Por Laura Hirata Vale
“Dia de luz, festa de sol”, cantou Nara Leão. E era essa música que você cantava, sentada na varanda do apartamento. Era um dia quente, ensolarado, úmido, daqueles que dão a impressão que uma grande chuva iria cair mais tarde. Não havia nenhum “macio azul do mar” por perto. Mas havia um grande e luminoso céu, que chegava a ofuscar o olhar. Não havia nenhum barquinho deslizando pelo mar. Mas havia alguns aviões, passando de lá pra cá.
A avenida do prédio tinha um grande movimento para o meio de janeiro. Mas, mesmo nesse barulho todo de carros, motos e caminhões, havia um certo sentimento pacato no ar. Você contemplava o movimento, criando histórias para cada automóvel que passava. O que será que essas pessoas estão fazendo? De onde vêm? Para onde vão? Será que estão de férias? Ou será que estão trabalhando? Eu podia adivinhar que era isso que se passava na sua mente.
Você admirava a paisagem urbana. Os prédios a sua volta. As poucas piscinas que via ao seu redor. Por morar em um andar alto, você podia observar muitos momentos de sua varanda. Ah… como queria uma piscina para se refrescar. Pelo menos, nesta tarde, ventava um pouco. Alguns dias, não havia vento nenhum. Nem rajada, nem brisa, nem sopro de ar. Somente a atmosfera parada, estática, sem se mover.
Após um tempo, você parou de observar a rua. Começou a refletir sobre outros assuntos. “Tudo é verão, e o amor se faz”, disse Nara. O que seria o amor? Um sentimento? Uma arte? O próprio verão? Uma pintura? Um pensamento? Amor é algo bonito, mesmo tendo diversas formas, chegou à conclusão.
Em sua varanda, pensava na vida; pensava na alma; pensava nas férias, no trabalho que estava por vir. Pensava no descanso, no calor, no sol. A tarde ia caindo, o sol ia se pondo. A chuva que pensava que ia cair ao pôr do sol, acabou não caindo. Devia vir lá pelas oito da noite. Então, você chegou à conclusão de que nesse instante, em sua varanda, estava sentindo “uma calma de verão”.
