Laura Calze Sipoli

Quatro quilos e meio é o peso da criatividade, sucesso e das horas de trabalho duro dentro de um set de filmagem, segurado pelas mãos dos ganhadores como um troféu. O Oscar, maior premiação do mundo do cinema, é apenas uma das possíveis formas de recompensa pela excelência em um trabalho do audiovisual.

Estatueta Oscar

O Globo de Ouro, outra premiação anual, é a cerimônia de maior peso da crítica, motivo de orgulho entre os vencedores. Apesar de seu sucesso no mundo cinematográfico, as polêmicas e deslizes envolvendo as premiações levantam sérios questionamentos sobre o merecimento das estatuetas e da forma como são liderados os programas.

Em 1944, estreou na televisão americana o “Golden Globe Awards” no formato de um jantar no hotel Beverly Hilton com as maiores celebridades que o mundo dos artistas pode premiar. Desde então, no início de cada ano, as grandes estrelas nomeadas se reúnem e aguardam o veredito dos 87 votos dos críticos membros da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (AIEH).

No entanto, as honrarias do Globo de Ouro estão cada vez mais decadentes entre os famosos que, desde de 2021 vê sua audiência decair em decorrência dos questionamentos sobre os indicados ao prêmio.

Estatueta Globo de Ouro

  Logo após, surgem denúncias de suborno para os membros da AIEH, como na nomeação de Emily em Paris que, na época das gravações, ofereceu a 30 jurados uma viagem de luxo ao set, despencando a credibilidade da nomeação. Além disso, a associação não possui diversidade dentre as cadeiras de voto, que não contam com nenhuma personalidade negra entre elas.  

Na perspectiva da estudante de audiovisual, Ana Beatriz Schmitt, “o pior impacto que uma premiação corrupta pode ter é quanto às pessoas que estão estudando e produzindo conteúdos na área porque eles vão usar aquilo como referência…se aquilo não representa a nata, o seu repertório é equivocado”, fator que agrava ainda mais a indústria, pois os estudantes como futuro das produções, têm suas bases manipuladas. Schmitt completa : “A falta de diversidade torna as narrativas cansativas. Se você sente que é mais do mesmo e não se vê representado naquilo que consome, você não se sente parte daquela sociedade.”

Já em 10 de janeiro de 2023, a 80ª edição do Globo de Ouro fez menção em ser mais diversa, colocando Jerrod Carmichael, comediante negro, para apresentar a cerimonia, que não perdeu tempo em criticar seu papel no local:  “Em um minuto, você está fazendo chá de menta em casa. No próximo, você é convidado a ser o rosto negro para lutar contra uma organização branca”. Segundo a estudante, essa organização continuará existindo: “Quando as cadeiras forem trocadas, quem vai entrar no lugar são os discípulos deles são pessoas com uma perspectiva fílmica muito parecida”.

Jerrod Carmichael, Golden Globe Awards (Vanity Fair)

Além das críticas dos participantes, rostos famosos da indústria se recusam a participar da premiação, como Scarlett Johansson, a protagonista Viúva Negra em filmes da Marvel, chama o evento de “fachada” e critica os integrantes da AIEH. Tom Cruise, famoso ator americano, chegou a devolver suas três estatuetas em protesto ao processo de votação e funcionamento da organização dos jurados que Schmitt chama de “monarquia da indústria cinematográfica”

O mesmo efeito vem ocorrendo com as outras premiações que, apesar de terem sua audiência afetada pela pandemia, já vinha decaindo há muito tempo. Ainda em 2015 o Oscar sofria ataques que criticavam sua falta de diversidade com a hashtag #OscarsSoWhite, e sofreu boicotes de atores como Mark Ruffalo e Will Smith. Em março de 2022, o famoso tapa de Will Smith no apresentador dos prêmios, Chris Rock, após uma piada enfadonha sobre sua mulher, gerou 25 vezes mais buscas do que o filme vencedor, evidenciando a decadência das nomeações perante o público, em um evento que já sofria com a queda de audiência.

Quantidade de brancos em comparação a de negros nominados (Houston Forward Times)

Não foi diferente com os Grammys, que sofreram acusações de artistas como The Weeknd em seu  desabafo nas redes sociais: “Os Grammys continuam corruptos. Vocês devem transparência a mim, meus fãs e a indústria.”, após seu álbum After Hours, um dos mais ouvidos em 2020, não entrar para as indicações.

A próxima premiação do Grammy, em 5 de fevereiro de 2023, já conta com o boicote de quatro cantores de renome: o rapper Drake, os astros pop Bruno Mars e The Weeknd e a dupla Silk Sonic, que não se inscreveram na premiação. Apesar de alvo de críticas, o evento ainda conta com a presença de Adele, Beyoncé, Doja Cat, Harry Styles e outros artistas queridos pelo público.

Já a 95ª edição do Oscar, em 12 de março de 2023, e dessa vez conta com nomes de representatividade internacional, como Michelle Yeoh, atriz coreana protagonista de “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”, e indica filmes como “Pantera negra: Wakanda para sempre”, filme da Marvel de protagonistas negros, buscando ressuscitar seu público mais jovem e atento as injustiças. O processo vêm sendo aderido cada vez mais pelas premiações clássicas. Mas, de acordo com Ana Beatriz, “para quem quer produzir arte e tem uma mensagem para passar, o que vale é o público que elas querem atingir e não a premiação”.

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