Por Beatriz Pagani

“Quinze segundos. Esse é o tempo necessário para mudar completamente tudo o que você conhece sobre uma pessoa. Quinze segundos.” – ‘É assim que acaba’; Colleen Hoover.

Nascida em Saltillo, Texas, Colleen Hoover não sabia que se tornaria a autora do maior best-seller de 2022, ‘É assim que acaba’(It ends with us). Conhecido por ser seu romance mais singular, o livro tem como temática a violência doméstica e o assédio psicológico. O mais surpreendente é que o enredo é baseado na vida da própria autora, uma vez que sua mãe foi vítima de violência pelo próprio marido.

Na obra, Lily acaba de se mudar para Boston, onde se forma em marketing e abre a própria floricultura. Nessa mesma cidade, a protagonista conhece um neurocirurgião, Ryle, com uma grande repulsão a relacionamentos, mas que se sente atraído por ela. Entretanto, quando já estão em um namoro, as coisas não são como Lily imaginou que seriam.

É inegável que o reconhecimento da autora, além da universalidade de temas abordados em suas obras, veio pela rede social mais usada dos últimos anos, o Tik Tok. Durante a pandemia, a produção de conteúdo no nicho voltado para livros da rede, o BookTok, sobre ‘É assim que acaba’ foi tão exorbitante que a hashtag com o nome de Colleen Hoover ultrapassa os três bilhões de visualizações.

A influência do Tik Tok

Amanda Moya, 19, graduanda em Design de Moda pela UTFPR de Apucarana afirma enfaticamente que os booktokers – produtores de conteúdo literário no Tik Tok – trouxeram muita visibilidade à autora. Depois de muito ouvir falar, a estudante teve sua curiosidade despertada e comprou um box de livros da autora, o qual incluía ‘É assim que acaba’, ‘Novembro 9’ e ‘Tarde demais’. Ela não leu este último, mas deixou claro que comprou o conjunto por influência do conteúdo produzido na rede social.

Moya diz que a leitura de ‘É assim que acaba’, para quem gosta de romance, é gostosa, rápida e tem um enredo interessante e cativante. Quanto a ‘Novembro 9’, Amanda comenta que os personagens têm os mesmos traços de personalidade dos personagens de ‘É assim que acaba’. “Você percebe que os personagens têm as mesmas características, os mesmos traços tóxicos de ‘É assim que acaba’. Só que ela não tem essa parte da realidade (da violência doméstica e do abuso psicológico) para resguardá-la, vamos dizer assim”. A estudante afirma que a história em si é bem problemática e que os autores devem ter muito cuidado com o que eles escrevem, por causa de pessoas que já passaram por isso ou se encontram nessa situação de fragilidade emocional.

“Gosto dos livros da Colleen, acho que ela tem uma escrita boa, ela sabe te prender, ela sabe desenvolver os personagens principais(…), mas tem esse adendo, tem que ter esse pequeno cuidado”. A influência do Tik Tok nas escolhas literárias, contudo, não envolveu apenas Amanda.

Luana Brusiano, 19, assim como Moya, conheceu os livros da autora pelo Tik Tok. A estudante de Jornalismo já leu ‘É assim que acaba’, ‘É assim que começa’ e ‘Verity’. Ela faz considerações iniciais sobre a escrita de Colleen e a edição dos livros, elogiando-os, respectivamente, composta por um vocabulário simples, tranquilo de ler e com uma boa diagramação. A estudante fala, em seguida, sobre ‘Verity’, uma trama romântica com suspense, a qual agradou-lhe bastante. “Foi o único livro dela que realmente me prendeu”.

Contudo, ‘É assim que acaba’ não foi de seu apreço. “É um livro que é um romance clichê como qualquer outro”. Brusiano diz que a temática dessa obra, por ser sobre violência doméstica, não a agrada. Ela comenta que a situação foi banalizada e, o relacionamento, romantizado. “O agressor não foi penalizado em nenhum momento do livro. Ele nunca foi punido legalmente.” Luana afirma que a obra pode acabar incentivando as vítimas de qualquer tipo de violência a não procurar por ajuda. Quanto à sequência da obra, ‘É assim que começa’, a estudante diz que não foi impressionada. “Nada inovador”.

Luana encerra elogiando, mais uma vez, a escrita cativante da autora. Porém, evidencia que ela deveria ser mais cautelosa quanto à forma de abordar os temas presentes no livro, os quais podem ser gatilhos para pessoas sensíveis se não tratados apropriadamente. “Particularmente, considero a Colleen Hoover superestimada, porque ela tem livros com histórias boas, mas eu acho que às vezes falta um desenvolvimento, elas não são tão bem desenvolvidas. Às vezes elas se transformam em algo muito banal”.

Sobre Colleen Hoover

Colleen Hoover fez faculdade comunitária no Texas, estado onde nasceu e foi criada, e trabalhou como assistente social. A vida como escritora começou em 2011, quando passou a distribuir trechos que vinha escrevendo para amigos e familiares. Com o incentivo de sua chefe, Stephanie Cohen, Hoover autopublicou o livro ‘Métrica’ (Slammed) na plataforma da Amazon no ano de 2012. A partir disso, os números de vendas e visualizações só cresceram.

Depois de vender dois livros para a editora Atria, Hoover voltou a usar a plataforma de autopublicação para ‘Um caso perdido’ (Hopeless) e ficou em primeiro lugar na lista do New York Times. Este foi o primeiro livro autopublicado a alcançar tal efeito e, a partir daí, viriam mais livros e mais reconhecimento. Seus livros são associados às categorias New Adult e Young Adult.

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