Conheça o cantor e saiba o que esperar do fenômeno do pop brasileiro em 2023
Por KEVILIN ALVES

João Vitor Romania Balbino, mais conhecido como Jão, é um cantor e compositor brasileiro de 28 anos. Nascido numa cidade do interior de São Paulo, chamada Américo Brasiliense, iniciou sua carreira musical fazendo “covers” no YouTube em 2016. No ano seguinte, lançou seu primeiro single chamado “Dança Pra Mim”, em parceria com Pedrowl, mas foi em 2018 que atingiu o sucesso nacional com o lançamento de “Imaturo”.
Mais tarde, no mesmo ano, os fãs deram as boas-vindas ao primeiro álbum de estúdio do cantor: Lobos. Cantando sobre ser “fraco, frágil e estúpido para falar de amor”, alcançou o topo das paradas musicais com um álbum que, segundo o mesmo, expõe suas inseguranças, medos, bebedeiras e toda a confusão que faz parte da vida de um jovem. Jão deixou claro esse fato em uma carta aberta aos fãs, publicada em suas redes sociais.
O álbum seguinte, “Anti-herói”, traz músicas como “Você Vai Me Destruir” e “Triste Pra Sempre”. A voz arrastada, ao estilo de uma sofrência pop, cativa os fãs ao longo de todas as dez faixas.
Se o primeiro abordava as questões internas de Jão, o segundo é sobre um relacionamento que viveu. Ele declara que gostaria de ter feito uma produção animada que pudesse tocar nas rádios, mas, devido ao que passou em sua vida, esse é “sobre amor no sentido mais cruel da palavra”. “Anti-herói” alcançou a marca de 1,6 milhão reproduções apenas no primeiro dia de lançamento e se tornou a quarta melhor estreia para um álbum pop no Spotify.
Apesar de, até então, já estar construindo uma carreira de sucesso, “Pirata”, seu terceiro álbum de estúdio, chegou em todas as plataformas de streaming em outubro de 2021 e coroou Jão como um dos principais nomes do pop brasileiro. “Idiota”, um de seu hits, ganhou um clipe que coleciona mais de 30 milhões de visualizações no Youtube, com referências a clássicos como “10 Coisas que Eu Odeio em você”, “Titanic” e “Homem-Aranha”.
Em 2022, a Turnê Pirata rodou o país e teve início no Rio de Janeiro. A estrutura das apresentações contava com um barco, elemento marcante quando se fala da turnê. No âmbito internacional, contou com três shows com ingressos esgotados em Portugal. Segundo Mauro Ferreira, crítico musical que possui coluna no G1, “além das músicas, o cantor vem investindo dinheiro em shows bem produzidos do ponto de vista técnico”.
Álbuns aclamados, vendas esgotadas e músicas famosas são algumas das coisas que o cantor está acostumado. Mas o que está por trás dessa fama? Porque Jão conquista tantos fãs?
Música para expressar sentimento
A música vem sendo produzida em escala industrial, principalmente com o advento das redes sociais. A prioridade se torna uma batida que possa viralizar com alguma coreografia para vídeos curtos. A letra é colocada em segundo plano. Jão, no entanto, sempre deixou claro desde o início de sua carreira que, para ele, a música é uma forma de externalizar o que sente independentemente do que a indústria esteja vendendo. Isso, para os fãs, é fundamental, como afirma Isabella Chineri, que acompanha o cantor desde 2017. “Gosto como ele é sincero em relação aos sentimentos. Ele não tem medo de demonstrar que é frágil e sofre”.
Visão que vai ao encontro de uma análise profissional, já que Mauro comenta que “Jão faz suas músicas revelarem que ali há um artista de verdade, e não somente um produto viral sem identidade. Falar de sentimentos não é coisa do passado”.
Dialogando com uma geração que gosta de ouvir sofrência, mesmo que às vezes cante sobre seu “amor bandido”, esse é o foco das composições. Mas, como é um homem assumidamente bissexual, a representatividade o acompanha em suas letras – tanto de forma explícita como em “Meninos e Meninas”, quanto implícitas como em “Lindo Demais”. E isso é algo que conta a seu favor, já que “se posicionar politicamente no mundo de hoje é quase obrigação para um artista”, diz Mauro.

