a agência.

Músicas de cantores como Djonga, artista que estará nesse encontro tão esperado, tem uma comunicação direta com o público-alvo do evento, onde ele aborda temas corriqueiros do cotidiano de um jovem preto e periférico. A canção “O cara de óculos”, de Djonga, resume bem o drama dos jovens pretos da periferia e também o tema do tão esperado Sons da Rua.

O Cara de Óculos 

Djonga, com participação de Bia Nogueira

Muito cara certo entrou na vida errada

Dinheiro sujo compra roupa limpa

Essa é a prova que os opostos se atraem

Igual polícia e um preto na parede

Coisa que eu não entendo junto ainda

Muitos aqui tem ódio e nem sabe por que, cara

Ouve a dor na minha voz, me responde: Por quê, cara?

É que eu, eu com quase 15 e um oitão na minha cara’’.

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