Por Marina Barrelli de Carvalho

O mundo do entretenimento é composto por diversos formatos de conteúdo, entre livros, filmes, séries, videogames, programas de televisão e até a própria indústria da música. Com o desenvolvimento da tecnologia, juntamente com a expansão da Internet e rede de comunicações mundiais, as formas de entretenimento também aumentaram, e plataformas como YouTube e Spotify são criadas e passam a compor o universo do entretenimento. Um exemplo famoso que faz parte desse universo é o podcast.
O podcast é um tipo de mídia em formato de áudio, que passou a ser disponibilizado com esse nome na Internet. Pode conter entrevistas ou não, alguns podem ser ouvidos em tempo real de produção, como um programa de rádio ao vivo e podem compor séries, com diversos episódios e temporadas. Os temas que são abordados são os mais diversos, desde esportes, moda, política, cultura, bate-papo informal, entre outros. No entanto, é possível observar que uma temática ficou em destaque: os podcasts com abordagem de jornalismo investigativo.
“Praia dos Ossos” (2020) da Rádio Novelo, “O Caso Evandro” (2018) do Projeto Humanos, criado pelo jornalista Ivan Mizanzuk, “A Mulher da Casa Abandonada” (2022) lançado pela Folha de São Paulo e apresentado pelo jornalista Chico Felitti e “Pico dos Marins: O caso do Escoteiro Marco Aurélio” (2022) um original Globoplay são alguns dos exemplos de produções de podcasts com eixo temático ligado ao jornalismo de investigação. Aliás, esse é apenas um dos possíveis nomes para o gênero.

O jornalista e diretor-executivo da Rádio Novelo Guilherme Alpendre explicou, em entrevista ao Jornal Contexto, que gosta de definir “podcast de jornalismo investigativo” de outra maneira: “Eu preferiria talvez dizer que a Rádio Novelo faz um jornalismo em formato longo, faz um jornalismo documental” e usa de exemplo a produção “Praia dos Ossos”, que aborda o assassinato da socialite Ângela Diniz, onde a produção não investiga necessariamente fatos novos sobre a história, mas sim busca recontar de forma detalhada e com um outro olhar sobre questões que aparecem no caso de Ângela: justiça e direitos das mulheres.
Guilherme explica essa definição pois, normalmente, o termo “jornalismo investigativo” engloba um universo grande de conteúdos. “Muitas vezes quando a gente fala ‘jornalismo investigativo’, as pessoas pensam em descobertas de fatos secretos, em revelações bombásticas, em exposição de malfeitos”, completa o jornalista.
Quando se pensa sobre a ascensão dos podcasts com o tema, Alpendre observa que o movimento começou nos Estados Unidos, com a produção “Serial” lançada em 2014 e que pela primeira vez narrava histórias em formato de áudio e em episódios. Mas no caso do Brasil, o jornalista explica o – em suas palavras – “crescimento vertiginoso” do gênero de podcasts e coloca qual foi seu marco: “Existe um crescimento desse formato, dessa linguagem. Eu apontaria ‘A Mulher da Casa Abandonada’ como um marco para esse gênero, porque realmente mostrou para muita gente o potencial que o áudio tem para além de entrevista de mesa redonda”.
Guilherme ainda completa: “a tendência de crescimento da demanda, acompanha o aumento da demanda por podcast que tem sido constante nos últimos anos”.
Além disso, o ano de 2018 também pode ser considerado importante para o aumento por essa demanda por podcasts narrativos, uma vez que o ano marca o começo da procura por financiamento e apoio por parte dos criadores que tinham interesse em lançar projetos profissionais de áudio. Guilherme destaca “Foro de Teresina” da Revista Piauí e “Presidente da Semana” da Folha de São Paulo, produções que estrearam em 2018.
E não só 2018, mas também o ano de 2019 representou um destaque para o universo dos podcasts. “Em 2019, o Spotify resolveu colocar podcasts dentro do aplicativo. E isso foi muito forte, realmente revolucionário. (…) Tem um outro marco no Brasil que é a TV Globo lançar podcasts”, conta Alpendre.
Desta forma, é possível observar três grandes pontos marcantes, como aponta Guilherme: “o Spotify entrar no mercado e a TV Globo entrar no mercado são marcos muito importantes. Depois, um terceiro marco é ‘A Mulher da Casa Abandonada’, menos para o meio como um todo e mais para o formato documental narrativo”.
Dentro do eixo investigativo narrativo, é interessante observar a diversidade de tópicos tratados. “Existe uma conexão entre podcast e true crime. (…) As plataformas nos procuram para sermos produtores de projetos que sejam sobre crime. (…) Então, crime certamente é um tema que as pessoas buscam bastante em podcasts”, aponta Guilherme.
O termo “true crime”, ou em tradução livre, “crime verídico” é um gênero que aborda casos criminais que envolvem sequestro, assassinato, casos de serial killers e que são narrados de forma a serem detalhados e analisados.
Por fim, Guilherme recomenda algumas produções: “Radio Ambulante”, um podcast em espanhol que publica histórias sobre a América Latina, “This American Life” da Rádio Pública Americana, “99% Invisible”, podcast produzido e criado por Roman Mars sobre design, “Rádio Escafandro” de Tomás Chiaverini, o qual em cada episódio é apresentada uma investigação jornalística e por fim, uma indicação especial do programa “Rádio Novelo Apresenta”, da Rádio Novelo.
