Por Juliana Allevato

No fim de janeiro, a tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, completou 10 anos e foi resgatada pela Netflix, que estreou no dia 26\01\23, uma série baseada no livro da autora Daniela Arbex “Todo dia a mesma noite”.

A minissérie brasileira com direção de Júlia Rezende narra em cinco episódios, de maneira fictícia, a história real do dia do incêndio. 

A dor dos pais das 242 vítimas e toda a imprudência que causou o fogo, assim como os desdobramentos da investigação policial desse caso que até hoje continua sem punição para os culpados, também ganham espaço na nova produção nacional.

Para dar voz a essa história, a série conta com um elenco de peso. Entre os atores,Thelmo Fernandes, que tem mais de 28 anos de carreira e já fez papéis notáveis na televisão, como o sargento Alves em Tropa de Elite e capitão Botelho em Sob pressão, e interpreta um dos papéis principais da nova série da Netflix.

Thelmo é Pedro, pai de Marienne (Manu Morelli). Os nomes das vítimas foram preservados na série, mas, na verdade, Pedro e Marienne são, na vida real, pai e filha, Flávio da Silva e Andrielli da Silva, respectivamente. 

Cena em que Pedro (Thelmo Fernandes) reconhece o corpo de Marienne (Manu Morelli) no estádio de Santa Maria.|créditos: Netflix.

A jovem, que preferia ser chamada de “Andri”, havia acabado de completar 22 anos. 3 dias depois, foi à boate de Santa Maria comemorar o aniversário com as amigas e, infelizmente, não resistiu devido a alta quantidade de fumaça tóxica inalada. 

Segundo o ator, esse é um dos trabalhos mais importantes da sua carreira. 

“Não só artisticamente, mas porque dá voz a uma grande injustiça da nossa história. Uma parte muito dolorosa”, explica.

O intérprete de Pedro fez uma das cenas que foram o ponto chave da série, e foi bastante comentada pelos internautas, que elogiaram a atuação do ator. 

“Aqui começa o maior ato de dedicação e veracidade da dor de um pai, representado de forma esplêndida pelo Thelmo Fernandes. Todos que viram de forma tão gráfica choraram juntos com todas as cenas dele”, comentou uma telespectadora nas redes sociais. 

Trata-se do momento em que Pedro vai ao estádio de Santa Maria e reconhece o corpo de Marienne através do sapato, que tinha ganhado de aniversário dos pais. 

Em entrevista, Thelmo relembra a emoção de gravar essa cena e diz que foi a mais difícil de ser gravada. “Eu sabia o que tinha que ser feito, eu estava focado e foram dois dias de preparação intensos. A sensação foi de ter corrido uma maratona”, comenta sobre a exaustão emocional que o roteiro lhe causou.

Na mesma semana da estreia, a série atingiu o primeiro lugar no ranking mundial de séries mais assistidas. 

A visibilidade que a produção ganhou chegou a dividir opiniões, mas foi recebida de maneira muito positiva pela maioria dos pais das vítimas. 

Isso porque, mesmo após uma década em que o incêndio aconteceu, ainda persiste a luta pela condenação dos responsáveis pela tragédia. 

A série, inclusive, mostra a atuação incansável desses familiares nesses dez anos, que se organizaram em uma associação, a AVTSM (Associação dos Familiares de Vítimas da Tragédia de Santa Maria), em fevereiro de 2013, com o intuito de manter viva na memória nacional essa tragédia e buscar por justiça. 

Thelmo, que esteve em Santa Maria depois do fim das gravações, conta que os parentes se sentiram muito gratos pela série estar no ar. 

“A série de ficção tem uma função muito clara e que funciona, porque ela tira o olhar distanciado do telespectador e coloca ele como centro daquela ação. De certa forma, ele tá ali, dentro daquela boate, indo com os pais brigarem no tribunal. Então, nesse momento ela (a série) tem sido muito importante para essa luta”, comenta o ator. 

“Por memória, por justiça, que não se repita”. Essa frase está presente na sinopse da série e ressalta não só a intenção da autora, cujo livro inspirou a série “Todo dia a mesma noite”, ao trazer esse caso em evidência novamente, como também revela a arte como forte aliada em denunciar um crime que é fruto do descaso e da impunidade que assolam as leis brasileiras. 

A passividade perante as autoridades diante um incêndio que interrompeu 242 vidas precisa ser questionada e a série cumpriu esse papel muito bem. 

Um comentário em ““Todo dia a mesma noite” um relato forte, porém necessário

  1. Impressionante a matéria. Fez atualizar aquelas dramáticas imagens que foram transmitidas à época. Não consigo mensurar tamanha dor. Entretanto, minha aposta é de que a Arte pode oferecer certa catarsis, ainda que mínima, para familiares, amigos e toda essa Nação que aguarda e reclama Justiça. Sem anistia. Vou conferir a série.

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