Por Carlos Staff e Gustavo Bastos

Os massacres em escolas são uma preocupação de longa data nos Estados Unidos e tem se tornado cada vez mais realidade no Brasil, se estendendo principalmente a alunos, funcionários, famílias e população em geral. Para comentar como casos em outros lugares do mundo têm influência no nosso país e como tem sido o combate a esse problema convidamos a pesquisadora Debora Piccirillo, do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP).

Jornal Contexto: É possível relacionar os casos que aconteceram aqui com os que aconteceram em outros países, principalmente nos Estados Unidos? Se sim, como essa onda de ataques vem sendo importada para o Brasil?

Debora Piccirillo: São casos similares, pensando no tipo de informação a que temos acesso sobre os casos nacionais. Temos dois tipos de ataques: aqueles cometidos por alunos ou ex-alunos e aqueles cometidos por pessoas de fora da comunidade escolar. O primeiro tipo costuma ser mais comum tanto aqui no Brasil quanto nos Estados Unidos. Não acho que temos uma onda de ataques, é verdade que em comparação com anos anteriores houve mais ataques recentemente, com grande repercussão na mídia, o que passa a sensação de que há uma orquestração de ataques, mas que não se verificou. E também é difícil falar em “importação”. Nós temos problemas em comum com outros países, questões como estrutura das escolas, sucateamento do ensino, lotação de salas, professores exaustos e mal remunerados, tudo atrapalhando a construção de uma boa relação e um bom clima escolar. Além disso, temos acesso a discursos e redes de ódio que podem potencializar e influenciar indivíduos que têm algum tipo de pensamento em torno de ações violentas.

Jornal Contexto: O perfil dos autores de massacres fora do país é parecido com os autores de massacres que aconteceram no Brasil?

Debora Piccirillo: Sim. No Brasil, dos casos que se tem registro com essa nomenclatura “ataque”, todos foram cometidos por meninos ou homens jovens, a maioria por alunos ou ex-alunos do colégio atingido. Temos pouca informação sobre os autores brasileiros, e o que temos é informado pela imprensa, então é difícil saber com mais detalhes o perfil e a motivação dos ataques. Mas há alguns indícios de que os agressores costumam ser pessoas com alguma dificuldade dentro da escola, seja de aprendizado seja de socialização.

Debora Piccirillo, pesquisadora e mestrando em sociologia pela USP (Arquivo: NEV-USP)

Jornal Contexto: Quais são as influências para a ocorrência de massacres em escolas no exterior? E como os governos vêm combatendo elas?

Debora Piccirillo: Existem diversas ações visando combater os ataques, algumas são mais eficazes que outras e dependem muito da comunidade em que a escola está. Em alguns lugares nos Estados Unidos, por exemplo, as escolas se equiparam com câmeras de vigilância, detector de metais e seguranças armados. Ainda é controverso se essas ações funcionam. Alguns criaram programas de treinamento para a comunidade escolar saber como agir em casos de “active shooter”. Há uma discussão ocorrendo atualmente sobre armar os professores, que são em sua maioria contra essa medida, uma vez que não são treinados para usar armas, não é sua função, e além de trazer um risco a mais ter uma arma de fogo em sala de aula. Todas essas medidas são paliativas, porque não vão na raiz do problema. Elas supõem que o ataque vai ocorrer e que o máximo que dá para fazer é tentar dissuadir com força bruta. 

Jornal Contexto: Quais atitudes e medidas o Brasil deveria adotar olhando como exemplo outros países para impedir novos ataques nas escolas?

Debora Piccirillo: O monitoramento das redes sociais é um bom começo. Alguns adolescentes dão sinais de alinhamento com ideologias extremistas ou apoio à violência para solucionar conflitos e expõem essas ideias na internet, o que não quer dizer que vão necessariamente agir dessa forma. Mas é importante conseguir monitorar e contatar as famílias para verificar o que está acontecendo e poder encaminhar para os serviços que temos aqui no Brasil, de forma gratuita, como os serviços de assistência social e saúde mental. Outro ponto importante, que existe em outros países, é uma padronização do que se chama de ataque às escolas e a produção de uma base de dados, para compreender as dinâmicas dos crimes, as motivações dos agressores, e as possibilidades de ação. Só é possível propor ações efetivamente preventivas se compreendermos o que está originando esse tipo de comportamento.

Deixe um comentário