“O que eu visto, eu vivo”, diz Bárbara Souza, influencer de Bauru
Por Samara Meneses
Passando por muitos fatores, a moda associa-se diretamente à necessidade humana de se expressar e refletir o que vive diariamente, marcando as mudanças de valores da sociedade através do tempo. A escolha de uma roupa, mesmo que inconsciente, possui inúmeros significados sociais, psicológicos e culturais para cada pessoa, tratando-se de uma ferramenta de expressão individual e social.
A modelo e influenciadora digital, bauruense, com quase 30 mil seguidores no instagram, Bárbara Souza – também conhecida por “Babi”- ressalta a importância da indústria da moda e cosmética como manifestação artística e social. “Eu expresso um pouco de mim ali, tudo o que eu visto, eu vivo”.
Contudo, ainda é difícil desmistificar a ideia de futilidade com relação ao setor, o que de acordo com Bernardo Camargo, ativista e criador de conteúdo digital sobre a transgeneridade, poderia ser mudado se as pessoas se sentissem representadas e participantes da moda, independente de seus corpos, sexualidades, gêneros e raças.

Bárbara Souza (Babi) em um ensaio fotográfico para a loja virtual Obsession — foto por “Leonardo Yamaguti”
A indústria da moda tem considerado o marketing de influência digital importante em suas estratégias de comunicação, confiando na autoridade e na audiência que esses profissionais conseguem atingir, não somente no setor de consumo, como também na criação de uma conexão com o público, trazendo à tona a importância da representatividade no meio publicitário.
A estudante de direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Mariana Nascimento, relata que durante sua infância tinha dificuldade de se identificar em campanhas publicitárias enquanto mulher preta. Para ela, “a representatividade faz com que as pessoas se enxerguem nas marcas, ao invés de se moldarem para as mesmas”.
A inclusão traz a possibilidade de dar autonomia, autoestima e confiança para indivíduos, considerados, “fora dos padrões”. A SPFW, de 2022, contou com a participação do estilista Walério Araújo, que fez questão de aproveitar o seu espaço para enfatizar a necessidade da moda inclusiva e consciente para pessoas com Hipertensão Arterial Pulmonar, uma doença rara e dificilmente diagnosticada. Pacientes com HAP tiveram a oportunidade de desfilar com peças inspiradas em uma “borboleta azul” (símbolo da campanha A Vida Merece um Fôlego), com enfoque na importância de serem vistos e admirados, não com pena, mas com respeito.
Da mesma forma, outras coleções e projetos estão sendo desenvolvidos no setor, como a Tommy Adaptive – coleção anticapacitista da marca de grife Tommy Hilfiger – e o projeto Sankofa, que também marcou sua presença, ativamente, na semana “fashion” mais famosa do país, e tem como objetivo discutir as relações étnico-raciais na moda brasileira.
Segundo o relatório Diversity Matters, divulgado em 2015 pela consultoria McKinsey Company, o rendimento de empresas que praticam a promoção da diversidade chega a entregar 25% a mais do que organizações não inclusivas, constatando que marcas que não aderem a esse percurso tendem a ficar para trás financeiramente. “Mesmo que o interesse seja apenas financeiro, é sempre bom ter a representatividade”, ressalta Bernardo Camargo.

Bernardo Camargo na exposição Sonhos de Liberdade, 11 de Dezembro de 2021 — foto por “Malu Ornelas”
Questionada quanto a importância da valorização e a conexão que consegue realizar com seu público, Bárbara afirma que “é muito bom sentir que eu estou trazendo um pouco de ‘olha, ela é igual a mim’, era com isso que eu queria trabalhar. Como eu já passei por situações racistas a minha vida toda, para mim é muito gratificante poder estar próxima das minhas meninas, tanto no meu trabalho de trancista quanto de influenciadora”.
A décima onda da pesquisa, “TODXS”, realizada pela Aliança sem Esteriótipos, da ONU Mulheres, analisou que em comparação com o ano de 2015 o percentual de mulheres negras em papéis de destaque nas propagandas de TV passou de 4% para 22% em 2020. O protagonismo, no entanto, continua sendo de mulheres brancas e magras, contando com cerca de 70%. “É uma questão de que agora começamos a falar e mesmo assim, na maioria dos trabalhos que sou chamada, é difícil ver outra menina negra, eu sou sempre a única. Além de inserir pessoas negras e indígenas nos espaços, é necessário tornar os ambientes mais confortáveis já que nunca estamos ali na mesma proporção. Está melhor do que antes, mas ainda é pouco. Não queremos esmola, mas sim igualdade”, acentua Babi.
