Engana-se quem acredita que sair da casa dos pais é tão fácil como parece
Por Clara Sganzerla
Há quem diga que uma das maiores felicidades é ver seu nome na lista de aprovados do vestibular. Depois de meses (ou até anos) de esforço, dedicação, ansiedade e algumas noites sem dormir, a sensação de gratificação que enche o peito após passar na universidade dos sonhos é indescritível – mas, às vezes, dura pouco. A aprovação também traz, para muitos, novas responsabilidades de um capítulo que está por vir: o início da vida adulta.

Para Ana Vitoria Rabuka, 20 anos, estudante de medicina da USP, o começo não foi nada glamuroso. Morando a 1.733km de distância de sua cidade natal, Ana trilhou um caminho não tão fácil até se sentir em casa novamente morando fora, mas afirma que as amizades que fez na cidade facilitaram muito o processo. “Eu nunca tinha morado sozinha e foi um pouco difícil no começo. Foi a minha primeira vez conciliando casa, estudos e tomar conta de mim ao mesmo tempo”.
Limpar a casa, lavar roupa, pagar aluguel, cozinhar, adaptar-se à nova rotina e ainda conseguir cumprir com as obrigações da faculdade não é uma tarefa simples, e é mais do que comum sentir-se perdido no início do primeiro ano. Ana relata que caiu de paraquedas em Bauru, cidade onde mora atualmente, e passou também por alguns perrengues, como quando esqueceu de pagar a conta de energia e passou dois dias no escuro.
Com ou sem emoções, toda experiência tem um lado bom. Jade Calesco, aluna de Engenharia Química da UFSC, assegura que a melhor parte de ter ido morar fora de casa foi a liberdade. Ela expõe uma perspectiva muito boa de mudar-se: a possibilidade de construir uma vida do zero, totalmente de acordo com as suas vontades, gostos e obrigações. “Todas as experiências te fazem ter cada vez mais visão de vida e crescer, até porque você está constantemente fora da sua zona de conforto”, afirma a paulista que atualmente divide apartamento com sua amiga Gabi, em Florianópolis.

Em mais um perrengue da vida adulta, Jade conta que teve muita dor de cabeça ao adquirir eletrodomésticos usados. O forno do fogão que compraram não funcionava e a geladeira teve que ser trocada pois não era o modelo que tinham visto no site – o que virou seis dias sem o refrigerador. O lado bom dessas experiências é que ela nunca estava sozinha: “Dividir casa com alguém pode ser muito complexo e difícil, mas dou graças a Deus que nós sabemos nos entender, somos ambas responsáveis, maduras e organizadas. Procurei uma roommate e a Gabi, sem sombra de dúvidas, já virou família”.
E para além dos muros de condomínios e prédios, existem diversas outras alternativas para quem não tem condições de morar só. Juarez Tadeu de Paula Xavier, vice-diretor da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, explicou um pouco mais sobre os auxílios que a faculdade oferece para os alunos com vulnerabilidades.
Segundo Juarez, há a Moradia Estudantil, o Restaurante Universitário, o auxílio socioeconômico voltado para estudantes com rendas muito baixas, o auxílio aluguel quando não há vagas disponíveis na Moradia, o auxílio alimentação e, em casos excepcionais, há um auxílio especial – uma composição de auxílios para atender as necessidades do aluno. O vice-diretor também destaca que todos os auxílios são previstos pela legislação, e é ela que define os critérios de concessão e os valores de quem pode ter acesso à essa política.
E para você que quer ter a experiência universitária completa, é impossível não citar a opção de morar em república. Tatiane Andrade, presidente da Liga das Repúblicas de Bauru, confirma que há uma média de 40 repúblicas na cidade. A estudante de fonoaudiologia da USP recomenda a vivência pela oportunidade de conhecer pessoas de fora da sua faculdade, por criar responsabilidades e ainda ganhar uma segunda família – tudo isso de acordo com sua própria vida, já que ela mora com mais oito meninas na República Olimpo.

Já saíram alguns dos resultados das maiores universidades do estado de São Paulo, e quase 60 mil alunos que realizaram a 2ª fase dos vestibulares aguardavam ansiosamente a lista de aprovados. Para aqueles que passarão a ser, oficialmente, calouros, uma boa sorte; e para aqueles que tentarão mais um ano de cursinho atrás do sonho, o desejo é outro: muita força e resiliência, vocês estão quase lá.
