FLÁVIA GRACINDA
A pauta da insegurança alimentar sempre esteve presente em grandes reuniões, sejam mundiais ou nacionais; há muito esse é um mal que afeta boa parte da população e que o Estado busca meios de combater.
Existem teorias, como a de Thomas Malthus, que defendem que a fome se daria devido ao crescimento populacional, pois nesse caso a produção de alimentos não seria o suficiente. Para o professor do curso de jornalismo e de relações públicas da Unesp de Bauru, Maximiliano Martin Vicent, essa teoria não se encaixa na atual situação do país. “A população não cresceu como ele (Malthus) previu e, ao contrário, os alimentos se multiplicaram em função do emprego da tecnologia.”
Para Maximiliano, ainda há alimento suficiente para a população, ou seja, seria possível o Brasil não estar no Mapa da Fome. “O que determinou a volta do Brasil ao mapa da fome foi, principalmente, a exportação de grãos e proteínas animais aliado ao corte de gastos públicos que deixou a população carente em situação bem complicada”, complementa o professor.
Quando olhamos para a história do nosso país, no ano de 2014, o Brasil saiu do mapa da fome. Para que isso acontecesse, precisou de investimentos que buscassem resolver o problema e uma das soluções foi a criação e reativação de alguns programas sociais. Mas, com a troca de governo, no início de 2019, sofremos o desmanche e a falta de investimentos em alguns ministérios responsáveis por procurar respostas e ações eficazes para manter a população longe da insegurança alimentar.
“Com toda certeza esse foi o motivo principal. Repara que cortar ministérios implica em cortar verbas para a sua área de atuação, ou seja, não haverá políticas públicas destinadas para realizar ou aplicar projetos com a finalidade de permitir e propiciar condições melhores às áreas mais carentes”, comenta Maximiliano.
No início do governo Bolsonaro, a responsabilidade de promover a realização progressiva do direito humano à alimentação adequada, junto com a participação da sociedade na tarefa de formular, monitorar e avaliar políticas públicas, além de acompanhar a sua implementação no plano nacional, foi retirada do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), mesmo que este tenha sido um dos órgãos responsáveis por retirar o país do Mapa da Fome da ONU em 2014.
Apesar do país ter diversas políticas públicas e programas sociais que buscam minimizar o impacto do desemprego, da baixa remuneração e de diversos fatores que impedem muitos de adquirir uma boa alimentação, ainda não conseguimos resolver esse problema em sua totalidade.
“O problema é estrutural e crônico envolvendo milhões e milhões de pessoas espalhadas pelo amplo território nacional, portanto sem uma mudança estrutural de modelo a fome irá persistir e, desde meu ponto de vista ela irá crescer. A máquina pública, além de burocrática, foi desmontada por Bolsonaro e com isso essa possibilidade de pôr um fim na pobreza não se vê”, diz Vicent.
Além do Consea, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), renomeado de Alimenta Brasil, também sofreram com a falta de investimento e deixaram de atender a milhares de famílias.
Ao que já era de se esperar devido a sua capacidade de negar aquilo que se vê e é comprovado, em uma das suas aparições nas mídias sociais, em junho de 2022, Jair Bolsonaro dizia que não existia fome “pra valer” no Brasil, comprovando a teoria de Josué de Castro, que diz que devido a interesses de ordem moral e de ordem política a fome era um tema proibido, pouco aconselhável de ser abordado.
Com isso, é possível entender o motivo de o ex-presidente viver de olhos vendados para a situação que o país estava passando, e só assim compreender o por quê houve tamanhos desmontes de ministérios e cortes de verbas, principalmente na área da educação e da saúde.
Diante de todo esse regresso que vimos, o que se espera agora é que o governo atual trabalhe para mudar esse cenário, para trazer soluções e melhorias. O professor Maximiliano compartilha que espera que o novo governo traga de volta as políticas heterodoxas e que com elas se apresentem em projetos destinados a combater a fome e a miséria. Ele acrescenta que muitas são as frentes para atacar e resolver o problema, mas em resumo ele apresenta alguns meios: “Vão desde a concessão de uma renda digna para cada brasileiro, privilegiando os mais necessitados; melhorar o sistema de ensino para qualificar melhor as pessoas, realizar reforma agrária, aumentar os salários, veja a lista é ampla e variada”.
