Atentados do dia 8 de janeiro nos lembram da importância de defendermos a democracia, que está novamente fragilizada

Por Nathan Nunes

Dez dias se passaram desde os ataques terroristas ao Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e a sede do STF por bolsonaristas radicais em 8 de janeiro, um acontecimento que deixou sequelas no país em diferentes sentidos. Um dos mais emblemáticos é o material, tendo em vista que os manifestantes depredaram os locais e vários dos itens expostos, como uma obra de Di Cavalcanti avaliada em cerca de 8 milhões de reais. 

Outro sentido mais preocupante é o da própria segurança da democracia em si, pois os terroristas não aceitam o resultado das urnas e pedem não apenas pela volta de Jair Bolsonaro à presidência da República, mas também por um golpe militar. 

Juarez Xavier, professor de jornalismo da Unesp de Bauru, comenta que as raízes do ataque datam de muito antes: “Durante quatro anos, o presidente da República [Bolsonaro] rompeu o princípio federativo da autonomia entre os poderes e violou direitos do Supremo Tribunal Federal. O resultado disso foi o que vimos no dia 8 de janeiro, a ocupação, a destruição e o vandalismo”. 

O professor comenta que a forma que o presidente Lula lidou com a situação já indica o caminho a ser seguido. “A primeira coisa foi criminalizar esses atos, a ponto de mobilizar todos os setores fundamentais para a sociedade brasileira em defesa do estado democrático de direito. A segunda foi as ações envolvidas para identificar, aprisionar e ajuizar todas as pessoas envolvidas diretamente no processo, tanto aquelas que foram ‘bucha de canhão’ quanto as que financiaram”. 

Em comparação com os desfechos do atentado contra o Capitólio em janeiro de 2021, que certamente inspirou os radicais bolsonaristas nas últimas semanas; Xavier comenta que é importante que todos os responsáveis sejam logo punidos, para que a situação no Brasil seja diferente dos Estados Unidos. “Os analistas internacionais acham que o longo processo dos invasores do Capitólio prejudicaram a visão na sociedade americana de que os criminosos estavam sendo punidos. No Brasil, não podemos repetir esse erro”. 

Xavier ainda afirma que “com os erros do passado, é possível evitar que as coisas aconteçam novamente, por isso a nossa insistência para que esse tipo de manifestação antidemocrática seja punida”. Ele se refere a ditadura civil-militar ocorrida entre 1964 e 1985, a qual é celebrada pelos golpistas como um exemplo a ser seguido. Vale lembrar que Bolsonaro chegou a exaltar o torturador Brilhante Ustra em seu discurso de defesa do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016.

“É importante que nós tenhamos muito fresca em nossa memória a lembrança de que não condenamos os criminosos [os militares] no passado, o que estimulou a consolidação da extrema-direita no Brasil. Não à toa o seu grande discurso era restituir a ditadura, que deixou milhares de mortos e desaparecidos e levou o Brasil para uma grande crise. O fato de termos anistiado eles fez com que ficassem impunes para continuar cometendo crimes contra a sociedade brasileira e o estado democrático de direito, e por isso precisamos defender ainda mais a democracia hoje. Na verdade, não existe uma defesa parcial da democracia, mas sim uma radical”. 

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