Inspirado em Cazuza, é nítida a liberdade do cantor ao levantar bandeiras e incentivar os jovens a serem autênticos sem medo em seus shows. Para Isabella, que também é uma jovem bissexual, ver o ídolo cantando sobre isso é importante – já que a própria comundade LGBTQIA+ por vezes pratica preconceito ao invalidar a bissexualidade. “É incrível ver alguém que admiro e com a importância que ele tem cantando sobre algo que vivencio”.
Jão foi alvo da invalidação de sua sexualidade ao ser acusado por internautas de praticar “queerbating” – termo que se refere à apropriação da causa LGBTQIA+ para fins lucrativos ou de popularidade – por beijar um homem no clipe da música “Não Te Amo”. Porém, as críticas não foram o suficiente para abalar o sucesso do artista, que se manteve nas paradas. “Ele transita mais pelo universo da sofrência, onde héteros, homos e bissexuais são iguais no jogo do amor”, pontua Mauro.
A legião de fãs que o acompanham são ativos e o cantor faz questão de valorizar isso. É comum ver tweets como “saudades de vocês” e “estava pensando em vocês” em seu perfil oficial. Isabella já o encontrou pessoalmente e diz que o Jão é atencioso sempre que possível. “A relação que ele criou com a gente é muito próxima. Parece até uma velha amizade”.

Com o estouro de sua carreira e de seu disco mais recente, prêmios como Troféu Imprensa, Troféu Internet de melhor cantor de 2021 e o MTV Miaw Brasil de melhor álbum do ano entraram para a coleção. No prêmio Multishow, foram seis indicações e uma apresentação que contou com o barco de sua turnê no palco e as músicas “Meninos e Meninas” e “Idiota” ganhou destaque. E com direito a iluminação que refletiu as cores da bandeira bissexual no navio e chamas assim que se encerrou.
Cantor premiado e público cheio de expectativas
Indicado a “Melhor Álbum de Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa” com “Pirata”, e “Melhor Canção em Língua Portuguesa” com o hit “Idiota”, fez sua estreia no Grammy Lantino 2022, uma das mais importantes premiações musicais do mundo. Além de ter sido o único brasileiro a performar no Premiere do evento.
A edição de 2022 dos festivais Lollapalooza e Rock In Rio também contaram com a presença de Jão e seu público que canta incansavelmente todas as canções. As músicas de seu ídolo Cazuza fizeram parte dos setlists. A multidão pôde cantar “Codinome Beija-Flor”, “O Tempo Não Para” e “Exagerado” junto a ele e sua equipe.
Com a carreira em ascensão e eleito o “Homem do Ano na Música” pela revista GQ Brasil, o próprio artista descreve 2022 como o melhor ano de sua carreira. E, com o início do ano, as pessoas já começam a se questionar sobre o que devem esperar do “menino do interior” em 2023.

O encerramento da Turnê Pirata ocorreu num show gratuito para mais de 50 mil pessoas realizado no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Jão, acompanhado de sua banda e backing vocals, cantou uma composição inédita que traz no suposto refrão o trecho “eu não preciso te dizer, eu posso ser como você”. Agitando a internet, os fãs fazem uma ligação e consideram a música como uma resposta a “Eu Quero Ser Como Você” – faixa do álbum “Lobos”.
Para levar à loucura todos os seus admiradores, anunciou também uma turnê para esse ano e, com a carreira alcançando outro patamar em 2022, há uma certeza: realizará pelo menos um show no estádio Allianz Parque.
Quem segue o cantor já está acostumado a receber spoilers de suas músicas pois ele posta alguns trechos que está produzindo, como foi o caso da frase “eu fui a tua vida e agora sou lembrança”, de “Não Te Amo”. No dia 09 de janeiro, Jão disse em seu Twitter que estava masterizando sua primeira música após o último disco. Quatro dias depois, postou a frase “não é porque eu te odeio que eu não posso mais beijar tua boca”.
A primeira edição do festival The Town acontecerá em São Paulo dentre os dias 2 e 10 de setembro. Jão foi anunciado como uma das atrações principais do Palco The One. “É incrível ver aonde ele chegou com ‘Pirata’. O álbum foi um divisor de águas”, comenta Isabella.
Na espera de novos singles e possivelmente um novo álbum em 2023, os fãs já começam a se preparar para mais uma era do cantor. Isabella acredita que na próxima produção o ídolo pode ser “mais livre e experimentar novos sons e estilos”. O que não seria um problema pois, segundo Mauro, ainda que não atinja o patamar do último disco, Jão segue com seu público cativo. “Já imprimiu seu nome na música pop brasileira”.
