Por Daniela Moraes Bianchezi

  O BBB, Big Brother Brasil, é a versão brasileira do reality show criado pela produtora holandesa Endemol. No entanto, pode muito bem ser considerado um show inspirado no livro 1984 do escritor inglês George Orwell. 

Em sua obra, ele imagina um futuro hipotético em que um agente superior chamado “Big Brother” é o cabeça de um sistema de vigilância constante da sociedade, que é vigiada por câmeras 24 horas por dia. Desde a sua estreia o programa escolhia homens e mulheres humildes e dava a eles uma chance de mudar de vida. O melhor jogador, aquele que conseguia driblar os jogos psicológicos, artimanhas e formar as melhores estratégias, ganhava o programa e levava para casa o prêmio de 1 milhão e meio de reais. A fim de mudar de vida com o programa, os participantes davam o sangue e se esforçaram, sem se preocupar com o que era dito, apenas vivendo o jogo intensamente, 100%.

Com o passar dos anos, o prêmio passou a ser menos atraente. Ora, é claro que um milhão e meio não vale hoje o mesmo que valia há 23 anos atrás, até porque, se você se tornar querido pelo público, você tem mais chances de firmar contratos publicitários e papéis em novelas, o que rende muito mais do que míseros um milhão e meio. 

Foi o que aconteceu com a participante Grazi Massafera do BBB 05, que não levou o prêmio, mas teve sua vida transformada após assinar contrato com a rede Globo e se tornar atriz de novela devido a sua alta popularidade.

Com a era dos BBB pipoca e camarote, a presença do assunto nas mídias sociais e a intenção de se tornar uma “Grazi Massafera”, o programa perdeu seu sentido. A vinda dos famosos apenas atropelou e modificou a intenção dos participantes. Alguns, ameaçados pela fama já existente dos camarote planejavam estratégias contra os famosos; outros ficavam perto, acreditando que garantiriam parte dos fãs da celebridade e alguns apenas coexistiam, sem nenhum problema. 

Fato é que após o sucesso estrondoso do BBB 20, o programa tentou repetir seu feito e lançou as seguintes edições com pipocas e camarotes, mas após o fenômeno da Juliette no BBB 21, mudou completamente a visão do que os participantes queriam como prêmio: a adoração do público e as oportunidades de contrato, a fama que perdura. 

  Daí o fiasco do BBB 22, em que os participantes não se importam com o prêmio, levantando até críticas dos internautas para que o prêmio aumentasse. A escalação da participante Jade Picon, por exemplo, é completamente inútil para o objetivo real do programa; ela é rica, tem a fama e a tão desejada adoração do público; e como a maioria dos camarote, aceitou o programa pela experiência, deixando claro que doaria o prêmio a instituições carentes. 

Mas qual é a intenção real do programa? Ser forte o suficiente para passar pelo desafio psicológico, jogando com determinação e daí a recompensa: o prêmio que pode garantir a melhoria de vida. Por que a vinda de pessoas só pela experiência e não para o prêmio? 

O cancelamento, como chamam os internautas, de participantes de edições passadas se tornou o maior pesadelo de qualquer brother. O desafio muda de forma: conquistar os fãs do programa, a adoração do público. É claro, pois ao conquistar o apreço do público tem-se mais chances de se tornar a próxima Juliette. A falta de determinação e o descaso com ganhar um milhão e meio tornou o programa, não uma competição, mas uma colônia de férias.

No BBB 23 foram apresentados os participantes e novas críticas foram levantadas: os pipoca foram apelidados de “pipocas gourmet”. O incrível sistema de seleção da rede Globo passou a escolher participantes pipocas que são médicos, enfermeiros, advogados, modelos e influencers. Onde estão as pessoas que realmente precisam do prêmio? Onde estão os catadores de lixo, os desempregados, os vendedores ambulantes, os atendentes? Onde estão as pessoas dispostas a enfrentar toda a vigilância e armadilhas e estratégias, arriscando seu futuro social – na onda do cancelamento – porque vale a pena? 

  Afinal, o jogo é duro e feito para esgotar os participantes. É quase uma realidade alternativa vivida somente pelos integrantes da casa. É claro que a experiência é válida mas não deveria ser a motivação principal, assim como a motivação não deve ser garantir seguidores e fãs querendo que, ao sair da casa, os contratos sejam despejados aos montes. 

O programa é feito para que as pessoas mostrem todas as suas versões e todos os seus lados. Fingimento não tem vez, inclusive as piores partes, as que arriscam em prol do bem próprio; o BBB não é uma casa de veraneio. Assim como o desejo dos criadores do programa: mudar a vida das pessoas com um prêmio alto em dinheiro. 

Porém, ao escalar pessoas que naturalmente não tem a necessidade de ganhar dinheiro, os organizadores tiram a emoção e a competitividade avassaladora que dá vida ao programa. Não parece valer a pena dar uma quantia tão alta a alguém que, de fato, não precisa ou não se importa.

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